Terminou ontem a participação portuguesa no mundial do Brasil 2014, que se saldou numa eliminação na fase de grupos, com uma vitória, um empate, e uma derrota. Esta foi a terceira vez em seis participações que Portugal fica pela primeira fase da prova, e como em todas as vezes que participou numa fase final de um campeonato do mundo, sai com pelo menos uma vitória, que chegou apenas no último jogo contra o Gana, em Brasília, por duas bolas a uma. Sofrida, sofrida, esta vitória, arrancada a ferros. Se foi Portugal que mereceu ganhar o jogo ou se foi o Gana que mereceu perdê-lo é difícil dizer, mas a exibição esteve a nível da globalidade da participação portuguesa neste mundial: entre o sofrível e o medíocre - um progresso, uma vez que na estreia contra a Alemanha "miserável" é a única palavra que me ocorre para definir a prestação portuguesa. Com um arranque daqueles, quem podia esperar que Portugal chegasse longe neste mundial? A Espanha pagou o mesmo preço, porque haviamos nós de ser diferentes? Pelo menos os nossos vizinhos ibéricos tiveram a dignidade de perder e não andar a fazer figuras tristes. Perderam porque não estavam bem, enquanto nós continuamos com aquela maldita mania de que somos os maiores do mundo e arredores, e quando algo não corre bem existe uma conspiração maldosa para nos derrubar.
Por um lado foi uma pena Portugal ter saído tão cedo do torneio, por outro lado é uma alívio. Uma selecção que chega a uma prova destas que requer que todos dêm o máximo de si com aquela postura arrogante, e ainda faz a figura que fez, não merece mais do que isto. E foi lisonjeiro para as nossas cores, pois no futuro alguém vai olhar para aquela classificação e pensar que Portugal "teve azar" ao ser eliminado na pior diferença de golos. Se depois for um resumo dos jogos, especialmente dos dois primeiros, vai ficar a pensar como foi possível uma equipa como o Gana, que tão boa conta de si deu contra a Alemanha, tenha perdido connosco. Mesmo assim voltámos a denunciar aquela atitude que tantas vezes nos faz deitar tudo a perder. Após o golo do empate dos ganeses, precisávamos de marcar pelo menos quatro golos, enquanto ao nosso adversário bastava apenas um para terminar à frente dos Estados Unidos, e os jogadores portugueses pareciam irritados com aquela maldita persistência do Gana em não nos deixar levar a nossa adiante. Pareciam estar a dizer "epá saiam da frente que temos que marcar", esquecendo-se que do outro lado estava uma equipa com ainda mais hipóteses que nós, e que também queria ganhar. Este tem sido o "autismo" que tanto nos tem custado nos momentos decisivos: sentimos sempre que estamos a jogar sozinhos, e os outros só sabem atrapalhar.
No momento de apurar responsabilidades, a corda rebenta sempre para o lado do mais fraco: o treinador. Fiquei surpreendido com o anúncio de Paulo Bento, dizendo que vai continuar à frente da selecção. Eu no lugar batia com a porta, e sentia-me enganado. Não foram estes rapazes que disseram que "estavam bem", quer fisicamente, quer animicamente, estavam motivados, e mais aquelas tretas todas. Tinha o melhor jogador mundo, mas este nunca pode dar o seu contributo da melhor forma que sabe e pode, condicionado pelo joelho - uma novela que pareceu ter reflexos negativos no resto do grupo. Os restantes jogadores acima da média estavam num farrapo: João Moutinho esteve irreconhecível, Bruno Alves errou mais do que o habitual, Fábio Coentrão lesionou-se sozinho, Postiga e Hugo Almeida foram "para o estaleiro" e deixaram Éder entregue às feras, Nani teve garra mas faltava-lhe ritmo, Raúl Meireles pensou que o ar exótico ganhava jogos, Pepe perdeu a cabeça logo no começo e comprometeu o grupo, e o resto, enfim, foi o que se pode arranjar com o pouco que se tinha. Se alguma coisa me pedissem para apontar a Paulo Bento, talvez o facto de não ter apostado em Beto logo no jogo de estreia, e já agora não entendo porque chamou o Rafa. Para ir lá desaprender? Em suma, duvido que outro fizesse melhor.
Não têm nenhuma razão de queixa, os nossos rapazes. Foram bem tratados, foram acarinhados, tiveram tudo o que precisavam, desde os prémios de jogo em dia até 200 quilos de bacalhau, C. Ronaldo foi tão venerado por onde quer que passasse, que metia inveja aos Beatles, enfim, só não foram capazes de ser humildes, não respeitaram o "fair-play", deixaram-se levar pelo vedetismo, e agora...xixi, cama. Chegaram mal preparados, fisicamente debilitados, mal entrosados, e depois foi um chorrilho de desculpas para justificar a triste figura que nunca mais acabava. O provérbio popular que mais se adapta a esta selecção é "quando não se sabe dançar é porque a pista está torta". Vão de férias, meninos. Não porque mereçam, mas porque andam a precisar. Não esperem é ser recebidos com cânticos, loas e pétalas de rosa. Preparem-se para prestar contas. Quanto a nós, aqueles que ficaram de pé de propósito para assistir aos jogos de Portugal a horas indecentes podem ir agora na paz dos anjos, e os outros que gostam de futebol também ficam a ganhar, pois agora não precisam mais de se aborrecer. Já chega de "sofrer", e a palavra que melhor descreve esta participação de Portugal é essa mesmo: sofrimento. Não no sentido de "paixão, mas antes aquele mau, o doloroso.
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