terça-feira, 3 de junho de 2014

A caminho do Brasil: o homem do apito


Diz-se que um arbitragem é perfeita quando não se dá pelo árbitro, e faz todo o sentido, pois apesar da equipa da arbitragem ser uma das três que evolui no rectângulo de jogo, o seu trabalho deveria limitar-se apenas a fazer cumprir as regras. Tal como as selecções de cada país, que levam aos campeonatos do mundo os seus melhores atletas, também a FIFA faz o possível para convocar a nata da arbitragem mundial. Contudo não são raros os casos onde na competição mais importante do calendário internacional são cometidos erros de arbitragem, alguns deles de bradar aos céus. Vamos recordar alguns deles.


Se errar durante o mundial é já considerado grave, pior ainda é quando se erra na partida decisiva, na final. Foi o que aconteceu no Inglaterra-Alemanha em 1966, a partida que decidia o título de campeão mundial. Com as equipas empatadas a dois golos, foi necessário recorrer a um prolongamento de 30 minutos, durante o qual os ingleses adiantam-se no "placard" aos 11, graças a um golo de Geoff Hurst, o seu segundo na partida. O problema é que o golo...não foi golo. Hurst corresponde a um cruzamento de Alan Ball na direita, surge no coração da área dos alemães, remata à baliza defendida por Hans Tilkowski, e a bola bate no poste, depois em cima da linha de golo, e volta jogável ao relvado de Wembley. O avançado inglês Roger Hunt levanta de imediato o braço sinalizando que a bola ultrapassou a linha de golo, e a defesa alemã faz o mesmo, mas no sentido contrário, e entre estes encontra-se o defesa Horst-Dieter Höttges, que cobre parcialmente a visão do lance. Contudo na repetição é possível ver que a bola não ultrapassa na totalida - nem em parte - a linha de golo, mas após o árbitro suíço Gottfried Dienst consultar o seu auxiliar, o fiscal-de-linha Tofik Bakhramov, do Azerbeijão (na altura URSS) valida o golo. Este é um lance ainda hoje matéria de debate, com os ingleses a garantirem que foi mesmo golo - só eles, lógico.


Uma das decisões mais complicadas para um juíz de uma partida de futebol fazer é apitar para intervalo ou para final da partida no decurso de um lance de ataque de uma das equipas. Pior ainda foi o que fez o árbitro galês Clive Thomas durante o encontro da 1ª jornada do Grupo 3 d do mundial de 1978 na Argentina, entre o Brasil e a Suécia. Com a partida empatada a uma bola, ,os suecos cedem canto, já nos instantes finais da partida. Nelinho vai cobrar o lance, e enqaunto a bola vai no ar o árbitro apita para o final do jogo, mesmo na altura em que Zico se eleva na área adversária e cabeceia para golo - passavam apenas alguns segundos do minuto 45 da segunda. Para o resto das explicações sobre o lance, convido-vos a ouvir o comentador brasileiro.


E agora para o prato principal, o golo que ficou para a História, e pouco importa ou não se foi ilegal - e foi - pois revela o génio do seu autor. Este é um daqueles crimes que não merece castigo. Decorria a partida entre a Argentina e a Inglaterra a contar para os quartos-de-final do mundial de 1986 no México. Os ânimos andavam ainda meio acicatados pela guerra das Maldivas, menos de quatro anos antes, e depois de uma primeira parte com ambas as formações a exercer cautelas, estudando-se uma à outra, eis que no sexto minuto da etapa complementar dá-se o caso do jogo, dos jogos, de tudo o que viria a seguir ao momento em que Maradona resolve decidir a partida em cinco minutos. O lance de toda a polémica começa numa "tabelinha" entre Maradona e Valdano, com o pequeno génio a ganhar nas alturas ao guardião Peter Shilton, empurrando a bola para a baliza com a mão. Era óbvio, até porque Shilton tem mais 18 cm que Maradona, e a bola vinha demasiado alta para que o guardião britânico lá chegasse, quanto mais o argentino. A verdade é que o árbitro tunisino Ali Bin Nasser validou a jogada, o que causou a indignação dos ingleses. Fala-se da "mão de Deus", mas se Deus teve algum papel nisto, foi ao sussurar no ouvido do juíz para que validasse o lance, quando o mundo inteiro viu que de facto a bola foi empurrada com a mão. E quatro minutos depois ainda estavam tão indignados que deixaram Maradona fintar metade da sua equipa, e entrar praticamente com a bola dentro da sua baliza. E aí não houve mão de que se pudessem queixar...


Um dos mundiais mais controversos em termos de arbitragens foi sem dúvida o da Coreia e do Japão em 2002. Na fase de grupos, na partida entre o Brasil e a Turquia, o brasileiro Rivaldo ganha o Oscar para melhor actor, ou em alternativa, o "razzie" para pior actor, tudo depende da perspectiva. Passavam quatro minutos dos noventa e o Brasil vencia por 2-1, e corria para esgotar o tempo de jogo de modo a garantir a vitória, com os turcos a jogar com dez unidades. O "escrete" ganha um canto, e Hakan Unsal, que já tinha um cartão amarelo, atira a bola na direcção de Rivaldo, para que este marque mais rapidamente o canto. A bola bate na coxa do craque brasileiro, e este atira-se para o chão segurando-se à cara. O árbitro sul-coreano Kim Young-Joo expulsa Unsal, perante protestos mais que justificados dos jogadores turcos, e a situação torna-se mais grave por tudo ter acontecido mesmo em frente ao auxiliar salvadorenho Vladimir Fernández. Rivaldo seria eleito melhor em campo, e ao mesmo tempo multado por conduta anti-desportiva.


Quem sairia mais beneficiado do grande circo dos enganos das arbitragens do mundial de 2002 seria a Coreia do Sul, uma das equipas da casa. Depois de terem sido beneficiados contra a Itália, quando o árbitro Byron Moreno lhes concedeu um "penalty" fantasma, que mesmo assim desperdiçariam, expulsou Totti injustamente e invalidou um golo limpo a Tomasini no prolongamento por morte súbita, nos quartos-de-final contra a Espanha seria o egípcio Gamal Al-Ghandour a invalidar dois golos aos espanhóis, que seriam afastados nos "penalties". Ambas as "roubalheiraqs" estão devidamente documentadas neste vídeo.


Em 2006 na Alemanha, na partida da fase de grupos entre a Croácia e a Austrália dá-se um momento quase surrealista: um jogador é expulso depois de ver três cartões amaraelos. O árbitro inglês Graham Poll aparentemente "esqueceu-se" de mostrar o vermwlho depois do segundo amarelo a Simunic, já em cima do minuto 90, e mesmo antes do apito final, quatro minutos depois, mostra um terceiro, por protestos do defesa croata, e este finalmente foi expulso. Já não fazia grande diferença, uma vez que a partida terminaria empatada a dois golos, com os australianos a qualificarem-se e os croatas a ficarem em casa, mas não deixou de ser um momento caricato. Quem não achou muita piada foi a FIFA, que mandou Poll para casa mais cedo.


Lembram-se de 1966, da primeira entrada deste "post"? Pois bem, 44 anos depois os ingleses vingar-se-iam do golo de Hurst que não entrou em Wembley, com outro de Frank Lampard que entrou em 2010, mas não valeu. Tudo aconteceu no Free State Stadium, em Bloemfontein, na partida entre os ingleses e osa alemães a contar para os oitavos-de-final do mundial da África do Sul. A Alemanha parecia dominar os acontecimentos, e chegaria ao 2-0 com golos de Klose aos 20 minutos, e Podolski aos 32. Mas os ingleses reagiram com um golo de Matthew Upson aos 37, e na jogada seguinte Lampard remata à baliza alemã, apanhando o guardião Manuel Neuer de surpresa, e aqui, tal como no golo de Hurst, a bola bate no poste e depois no chão, mas desta feita passa a linha de golo, o que é possível determinar após o primeiro visionamento do lance. Só que o árbitro uruguaio Jorge Larrionda pensou de outra forma, e invalidou aquele que seria o golo do empate. A Inglaterra viria a perder por 4-1, e dizia adeus ao mundial da África do Sul.

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