terça-feira, 17 de junho de 2014

Nigéria-0 Irão-0



E aí está, Carlos Queiroz estreou-se no mundial! Mesmo quem não soubesse que o professor andava por terras brasileiros como selecionador de outro país, talvez conseguisse adivinhar, pois o "seu" Irão empatou 0-0 com a Nigéria - o resultado preferido de Queiroz. Foi também o primeiro nulo deste mundial, que vinha tendo uma média de mais de três golos por jogo. Imagino os comentários dos responáveis da FIFA: "lá vem o Queiroz estragar a festa outra vez". Mas não se pense que desta vez foi um mau resultado, pois os nigerianos estiveram "em cima" dos persas o tempo todo: mais remates, mais cantos, mais ataques, e pasme-se, 72% de posse de bola! Um Irão apenas 28% de bola é imagem de marca de Queiroz, que deve ter dito aos seus jogadores: "ai o meu 0-0, meus meninos, não partam a loiça". Nem entendo o porquê dos assobios, pois afinal dos nove jogos disputados pelo Irão, seis acabaram em derrotas. A canção favorita de Carlos Queiroz é do seu homónimo Paião, "Zero a zero", aquela que reza: "há zero a zero/há cem a cem/há zero a zero/está tudo bem". Empatar 0-0 é uma arte que não está ao alcance de qualquer um; requer uma ineficácia ofensiva, um finalização deficitária, passar a bola para trás, gastar substituições trocando jogadores da mesma posição uns pelos outros, tirar avançados e meter médios ou defesas, e tirar médios para meter defesas...epá, se lhe deixassem o Queiroz jogava com dois ou três guarda-redes.


Queiroz manda instruções para o relvado durante o Irão-Nigéria: "Epá tenham cuidado, que iam quase iniciando uma jogada ofensiva que podia ter resultado em golo! Cuidado com o meu 0-0, ah?"

Alguns dos 0-0 mais célebres de Queiroz incluem os dois na fase de grupos do mundial de 2010 contra a Costa do Marfim e Brasil, enquanto selecionador português, e ainda na fase de qualificaçãos dois 0-0 contra a Suécia, e aquela que é a peça mais rara da sua colecção: o 0-0 em Braga frente à Albânia, a 15 de Outubro de 2008. O jogo ficou célebre pela forma aguerrida com que Portugal não marcou, falhando golos atrás de golos, preservando assim este histórico nulo, que foi a única vez que não vencemos os albaneses. Para garantir que nada corria mal, Queiroz não deixou um único avançado no banco, fazendo entrar primeiro Nani e Quaresma para os lugares de João Moutinho e Danny, e depois Maniche para o lugar de Miguel, a "troca por troca", o "chover no molhado", o "não atrasa nem adianta" são os ingredientes essenciais para um bom 0-0. Desde que assumiu o comando da selecção iraniana em Abril de 2011, Queiroz já conseguiu sete 0-0, incluíndo dois na fase de preparação para este torneio do Brasil, contra a Bielorrússia e Montenegro, "cromos" que faltavam na sua colecção. Para Queiroz o melhor resultado depois de empatar 0-0 é perder por 0-1. Ficou provado na África do Sul, quando o resultado ainda se encontrava em branco, tira o único ponta-de-lança, Hugo Almeida, e coloca Danny, dotando a equipa de três extremos que depois criariam lances ofensivos para ninguém finalizar, desenvolvendo assim condições para perder por 1-0, chegando o golo dos espanhóis apenas cinco minutos depois. Genial! Deverá ser esta a táctica que o professor irá utilizar no próximo Sábado em Belo Horizonte contra a Argentina - logo que os argentinos marquem, ui! toca a fechar a loja, está encontrado o resultado. Carlos Queiroz é o inventor do "catenaccio ao contrário". Mas atrevem-se a rir, é? Não gostavam de ter perdido só por 0-1 contra a Alemanha ontem? Ah, bem...

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