sexta-feira, 31 de maio de 2013

Vão-se lixar! (que eu estou a trabalhar)


É sexta-feira, e como já é habitual, encerro a semana com a publicação do texto da edição de ontem do Hoje Macau. Bom fim-de-semana!

Ia eu a caminho do trabalho no outro dia de manhã, quando ao passar pela Rua da Tercena, aqui perto de casa, quase tomo o segundo banho do dia. Uma funcionária da tal concessionária do tratamento dos resíduos de Macau lavava alegremente um depósito de lixo a golpes de mangueirada, alheia ao facto de serem nove da manhã e estarem por ali a circular pessoas a caminho dos seus afazeres diários. Protestei com o seu desleixo, e apesar de fazer bastante calor, dei-lhe a entender que não estava nada interessado em ser “refrescado”. Não fiquei sem resposta, e de peito feito a profissional da limpeza de caca das lixeiras atirou-me com um decidido: “este é o meu trabalho!”. Ora pois é, ninguém disse que não, e toca já a sair da frente. Quem não gosta pode muito bem fazer um desvio por outra rua qualquer, de preferência pelo bilhar grande, que foi para onde a senhora me mandou ir dar uma volta.

Ainda a semana passada esperava por um autocarro na Av. Almeida Ribeiro, na paragem em frente a uma conhecida ourivesaria junto da Rua Camilo Pessanha, eram já onze da noite. Enquanto conversava com uma amiga aproxima-se uma daquelas recolectoras de cartão e outros objectos empurrando um volumoso carrinho de mão, que me passa em cheio por cima do pé. Não me partiu nenhum osso, mas a dor foi suficiente para lhe dizer das boas, recorrendo ao uso das pragas que o meu parco conhecimento da língua chinesa ainda me permite. Visivelmente assustada com a minha (justificada) reacção, teve o desplante de dizer que a culpa era minha, pois enquanto levava o carrinho vinha dizendo “kuan soi” – literalmente “água quente”, uma expressão utilizada para avisar quem se encontra pelo caminho de que se transporta algo pesado ou perigoso. De nada adiantaria recordar-lhe que o passeio é público, e de que tenho o direito de ali permanecer o tempo que me apetecer sem levar em cima com o entulho que estes recolectores de pacotilha insistem em transportar em qualquer sítio e a qualquer hora. Afinal vivemos numa cidade desenvolvida e cosmopolita. Mas haverá quem tenha assistido à cena que considere que o mau da fita era eu. Afinal a senhora estava a “trabalhar”, coitada, mesmo que ninguém a obrigue a tamanha empreitada.

Voltando à Rua da Tercena. Mesmo antes de chegar à Rua dos Ervanários, no passeio onde se realiza diariamente uma espécie de Feira da Ladra, existe uma pequena loja que compra o cartão que tantos residentes passam o dia a juntar, e que depois vendem “a vinte avos a tonelada”, como disse um conhecido pré-candidato às próximas eleições legislativas, entrevistado há poucos dias na Rádio Macau. Muitas vezes os carrinhos onde o cartão é empilhado ficam estacionados há porta deste receptador, bloqueando por completo a via pública reservada aos peões, obrigando-os a passar pela estrada. Não adianta protestar ou sequer resmungar, pois isto “é gente que trabalha”, que ganha o pão com o suor do rosto, que anda por aí a enfiar a cabeça nos latões do lixo, a separar o cartão no meio do passeio, a levar o ferro-velho pela rua, tantas vezes riscando automóveis ou ameaçando a integridade física dos restantes transeuntes. Não temos outra alternativa senão respeitá-los, e o melhor é sair da frente se temos amor às canelas e aos tornozelos. Qualquer dia equipam o utilitário com uma sirene que assinale a sua nobre labuta. Se não há fome em Macau, como dizem, a imagem que se passa para quem assiste a este triste espectáculo é outra. Como se explica que alguém se sujeite andar por aí imundo a carregar toneladas de tralha pela rua o faça para ganhar mais alguns trocos apenas “para passar o tempo”?

A falta de civismo e o desrespeito pelo conceito do “outro” não se resume a estes apanhadores de cartão e ferro-velho. A própria recolha do lixo, feita pelos camiões da tal concessionária num horário que ninguém conseguiu ainda entender muito bem, é uma boa desculpa para se fazer um escarcéu, com latões arremessados e um cheiro pestilento no ar. Quem tem o azar de estar na rua à hora da recolha do lixo ou de estar a conduzir atrás do camião do lixo, fica com o estômago revirado e adquire uma tez amarelada nada saudável. Mas querem o quê? Os tipos estão ali a recolher o vosso lixo, deviam era estar agradecidos. É um trabalho sujo mas alguém tem que o fazer. As cargas e descargas, um problema comum a muitas cidades, adquire uma dimensão muito própria em Macau. Os veículos de carga estacionam onde muito bem lhes apetece às horas que bem entendem, e não saem dali até que a estiva fique completa. Pouco importa que obstruam o trânsito e provoquem congestionamentos – é um “mal necessário” – e não adianta buzinar ou fazer cara feia. “O que foi, pá? Têm pressa, passem por cima. Não vêem que estamos a trabalhar?”

Quem foi abençoado com o dom da paciência, o que não é o meu caso, aceita melhor este tipo de situações que tantas vezes nos deixam com os nervos à flor da pele. Afinal somos uns sortudos, passamos o dia sentados num escritório, com uma secretária só para nós em frente a um computador, com ar-condicionado num ambiente salúbre e rodeados de conforto, gente bonita e limpinha. Deviamos ser mais compreensivos com quem ganha a vida na rua, sujeito aos rigores do clima e à poluição enquanto efectua honestamente o trabalho sujo e pesado, indispensável a todos nós e ainda por cima mal pago. Nada contra estes operários que suam e contribuem da forma que podem para o bem comum, mas isto não pode nem deve ser uma desculpa para o caos. Rejeitar este estado de coisas não significa necessariamente estar a faltar ao respeito com estes esforçados profissionais. Trata apenas de pedir que o respeito seja mútuo. Numa cidade organizada e funcional existem horas e lugares para tudo, e não devemos encarar os incómodos a que tantas vezes nos sujeitamos como qualquer coisa de inevitável e sem solução. Com um pouco mais de vontade, havia mais qualidade de vida. E tínhamos todos a ganhar com isso.

O Mónaco não é do povo


O AS Monaco é um dos maiores clubes franceses, tendo vencido sete campeonatos e cinco taças, contando ainda com duas presenças em finais europeias: em 92 quando perdeu a Taça das Taças para os alemães do Werder Bremen, e mais recentemente em 2004 quando perdeu a final da Liga dos Campeões para o FC Porto. Depois disso o clube passou por dificuldades financeiras, e em 2011 descia para a Ligue 2, onde no ano seguinte esteve aflito, garantindo por pouco a manutenção. Este ano tudo mudou com a aquisição do clube pelo bilionário russo Dmitry Rybolovlev, um dos oligarcas do país de Putin, que depois de garantir o regresso do clube ao escalão principal, anunciou um investimento de 300 milhões no reforço do plantel. O português João Moutinho e o colombiano James Rodríguez foram adquiridos por 70 milhões ao Porto, Ricardo Carvalho, aos 35 anos, chega do Real Madrid, e é apenas uma questão de tempo para que o avançado colombiano Falcão, um dos melhores do mundo, seja comprado ao Atlético de Madrid por 60 milhões, e que a caminho venha também o actual guardião do Barcelona, Valdés, bem como outras estrelas. Quem tem lucrado com tudo isto é o empresário português Jorge Mendes, representante de alguns dos jogadores que os monegascos vão comprando como se fossem latas de refrigerante.

O futebol há muito que deixou de ser o desporto do povo, das massas, e agora arrisca a tornar-se num jogo de monopólio de bilionários árabes e russos que gostam de brincar aos dirigentes desportivos. Ninguém acredita que Roman Abramovich, um dos pioneiros desta moda, seja adepto do Chelsea desde pequenino, que Rybolovlev tenha investido no Monaco do seu coração ou que os consórcios árabes que compraram o Paris St. Germain e o Manchester City vibrem com as vitórias destes clubes e sofram com as derrotas. Eram os clubes que estavam à venda, e eles compraram. Se algum destes se lembra de adqurir o Freamunde, temos candidato a discutir a Liga com o Benfica e o Porto, à revelia do historial ou de um trabalho de base feito de baixo para cima, passando pela formação e com o apoio da massa associativa. Qualquer dia não vale a pena entrar em campo e suar a camisola durante 90 minutos para encontrar o campeão. Basta um contabilista que determine qual o clube mais rico e fica a taça entregue. Pode não ser batota no sentido da palavra, mas cheira mal. Ricos eles e pobres de nós, que nos roubaram o nosso jogo.

Vídeo da semana


Se ontem o actor Will Smith ficou mal na fotografia ao "azelhar" um penalty em Wembley, hoje deixo-vos com o mais belo se pode fazer no desporto-rei. E foi uma mulher a executar esta obra de arte! Fatima El-Foul, das dinamarquesas do B93, faz uma recepção, finta e remate que resultam num golo "de placa".

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Coloane que te quero verde


A decisão do Governo de construir habitação económica à entrada de Coloane foi mal vista por alguma da intelligenzia local, que teme que uma eventual corrida imobiliária chegue à ilha que é considerada o pulmão de Macau, com efeitos devastadores para a sua actual configuração, levando a uma descaracterização do local que muitos procuram nos tempos livres para fugir ao caos e à poluição de Macau. A vegetação de Coloane, resultado do seu estado bruto e semi-virgem, contrasta com a “selva” de betão em que se transformou a Península e a Taipa. Mas se há alguns anos a Taipa se afigurou como alternativa à saturação de Macau para os poucos escrupulosos empresários do imobiliário, nada impede que as agulhas da ambição e do lucro se voltem agora para Coloane. O desenvolvimento das vias de comunicação e o sucesso do projecto do COTAI, onde se instalou a “strip” casineira, convidam a que se desbastem as árvores e se levantem mais prédios que se podem vender a quem preferir ficar a 20 minutos de carro do centro de Macau. Com interesses que falam sempre mais alto e pouca oposição por parte de quem governa (e partilha alguns desses interesses), é bem possível que num futuro próprio de assista ao fim do refúgio e nada reste senão dizer “é pena”.

A ilha de Coloane foi em tempos um local ermo e praticamente inacessível. Antes da construção da primeira ponte a ligar a penísula à Taipa, nos anos 70, ficava a uma hora de viagem num barco a vapor do tempo da Maria Cachucha. Os habitantes de Coloane estavam confinados a povoações (ainda existentes) e viviam num estado ermitário. Com o melhoramento dos acessos a ilha passou a servir de local de lazer aos residentes da cidade, que ao fim-de-semana faziam piqueniques, caminhavam pelo trilho ou davam uns mergulhos na praia – quando ainda era possível fazê-lo sem correr o risco de infecção bacteriológica. As piscinas de Hac-Sá e Cheoc-Van, construídas há pouco mais de vinte anos, e o empreendimento hoteleiro Westin resort tornaram-se em locais aprazíveis para os veraneantes locais, e a instalação de parques onde se realizam barbeques foi bem recebida pela população, que nos feriados ocorrem em massa à ilha em busca do relaxante ar do campo misturado com o fumo dos grelhados. Para quem não tem possibilidades de sair do território aos fins-de-semana, Coloane tornou-se o “passeio dos pobres”.

Sinceramente não sou nem nunca fui um grande adepto desta idílica aura de que Coloane se reveste. Como não tenho carro aborrece-me passar quase uma hora num autocarro até lá chegar, e ainda com a preocupação de ter horas para regressar, arriscando-me a passar lá à noite caso perca o último transporte de regresso. As praias, que como já referi são insalúbres, não fazem justiça a esse nome, e uma caminhada no tal trilho tem o senão do convívio com os mosquitos e outra bicharada exótica que prefiro evitar. Se vou a Coloane duas ou três vezes por ano será muito, e caso tenha ali algum compromisso fico com algum nervoso miudinho, e asseguro-me antes que tenho transporte particular de regresso a Macau. Sinto-me como um peixe fora de água se não estou a distância de casa que não me permita ir a pé. Mas isto sou eu, e reconheço a quem goste de ir até lá espairecer o direito a um local onde possa assentar as ideias, olhar o mar, andar pela praia ou ir dar uma queca a Ka-Ho longe dos olhares indiscretos. Coloane é do povo e espero que o povo se mantenha firme e bata o pé a intenções de lhe roubarem o seu paraíso, tapando-o com o betão.

A condição periférica de Coloane levou a que lá se instalassem algumas infra-estruturas que seriam um incómodo no centro da cidade. No passado foram as leprosarias, mais tarde a prisão, o centro de reabilitação de toxicodependentes e o kartódromo. Em termos de indústrias poluentes fez-se ali a pedreira, e nos anos 80 projectou-se o Parque Industrial de Seac Pai Van, um empreendimento pensado como alternativa à crescente dependência do jogo para a economia do território. Entretanto o jogo tornou-se uma fonte de receitas ainda mais apetecível e o Parque Industrial tornou-se obsoleto, sem pernas para andar. É normal, e até recomendável, que se remetam para Coloane alguns projectos que necessitem de um espaço mais amplo (Coloane é maior em área que Macau e Taipa), ou serviços que não se adaptem às características sociais e físicas da Península, mas construir desenfreadamente prédios de habitação, como se fez na Taipa, é ir longe demais. Que façam mais aterros em Macau e na Taipa, que encham o rio de areia até que não seja preciso uma ponte para ir de um lado ou outro, mas deixem lá Coloane em paz. Coloane “no me gusta”, mas fico feliz que ali esteja à nossa disposição. É o último reduto desta loucura que já foi longe demais.

Racistas do caralho, vão levar na peida


Em primeiro lugar gostava de pedir desculpas pelo título deste artigo, mas não consegui pensar noutro mais adequado a um acto de racismo e xenofobia do calibre da primeira página do jornal Ou Mun de ontem. Como noticiou a edição de hoje do JTM, um grupo de associações obscuras da RAEM fez publicar no jornal mais lido do território um manifesto que apela à população (chinesa, claro) que boicote produtos filipinos e evite contratar empregadas domésticas das Filipinas. Só faltou mesmo apelar a que os residentes que já tenham ao seu service uma empregada filipina que a demitam. Em causa está o recente incidente diplomático provocado pela morte de um pescador taiwanês há duas semanas, quando a guara costeira das Filipinas disparou sobre uma embarcação de pesca da ilha nacionalista que alegadamente teria entrado em águas filipinas.

Segundo o JTM, a publicação de um anúncio desta natureza na primeira página do Ou Mun custará algo como 160 mil patacas, e o diário em língua chinesa certamente não se inibirá de publicar seja o que for, uma vez que mais do que um media, trata-se de uma empresa com fins puramente lucrativos. Qualque porcaria é publicável, desde que não atinga o Governo, o maior patrocinador do Ou Mun. Qualquer leitor deste jornal minimamente inteligente terá ignorado o anúncio e virado a página em busca das notícias "a sério", e mais uma vez os autores desta palhaçada ficam mal na fotografia. Tal como aconteceu naquele apelo "patriótico" à destruição da casamata de Coloane, dificilmente se encotrará alguém disposto a assumir a autoria da gracinha. Explicar a esta gentinha que os pobres trabalhadores não-residentes originários das Filipinas não têm a culpa do lamentável incidente ocorrido em alto-mar no início do mês é escusado. O que ainda me surpreende é que ainda haja quem pense que a malta do Novo Macau Democrático é xenófoba e não sei quê. Ora aqui está a primeira página do Ou Mun de ontem. Limpem o cu a ela e depois coçem.

O pior penalty de sempre


Will Smith pode ser um excelente actor, mas como futebolista é ainda pior do que se podia imaginar. Smoith esteve em Inglaterra a promover o seu novo file "After Earth" e resolveu dar um pulinho a Wembley, onde foi convidado até ao relvado para marcar um "penalty". Este entra para a História como o pior de sempre. Tão mau que faria qualquer profissional mudra de ofício caso lhe acontecesse algo semelhante. Para ver...e rir!

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Horizonte cor-de-rosa


Os franceses são muito "papa-mamã".

O “lobby” gay anda a esfregar as mãos de contentes. São tempos gloriosos, estes, a idade do ouro cor-de-rosa, um horizonte onde reluz um eterno arco-iris, um sentimento de vitória obtida com muito sangue, suor e lágrimas. Ser homossexual é agora visto no mundo civilizado como algo banal, e assumi-lo está na moda. Pouco importa que ainda exista discriminação, rejeição, ou que ainda se oiçam umas bocas. Quem ainda insulta os homossexuais está completamente “out”, os pais que cortem relações com um filho “gay” estão certamente dementes, e quem discrimine alguém com base na sua orientação sexual arrisca-se a ser acusado de “crime de ódio”. As sociedades mais conservadoras ainda vão resistindo, e os homossexuais vão continuando a temer represálias devido ao seu estilo de vida, mas mais cedo ou mais tarde vão aderir à tendência. No Ocidente o ambiente é de festa, com paradas animadas, muita beijocada e gritinhos de “uh!” ao som dos Scissor Sisters. Elton John, Boy George e companhia foram em tempos tidos como “excêntricos”. Hoje são pioneiros. O tempora, o mores.

Não sou homófobo nem escolho as minhas amizades com base na orientação sexual. Conheço e conheci vários homossexuais, mesmo antes de se tornar moda, e nunca me meteram medo. Fui contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, afirmei-o aqui várias vezes, mas agora estou-me nas tintas. Continuo a achar uma subversão de uma instituição, e com as instituições não convém brincar, mas não ligo. Façam o que entenderem, casem à vontade, que isso nem me diz respeito directamente. Mesmo a questão da adopção deixa-me indiferente, e na realidade uma criança está melhor num lar com duas mães ou dois pais do que enfiada num infantário qualquer entregue ao Deus-dará. Mesmo quem se mantenha firme e se oponha convictamente contra as uniões, casamentos, co-adopções e tudo isso está apenas a remar contra a maré. Um dia dá-se o evento de se realizarem mais casamentos mono do que casamentos mistos, depois irrita-se, sofre do fígado e aparecem mais rugas e cabelos brancos. Deixem lá, que não vale a pena.Isto é para vocês, ó franceses. Os rabetas vão levar a melhor, e não adianta reclamar.

A homossexualidade deixou de ser um conflito pessoal, e afirmá-la estava reservado ao sussurro no consultório do psiquiatra. Era preciso esconder a todo o custo, evitando fraquejar perante família e amigos, casar para eliminar suspeitas, procurar prazeres furtivos pela calada da noite em locais ermos, obscuros e insalúbres, como parques e casas-de-banho públicas. Hoje dizer alto e bom som “sou gay!” pode ser recebido com uma ronda de aplausos pela “coragem”, e o pior que pode acontecer é ouvir algo como “pfff…grande coisa, eu também e não ando aí a ostentar, ó vaidoso”. Qualquer dia vai ser chique ter amigos “gay”; um Maserati, uma vivenda no Guincho e milhões depositados num paraíso fiscal não ficam completos sem aquele amigo “gay” na agenda do telefone. Imagino uma futura conversa entre “tias”: - “Ah já sabiam? O filho da Tucha é gay!” – “Não posso! Que inveja, rica. O meu Eurico é que não tem remédio, sempre a sair com miúdas, o pateta”.

O que está mesmo a dar é ser “o primeiro”. Há uns tempos ficámos a conhecer o primeiro jogador da NBA assumidamente “gay” (isto do “assumidamente” tem muito que se lhe diga, aparentemente quase toda a gente é gay, e a diferença está em assumir), e agora o primeiro futebolista a sair do armário, curiosamente também na América. Um tal Robbie Rogers, jogador do LA Galaxy, deu o passo em frente. Lá vão por água abaixo as teorias de que os atletas de alta competição não podiam ser homossexuais. Esqueçam as lésbicas do arremesso de peso da ex-RDA ou da selecção de andebol feminina da Dinamarca, cuja masculinidade até dava jeito em termos de desempenho. Os homens também podem ser bons atletas e gostar de pau, e depois? Pensando bem um jogador de futebol gay até pode ser bastante útil, especialmente se for central de marcação. Os avançados da equipa adversária pensavam duas vezes antes de entrar na área ou discutir uma bola dividida, e seriam menos afoito na marcação dos cantos a seu favor.

Mas agora falando um pouco mais a sério. Fico feliz por poder assistir a uma era onde se encaminha para a aceitação da sexualidade alternativa, em que ninguém é ostracizado por recusar uma conduta que a sociedade lhe impõe como sendo a única aceitável. Isto aplica-se não só ao plano das relações afectivas como a todo o resto. A liberdade e a simples possibilidade de poder escolher são valores inestimáveis que devem ser defendidos a todo o custo. É triste pensar que durante séculos os homossexuais foram perseguidos, presos, torturados, executados, vítimas de todo o tipo de horrores pelo simples facto de não comer o que lhes metiam à frente. Ainda nos dias de hoje, em países como o Irão ou a Arábia Saudita os homossexuais são enforcados e decapitados. Isto é simplesmente barbárico e inaceitável à luz dos mais básicos valores humanos. Nem os cães raivosos merecem este tratamento. E esta nova “onda gay” que leva a que cada vez mais homossexuais se assumam até tem um lado positivo. A Igreja, por exemplo, terá inevitavelmente que se adaptar a esta nova realidade, sob o risco de parecer retrógrada e ultrapassada. Longe vão os tempos em que uma simples pira resolvia os problemas e purificava o mal. Agora é o arco-iris que se vê quando antes eram labaredas. E não é melhor assim?

Primavera de destroços


A queda de um regime autocrático é sempre bem vista, e os novos ventos de liberdade e exercício pleno da democracia tem normalmente efeitos positivos no campo dos direitos humanos e cívicos, levando ao fim de prisões arbitrárias e perseguições políticas. Mas não há bela sem senão, e por vezes o fim da mão-de-ferro da ditadura permite excessos que pouco dignificam o conceito de liberdade. O Egipto é um exemplo recente desta dificuldade em encarar a libertação do jugo da ditadura. Depois da Primavera árabe que levou à queda de Mubarak, o país teve dificuldades sérias em restabelecer a ordem pública, sendo a famosa Praça Tahrir, no Cairo, o centro de um vulcão em constante erupção. Um dos aspectos da sociedade egípcia, onde os mandamentos do Islão são escrupulosamente cumpridos, é a abordagem conservadora ao casamento e às relações entre homens e mulheres. Não é permitido a um homem falar com uma mulher desconhecida, e anos de aplicação rigorosa destes preceitos levou a uma geração de homens…carentes, para não usar outra palavra politicamente menos correcta. A liberdade adquirida teve como lado preverso um aumento de abusos verbais e físicos a mulheres no Egipto, e a violação de que foi vítima uma repórter estrangeira no centro do Cairo em plena luz do dia chamou a atenção para o problema.

Para avaliar a extensão deste fenómeno, um programa de televisão resolveu conduzir uma experiência: vestir um actor de mulher e fazê-lo passear pelo Cairo, recolhendo a reacção dos homens à sua presença. A finalidade é saber como se sente um homem na pele de uma mulher vítima de assédio e exposta a variados tipos de abuso. Depois de dois meses de casting e muitas recusas, o actor Walid Hammad, de 24 anos, aceitou o papel, vestiu roupa discreta (saia comprida, blusa), passou pela necessária caracterização e saíu à rua. A experiência, diz o próprio Walid, foi “arrepiante”. Era constantemente seguido por homens, alguns deles abordavam-no de carro (de “boas marcas”) e muitas vezes propunham-lhe sexo por dinheiro. O actor diz-se agora empático com o sofrimento das mulheres egípcias, e regozija-se pelo seu aspecto “masculino e normal”, que lhe permite andar na rua a qualquer hora, sem que ninguém o incomode. Como sofrem as mulheres no Egipto, vítimas da “liberdade” que os homens ainda não aprenderam a usar.

Pyongyang paga mais


Qualquer notícia que chega da Coreia do Norte é motivo de atenção especial, uma vez que pouco do que se passa no país mais isolado do mundo é dado a conhecer à opinião pública mundial. Mais surpreendente se torna uma notícia chegada da ditadura dos Kim quando demonstra sinais de abertura democrática, como é o caso desta: o Governo de Pyongyang decidiu o mês passado relaxar o controlo do estado sobre os salários, numa tentativa de elevar a competitividade e aumentar a produção. Assim a partir de agora as empresas estão autorizadas a usar parte dos seus lucros para pagar melhor aos seus trabalhadores, conforme a sua produtividade. A ideia é criar um sistema de incentivos, que permita aos trabalhadores norte-coreanos receber mais se demonstrarem mais empenho e elevarem a produtividade. Já o ano passado o regime tinha permitido a directores de empresas mais liberdade na tomada de decisões relacionadas com a gestão e aos camponeses de poder guardar para si quaisquer excedentes de produção que ultrapassem as cotas estabelecidas pelo estado comunista. Segundo Ri Ki Song, professor do Instituto de Ciências Económicas da Universidade de Pyongyang, estas reformas não indicam uma eventual mudança para uma economia de mercado, e que “o controlo socialista dos meios de produção está firmemente estabelecido, e é para continuar”. Kim Jong-Un, filho do ex-presidente Kim Jong-Il e neto do fundador da nação Kim Il-Sung, tomou posse em Dezembro de 2011, herdando um país devastado pela carência de alimentos, combustíveis e outros recursos básicos. O jovem presidente estabeleceu a Economia como sendo a maior prioridade, criando um “gigante económico” que leve a um “aumento da produção, estabilizando e melhorando o nível de vida da população”. Realmente era ideal que se concentrasse mais nestes objectivos e não insistisse na postura de confrontação com o seu vizinho do sul e os Estados Unidos. Mais trabalho e menos mísseis, sr. Kim.

A gaiola do maluco


Ainda na China, um homem que sofre de doença mental está há 11 anos preso pela família como se fosse um animal, por ser considerado potencialmente perigoso. O jornal “Xinxi Ribao”, da província de Jiangxi, divulgou na segunda-feira as fotografias de Wu Yanhong, de 42 anos, confinado a uma gaiola com os pés amarrados e sentado em cobertores. Aos 15 anos Wu espancou um jovem de 13 anos até à morte mas foi diagnosticado com esquizofrenia, e como tal não sendo responsável pelos seus actos. De regresso à sua aldeia natal de Ruichang, era temido pelos vizinhos, pelo que a família decidiu limitar os seus movimentos recorrendo a este expediente desumano. A actual gaiola de metal onde se encontra foi construída depois de Wu ter conseguido destruir a primeira e escapar. A sua mãe, Wang Muxiang, diz que lhe custa ver o filho nesta situação, mas teme retaliações por parte da sua comunidade caso o filho reincida em actos de violência. As autoridades chinesas estimam que no país existam 16 milhões de chineses com transtornos mentais graves, mas a maioria não recebe tratamento devido à falta de pessoal e de recursos. A profissão de psiquiatra ainda não é muito bem vista pela conservadora sociedade chinesa, e em 2010 existiam apenas 20 mil profissionais em todo o país, segundo o Ministério da Saúde chinês, citado pelo “China Daily”.

Entrando pelo cano


Um vídeo que está a chocar um mundo. Um recém-nascido foi resgatado com vida pelos bombeiros de um tubo de esgoto na cidade de Jinhua, província de Zhejiang, na China. O bebé foi encontrado nos canos de um edifício residencial às 17:00 de segunda-feira, depois de dos residentes de um apartamento no quarto andar terem ouvido da casa-de-banho uma criança a chorar. Uma história com um final feliz, apesar da violência das imagens.

It's a Barbie Girl, in a Barbie world


Uma boneca Barbie é uma prenda que qualquer menina gostaria de receber, e ser uma Barbie é o sonho de muitas meninas grandes. Ser bonita, rica e socialmente aceite é uma perspectiva que poucas jovens rejeitariam, e a boneca da Mattel que vem apaixonando gerações é uma espécie de símbolo desta ambição, por mais superficial que aparente ser. Foi com o objectivo de realizar esse sonho, mesmo que por alguns instantes, que abriu em Berlim a primeira casa da Barbie em tamanho real, atração localizada a alguns metros da Alexanderplatz, na área comercial da capital alemã. Nesta casa decorada ao estilo de uma mansão de Malibu, as mais pequenas podem vestir-se como a sua boneca preferida, cozinhar bolinhos e dar uma voltinha na “passerelle”, tudo pela módica quantia de 20 dólares (160 patacas). Um deleite para os anjinhos mais queridos do papá e da mamã. Quem não concorda com este sonho cor-de-rosa são as feministas alemãs, que marcaram presença na inauguração da casa e demonstraram a sua repulsa pelo que consideram uma ideia “sexista” e “um insulto à condição feminina”. As centenas de manifestantes ostentavam cartazes onde se liam slogans do tipo “Deixem as vossas filhas ser inteligentes e não apenas bonitas”, ou com algum humor “Barbie: não faças apenas bolinhos, come-os também” Alguns manifestantes (entre os quais muitos homens) excederam-se e queimaram bonecas e casas modelo da Barbie, o que levou à mobilização de um contingente policial no sentido de evitar que casa “real” com a área de 2500 metros quadrados levasse o mesmo fim. Entretanto foi criada no Facebook a página “Ocupem a Casa da Barbie”, inspirado no movimento “Ocupem Wall Street”, e que conta já com quase 3000 likes. Um dos seus autores lamenta-se dizendo: “Caso fosse real, a Barbie seria uma anoréxica e a sua vida seria passada dentro do carro à espera do Ken”.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Macau, China: a inevitável aglutinação


Conheci recentemente uma jovem residente na China continental, de onde é também natural, e temos mantido contacto frequente através de e-mail. Não é fácil ter contacto com muita gente para lá das Portas do Cerco, uma vez que o Facebook, Blogger e outros media que utilizamos frequentemente estão bloquados no continente, e não aderi – nem faço intenção de aderir – ao WebChat, QQ ou outras redes sociais utilizadas sobretudo por falantes da língua chinesa. A jovem em questão vive e trabalha em Zhuhai, trabalha para uma agência de viagens, e a sua função resume-se basicamente a levar grupos de turistas até ao Porto de Gongbei, onde passarão para este lado, para Macau. Apesar de se encarregar diariamente que centenas de turistas passem a fronteira, Lin (assim se chama a jovem), nunca esteve no território, ou em qualquer outro sítio além da sua terra natal, no norte da província de Cantão, e em Zhuhai, para onde se mudou com os pais há alguns anos.

Conheci a Lin por acidente, quando me mandou há dois meses uma mensagem de telemóvel por engano. Não suspeitei de qualquer “esquema”, daqueles que tanta gente fala ao ponto da paranóia, e comecei a trocar mensagens, até que desenvolvemos uma relação de amizade. Entre a habitual conversa da treta (já almoçaste, dormiste bem, hoje está calor, etc) aproveito para trocar com ela alguns pontos de vista. A diferença cultural é gritante, juntando a isto a evidente diferença de idades (38 anos dos meus contra 20 dos dela) que leva ao inevitável conflito de gerações. O seu domínio da língua inglesa, falada e escrita, é surpreendente, atendendo ao inglês que (não) se fala na China, o que facilita a comunicação, mas há temas que requerem uma abordagem muito cuidadosa, nem que seja para evitar desagradáveis mal-entendidos. Entre os temas tabu incluem-se política, direitos humanos, liberdade de imprensa e outros sensíveis, se bem que outros como religião, por exemplo, são discutidos mais abertamente. Até porque aí temos algo em comum: nenhuma religião.

Nunca nos encontrámos pessoalmente e duvido que isso venha a acontecer – pelo menos por iniciativa dela, que não escondea sua tradicional inibição chinesa perante um “estrangeiro”. É escusado insistir na teoria da “aproximação dos povos” e tudo mais; é preciso respeitar as convicções de cada um, e se para ela eu sou simplesmente um “bárbaro”, pode ser que com o tempo a faça mudar de opinião. Até lá vai ser preciso “paciência de chinês”. Contei-lhe que fui casado com uma mulher chinesa de Macau e que temos um filho em comum. Ela achou isto uma curiosidade interessante, mas perguntou-me porque “não casei com uma mulher da mesma origem”, acrescentando que os casamentos inter-culturais “não resultam”, e estão “condenados ao fracasso”. Não me incomodei em explicar que o sucesso de um casamento não depende necessariamente da nacionalidade dos seus actores, até porque a juventude da Lin não lhe confere experiência para entender certos mecanismos da vida adulta, e por isso evito falar de casamentos, relacionamentos e afins. Seria deselegante da minha parte incutir numa jovem solteira conceitos como o sexo casual (ou o sexo de todo), a liberdade de opção por um estilo de vida ou outros ramos da libertinagem e das escolhas que temos a liberdade e o despudor de fazer. Só o facto de me ter dito que “nunca se vai divorciar”, o que me faz parecer uma espécie de marginal aos seus olhos, dão a entender que a Lin ainda tem muito que aprender. E não vou ser eu a ensinar, claro.

O mais fascinante é mesmo observar a diferente percepção da realidade que existe entre nós. Estaremos a meia-hora de autocarro de distância um do outro, mas em termos de perspectiva existem mil oceanos que nos separam. O mais curioso é que a Lin é uma rapariga culta e educada, e apesar de ter optado por entrar no mercado de trabalho depois de completar o ensino secundário em deterimento da Universidade, demonstra ter sido uma aluna aplicada. A razão de tudo isto é que o sistema de ensino que a formou criou uma espécie de “viseira” que leva a que interprete os factos de uma forma diferente da que estamos habituados. A tal “Grande Muralha da China”, o tal programa informático que bloqueia os websites incómodos no continente, é também instalado na população desde tenra idade. A informação que lhes chega pode ser a mesma, mas é digerida de acordo com os rígidos princípios que lhes são incutidos. Não lhe chamaria “lavagem cerebral”, pois parece demasiado redundante. Chamar-lhe-ia antes…”afinação de conceitos”. Isso. A ladainha da não-interferência nos assuntos internos do país passa também pela educação. Elas cuidam dos seus como querem e nós fazemos o mesmo com os nossos, e assim ninguém se chateia.

Lin fica surpreendida com o meu conhecimento sobre a História e a cultura chinesas, ou de quão informado estou no que diz respeito à produção cultural que ali se faz, nomeadamente no cinema. Ficou perplexa quando lhe falei do pensamento maoista ou dos ditos de Confúcio – talvez pense que são noções para consumo interno, fora do alcançe dos estrangeiros. É escusado dizer que sei muito mais sobre a China do que ela sabe sobre Portugal ou qualquer outro país além das fronteiras da China. Pode-se mesmo dizer com alguma segurança que sei mais sobre a China do que ela própria, com excepção dos preceitos culturais e da língua, obviamente. Tenho a certeza que ela me respeita e sente por mim amizade, como aliás já afirmou, depois de confessar a desconfiança inicial. Segundo Lin, sou o seu “primeiro e único amigo estrangeiro”. Apesar de ter conquistado uma fracção da sua confiança, realisticamente falando, tenho consciência que é impossível mudar a sua mentalidade. Os seus “camaradas” professores encarregaram-se de lhe moldar a mente de modo a conseguir sobreviver num país onde a pluralidade e o livre-pensamento não são bem vistos. Nem me atrevo sequer a mudar o que quer que seja. Limito-me a observar e tentar perceber melhor o seu mundo.

Um chinês nascido, criado e educado na China continental sai de uma linha de montagem que o mune de uma estrutura mental difícil de reajustar. Mesmo que vivam muitos anos num ambiente completamente análogo àquele onde cresceram, seja no Brasil, na Africa ou no Pólo Norte, não são facilmente maleáveis. Podem adaptar-se, adquriri alguns hábitos, amar a cultura, a música ou o povo do seu país de acolhimento, podem mesmo casar com um nativo desses países, mas a matriz está sempre presente. Pode encaixar-se no contexto do ambiente que os rodeia, mas não sofre mutação. Mesmo um chinês que decida viver para sempre noutro país, nunca muda a sua percepção da própria China. Pode mudar de nacionalidade, ou não transmitir aos filhos os valores pelos quais foi educado – e mesmo assim não resiste a julgar os seus actos pelos seus próprios padrões, mas nunca muda de ideia sobre o que é a China. É por isso que os dissidentes e outros notáveis “traidores” sofrem de uma enorme falta de credibilidade. O que deixam transparecer é muito diferente do que realmente são, e o que dizem nem sempre corresponde com o que sentem.

Quem vive em Macau há alguns anos e privou com chineses do continente apercebe-se facilmente destas diferenças. Por muito liberal, sociável, tolerante ou mesmo “simpático” que nos pareçam os nossos “mandarins”, estão dotados de um equipamento, de uma espécie de “chip” que lhes permite analisar de forma mais calculista e prática as pessoas que os rodeiam, e os problemas que lhes surjem pela frente. Podem nunca nos dizer isto na cara, mas alguns não têm pudor em demonstrar o que pensam dos “compatriotas” de Macau: os chineses são preguiçosos e sortudos, levaram uma vida fácil, os portugueses são os “invasores”, e os macaenses os filhos destes. Muito simples, e não adianta tentar mudar esta percepção. A sua disciplina e dedicação leva a que aprendam rapidamente uma língua, que terminem um curso superior, que obtenham um bom emprego e ambicionem a uma carreira de sucesso. A polémica recente com os estudantes universitários do continente tem uma razão de ser. É quase certo que na eventualidade de permancerem no território além do termo dos seus estudos constituirão uma ameaça para os residentes locais, especialmente os mais jovens, no acesso ao mercado de trabalho. Especialmente no que toca às carreiras que requerem um maior nível de especialização.

Se Macau pode ficar a ganhar com técnicos vindos do continente, que facilmente se adaptam a uma cultura semelhante à sua, e mesmo à língua, que é idêntica na parte escrita, poderá sofrer uma descaracterização em termos de identidade. Já existem (sempre existiram) instituições de ensino que ministram um programa mais aproximado com o do continente, e o conceito de “amor à Pátria” vem sendo desde sempre incutido, mesmo sem a tal “Educação Patriótica” que tanta preocupação causa entre os sectores que zelam pelo direito à diferença entre o primeiro e o segundo sistema. O plano de integração de Macau no primeiro sistema, que se concretizará totalmente em 2049, é um trabalho de grande paciência. Não interessa aos dirigentes chineses impôr aqui as suas regras, nem que para isso seja preciso “varrer” tudo o que apareça pela frente. É um projecto que produzirá resultados dentro de duas ou três gerações. É tão inevitável como o destino, e apenas uma mudança radical na própria China, na “nave-mãe”, pode impedir que assim seja. E nesse dia a Lin e os seus descendentes não vão precisar de entender Macau e os “bárbaros”, como eu, que aqui habitam. Afinal não vai ser necessário. Mesmo sem tentar vencê-los, juntamo-nos a eles.

A convergência do cifrão


O café Satrbucks do Largo do Senado encerrou, depois de mais de dez anos a funcionar em frente à Farmácia Popular. Uma noticia tão surpreendenta quanto triste, bem demonstrativa de uma caminho que Macau está a seguir e que não sabemos bem onde acaba, e com que resultados. Não sou grande adepto da multinacional Americana, mas tenho pena que desapareça um local onde as pessoas se podiam sentar, comer, converser, usar o computador e ouvir alguma música. Um local calmo, relaxado e limpo, independente se goste ou não dos Latte, Frapuccinos e outras americanices. Vai deixar saudades.

E a razão para o encerramento do Starbucks? O senhoria não quis renovar o contrato de arrendamento da loja, Verdadeira razão? Alguém ter-lhe-á feito uma proposta muito mais lucrativa, na ordem do dobro, ou mais, do preço do arrendamento. Nestas situações funciona o princípio do "pegar ou largar" que tem complicado a vida ao pequeno e médio comércio em Macau. Se a renda é x e alguém oferece o dobro, o proprietário pergunta muito diplomaticamente ao arrendatário se consegue cobrir a oferta, e no evento de não ser possível fazê-lo, nada resta senão desmontar a tenda e dar lugar ao senhor que se segue. A Starbucks é uma multinacional com dinheiro de sobra para manter aberta uma loja, mesmo que lhe esteja a dar prejuízo, mas é livre de fazer a gestão que considere mais adequada, e apesar de deixar orfãos dezenas de clientes habituais, achou por bem encerrar aquela que foi a sua primeira loja no território.

"Money talks and bullshit walks", a máxima "yankee" de dita as regras do mercado de matriz capitalista-selvagem bem se pode aplicar à zona histórica da cidade, ao centro de Macau. Há um par de anos foi o velhinho restaurante Long Kei a dar lugar a uma insonsa loja de "souvenirs" da treta, e ainda o ano passado foi a tabacaria da Rua das Mariazinhas a fechar portas. As rendas praticadas naquela área são milionárias, os proprietários mais antigos não resistem às ofertas chorudas e acabam por vender, e é caso para dizer que não fossem a Farmácia Popular e a Santa Casa da Misericórdia titulares do direito de propriedade dos edifícios onde funcionam, arriscavam-se a sair dali para fora e a dar lugar a uma perfumaria, joalheria ou loja de roupa de marca. Ninguém se iluda pensando que no lugar do Starbucks surgirá algum outro local aprazível onde se pode sentar, conversar ou ler um livro enquanto se toma uma bebida. Será mais uma Sasa, Bonjour ou Swarowski qualquer, a pensar nas necessidades do tailoque moderno, novo-rico e gastador.

E são esses quem vão paulatinamente ocupando a zona do Largo do Senado e arredores. A afluência de turistas do continente que aqui vêm gastar forte e feio justificam uma renda astronómica de um milhão de patacas ou mais. Qualquer dia uma tarde de compras no Largo do Senado consistirá em perfumes, cosméticos, pronto-a-vestir de "bem", relógios, cintos e jóias. E para comer? Têm ali mesmo o McDonald's, ora. Não se queixem. Bem-vindos à convergência do cifrão, às maravilhas do tal "socialism de mercado" que de socialismo só tem mesmo o nome. Qual tradição, qual amizade, qual carapuça. Não gostam? Podem muito bem "take a walk", como a "bullshit" da tal maxima acima referida.

Mia Couto vence prémio Camões


O escritor moçambicano Mia Couto venceu o 25º prémio Camões, o maior galardão que distinguee os escritores em língua portuguesa, uma espécie de Nobel da lusofonia. António Emílio Leite Couto nasceu há 57 anos na Beira, na antiga provincial ultramarine de Moçambique, filho de pais portugueses. Manteve-se no país depois do conturbado period da independência, e aos 27 anos publicou a sua primeira colectânea de poemas, "Raíz de Orvalho". Seguiu-se uma profícua produção de contos, crónicas e romances, alguns deles traduzidos para seis línguas em 22 países. Entre as suas obras destacam-se "Terra Sonâmbula", "Jesusalém" e o seu mais recente, "As confissões da leoa", de 2012.

Jesus na cruz da Luz


É a notícia do dia: Jorge Jesus estará de saída do Benfica. Apesar de ainda carecer de confirmação, é praticamente certo que o treinador que orientou os encarnados durante os últimos quatro anos não vai renovar. Numa época que podia ter sido de sonho, o Benfica falhou em duas semanas a conquista de três títulos, terminando com...zero. Na retina ficam as imagens de Jorge Jesus de joelhos no Dragão e em lágrimas no Jamor. Se um dia escrever as suas memórias o título bem poderia ser: "O que eu quase fui", com a palavra "quase" a repetir-se incessantemente por todo o livro.

FOGUETES ANTES DA FESTA


Foi a 30 de Abril, há pouco menos de um mês, que os adeptos do Benfica começaram a festejar um putative título nacional. Os encarnados venciam por 2-1 no Funchal o Marítimo e mantinham a liderança com mais 4 pontos que o FC Porto a três jornadas do fim. Mesmo no evento de uma derrota no Dragão na penúltima ronda, bastaria vencer os jogos em casa frente ao Estoril e Moreirense para terminar em primeiro. Uma semana depois, a 7 de Maio, os estorilistas empataram na Luz, o Porto ficava a dois pontos e o "clássico" revestia-se de contornos decisivos. Os mais optimistas acreditavam que podiam vencer na Invicta e comemorar o título no reduto do maior rival, os mais cautelosos tinham reservas, e motivos de sobra para se sentirem preocupados. O que estava para vir não podia ser pior.

OS MOMENTOS


O Benfica foi ao Dragão com o pensamento no título, e tudo corria de vento em popa quando Lima colocou o emblema da águia em vantagem aos 20 minutos. O Porto empatava pouco depois, e o Benfica foi controlando a situação e jogando com a marcha do relógio. Jorge Jesus apostava no empate, que deixaria a decisão para o dia final na Luz frente ao modesto Moreirense. Contudo ao minute 92 Kelvin recebe um passe de Liedson no lado esquerdo do ataque portista, deixa o defesa Roderick "nas covas" e remata for a do alcance de Arthur. Jesus fica de joelhos: o título estava virtualmente perdido.


Foi uma águia ferida no orgulho que se apresentou em Amesterdão quatro dias depois para disputar a final da Liga Europa frente ao Chelsea - a primeira final europeia em 23 anos, feito meritório para o técnico agora caído em desgraça. O Benfica encostou o Chelsea às cordas, mas mais uma vez o minuto 92 se revelou fatídico, com o defesa Ivanovic a saltar no meio de uma apática defesa encarnada e a resolver o jogo para os ingleses. Mais uma vez o Benfica regressava a Lisboa sem motivos para festejar junto dos seus exigentes adeptos.


Depois de se confirmar o título do FC Porto, a final da Taça de Portugal frente ao V. Guimarães surgiu como a salvação de uma época que podia ter sido gloriosa. Os vimarenenses tinham poucos argumentos para se imporem ao Benfica, que confirmou o favoritismo com um golo de Gaitán no primeiro tempo. Só que mais uma vez as pernas não chegaram, e os minhotos operaram a reviravolta no segundo tempo, deixando Jesus em lágrimas e a nau benfiquista à deriva, bem patente na reacção de alguns jogadores, que ficaram à míngua de títulos num ano que prometia ser um dos melhores de sempre da História do clube. Jesus ficava sem margem de manobra, e os adeptos demonstravam a viva voz a sua insatisfação, chegando a insultar o treinador. De bestial a besta foi uma questão de três derrotas, e todas por 1-2.

O GURU


Manuel Sérgio, um teórico do desporto e professor de Mourinho no antigo ISEF é desde a primeira hora um dos maiores apoiantes de Jorge Jesus. O professor tem servido como uma espécie de guru para Jesus, recomendando aos dirigentes encarnados a renovação do contrato com o treinador. Isto, é claro, na altura em que o Benfica ganhava semana após semana. E agora, doutor?

O BOM, O MAU E O VILÃO


O brasileiro Lima foi contratado no início da temporada ao Braga, uma estratégia que foi vista inicialmente como uma tentativa de enfraquecer um potencial adversário directo. Contudo o avançado foi muitas vezes o abono de família do Benfica, apontando golos decisivos e terminou o campeonato com 20 golos apontados, apenas atrás do portista Jackson Martinez, o melhor marcador da prova. De "roubado" ao Braga passou a melhor contratação de Jesus esta época.


Tido como um dos melhores guarda-redes a actuar em Portugal - falou-se de uma eventual naturalização de modo a poder ser convocado para a selecção das quinas - Arthur realizou uma época positiva, mas demonstrou alguma tremideira nos momentos decisivos. Alguns golos consentidos custaram pontos preciosos, e na memória fica o golo do Estoril na Luz e a final da Taça no Jamor, onde fica mal na fotografia dos lances que deram a vitória aos vimarenenses.


Oscar Cardozo agride Jorge Jesus - FOOTAZO.com 发布人 footazo
Oscar Cardozo tem sido o artilheiro-mor do Benfica desde a sua chegada ao clube em 2007, apontando 105 golos em 157 jogos para a liga, e um total de 161 em todas as competições. Ofuscado esta época pelo brasileiro Lima, o paraguaio deixou transbordar toda a sua frustração na final da Taça, quando empurrou Jorge Jesus depois da partida e ainda se ravou de razões com o colega de equipa André Almeida. Há quem diga que o Benfica se tornou pequeno para Jesus e Cardozo, mas é o treinador que está de saída, pelo menos por agora.

E O FUTURO?


Em quatro anos no comando técnico do Benfica Jorge Jesus conquistou quatro troféus: um campeonato e três Taças da Liga. Apesar de ser manifestamente pouco para as ambições do clube, o treinador de 57 anos deixou o clube no 6º lugar do ranking de clubes da UEFA, e devolve algum respeito ao clube que há 10 anos estava num modesto 86º lugar e longe das grandes discussões. As suas qualidades técnicas serão inquestionáveis, e pecará apenas em termos de gestão física e psicológica do plantel. Seria irónico que Pinto da Costa o fosse buscar agora para o FC Porto, uma vez que Vítor Pereira estará também de saída. Na eventualidade de conquistar o título europeu para os dragões no próximo ano em pleno Estádio da Luz, seria um golpe de teatro colossal. E suicídios em massa entre os tais seis milhões, um desfecho digno de novela mexicana. Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos.

Crystal Palace na Premier League


CP1-0WA 发布人 omfgoals
O Crystal Palace garantiu ontem a presença na Premier League da próxima época ao vencer o Watford na final do play-off de promoção do Championship, que se realizou ontem no Estádio de Wembley. O único golo do encontro foi obtido pelo veterano ex-internacional Kevin Phillips, de grande penalidade, já durante o prolongamento, depois de um nulo ao fim dos 90 minutos. As "águias" de Selhurst Park, finalistas da FA Cup em 1991, estão assim de regresso à divisão principal do futebol inglês oito anos depois da última presença.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O encanto das mulheres de pila


Macau à noite é uma caixinha de surpresas, um mundo de aventuras, um saco de gatos e gatas que se desunham para sair cá para fora, todas as designações gingonas que lhe quiserem dar. Para começar, Macau é uma cidade muito mais agradável de noite do que de dia. Menos trânsito, uma luz artificial que confere à cidade um elan especial, becos e travessas pitorescos onde é possível circular com relativa segurança, e muita gente gira. Os anjinhos e os irredutíveis “trabalhadeiros“ que só pensam na nota vão para a caminha cedo para depois cedo erguer e passar mais um dia na compita, e só os resistentes ficam na rua até de madrugada, dando a Macau o seu colorido em tons de vício, marginalidade e pecado. Um pecado omniforme e diverso, para todos os gostos. Um convite ao deboche e à perdição, que pisca o olho mesmo aos mais “certinhos”.

Entre a fauna que circula pelos casinos, bares e discotecas a horas proibitivas, uma das mais notórias é a das prostitutas. Mulheres da vida que procuram um pedaço desse bolo tão recheado pelo dinheiro do jogo, e dos seus agentes tantas vezes ávidos de prazeres furtivos, em busca da expressão carnal da loucura e do calor do jogo, ou apenas de um mero alívio. Macau à noite dá muita tesão, e o que não falta é onde e quem resolva o problema. Se até há dez anos já era fácil recorrer a profissionais do sexo, a proliferação de casinos, saunas, clubes nocturnos e outros locais de entretenimento nocturno multiplicou a oferta. A única semelhaça é o preçário: existem opções luxuosas, outras mais acessíveis e ainda outras mais modestas. Existe mesmo prostituição masculina que visa o mercado feminino, uma modalidade que curiosamente continua a ser tabu. Em todo o caso, ninguém fica à míngua. Há pão para todos.

Os últimos anos têm visto o aumento de um tipo de prostituição muito particular: os “ladyboys”. Para quem não sabe o que isso é (e serão poucos) basta uma simples consulta em qualquer motor de busca na net. Há quem lhes chame “travestis” ou “transsexuais”, mas em termos leigos são assim uma espécie de “mulheres com pila”. Têm uma aparência remotamente feminina, uns mais que os outros, vestem-se de mulher, usam maquilhagem e adereços femininos, alguns têm seios volumosos e outras características femininas adquiridas à custa de hormonas e cirurgia plástica, e a esmagadora maioria tem o pénis que Deus lhe deu. Existirão alguns que já realizaram a tal vaginoplastia, mas será uma minoria. Quem vai procurar uma vagina a fingir quando o que não falta por aí são vaginas autênticas? A vaginoplastia retira todo o sentido ao “ladyboy”. Vagina por vagina, opta-se por uma mulher.

Se existe nessa complicada ciência que é a Economia um princípio irrefutável é o da oferta e o da procura. Se existe oferta, existe procura. Se estes “ladyboys” andam aí, é porque há quem lhes dê negócio. Mas esperem…se isto são homens “disfarçados” de mulher, são os homens que os procuram homossexuais? Nada disso. Um homem “gay” terá preferência por outro homem, e não por um travesti, mesmo que em comum ambos tenham o objecto do desejo: o falo. Quem procura os “ladyboys” são normalmente homens assumidamente heterossexuais, muitos deles casados, e na maior parte dos casos fazem-no por “curiosidade”. Alguns tomam o gosto e repetem, em alguns casos incessantemente. Quem provou, repetiu e aprovou diz que é “uma maravilha”. O que fazem para lá da porta do quarto é do seu foro privado, e o “mecanismo” é para os mais inocentes um mistério: o que estão ali a fazer dois gajos com pila? Mais uma vez a net oferece respostas, e existem sites de pornografia especializados no assunto. Uma coisa é certa: um homem que procura um “ladyboy” tem tendências homossexuais, possivelmente recalcadas. O principal atractivo será o sexo anal, algo que a maioria das mulheres à margem da indústria porno rejeita, mas não tenho dúvidas que estes “machos” não se inibem de praticar sexo oral no “ladyboy”, e alguns vão mais além. E esta é a última fronteira, meus amigos. E aposto que dói muito.

Os “ladyboys” a trabalhar em Macau são originários da Tailândia e das Filipinas, sendo estes últimos muito mais visíveis – alguns andam pela cidade em plena luz do dia, misturando-se com a população activa. Alguns amigos dizem-me que na Tailândia os “ladyboys” operados são tão perfeitos “que se confundem com as mulheres”. Ora, esta é uma desculpa para a mais básica das rabechiches. Não existirá no mundo um único “ladyboy” que não tenha pelo menos uma característica que o denuncie. E mesmo que a transformação se aproxime da perfeição, existe sempre uma dúvida, um soar de alarme do instinto masculino, de quem provou mulheres e sabe o que é uma mulher equipada com vulva, clitoris e trompas de falópio, tudo como deve ser. No caso de dúvida o melhor é mandar para trás. E quem diz que não se importa…bem, cada um sabe de si. Mas cuidado, que pode ser o princípio de uma tendência que pode resultar em desastre. Qualquer dia acordam ao lado de uma dessas mulheres…de pila.

Rosberg vence no Mónaco



Nico Rosberg (Mercedes) venceu este domingo o GP do Mónaco, marcado por vários acidentes que forçaram a entrada do "Safety car" em duas ocasiões, uma delas depois de uma interrupção de corrida devido a um choque frontal de Pastor Maldonado (Williams-Renault) numa barreira de pneus.

Para Rosberg esta foi a segunda vitória da carreira e logo 30 anos depois do triunfo do pai neste traçado.

O grande beneficiado com a confusão instalada acabou por ser Sebastian Vettel (Red Bull-Renault), que foi segundo e voltou a ampliar a vantagem para os perseguidores no Mundial de Pilotos.

Mark Webber, companheiro de equipa de Vettel na Red Bull, completou o pódio.

O pólo oposto ficou Fernando Alonso, que foi 7.º, depois de largar do sexto lugar, perdendo assim o que tinha recuperado com o triunfo em Barcelona.

Kimi Räikkönen (Lotus Renault) ainda teve pior sorte, pois o 10.º lugar rende apenas um ponto, e significa perda de vantagem para o terceiro classificado, Alonso.

Após seis (de 19) GP, Vettel soma 107 pontos, com 21 de vantagem para Räikkönen e 29 para Alonso.

A próxima prova do Mundial é o GP do Canadá, que terá lugar em Montreal, entre 7 e 9 de junho.

Classificação da corrida:

1. Nico Rosberg (Alemanha), Mercedes, 2h17m52s056
2. Sebastian Vettel (Alemanha), Red Bull-Renault, a 3.888s
3. Mark Webber (Austrália), Red Bull-Renault, 6.314s
4. Lewis Hamilton (Grã-Bretanha), Mercedes, a 13.894s
5. Adrian Sutil (Alemanha), Force India-Mercedes, 21.477s
6. Jenson Button (Grã-Bretanha), McLaren-Mercedes, a 23.103s
7. Fernando Alonso (Espanha), Ferrari, a 26.734s
8. Jean-Éric Vergne (França), Toro Rosso-Ferrari, a 27.223s
9. Paul Di Resta (Gã-Bretanha), Force India-Mercedes, a 27.608s
10. Kimi Räikkönen (Finlândia), Lotus-Renault, a 36.582s
11. Nico Huelkenberg (Alemanha), Sauber-Ferrari, a 42.572s
12. Valtteri Bottas (Finlândia), Williams-Renault, a 42.691s
13. Esteban Gutiérrez (México), Sauber-Ferrari, a 43.212s
14. Max Chilton (Grã-Bretanha), Marussia-Cosworth, a 49.885s
15. Giedo van der Garde (Holanda), Caterham-Renault, 1.02.590s

Mundial de Pilotos:

1. Sebastian Vettel, 107
2. Kimi Räikkönen, 86
3. Fernando Alonso, 78
4. Lewis Hamilton, 62
5. Mark Webber, 57
6. Nico Rosberg, 47
7. Felipe Massa, 45
8. Paul Di Resta, 28
9. Romain Grosjean, 26
10. Jenson Button, 25
11. Adrian Sutil, 16
12. Sergio Pérez, 12
13. Daniel Ricciardo, 7
14. Nico Huelkenberg, 5
15. Jean-Éric Vergne, 5


Mundial de Construtores:


1. Red Bull-Renault, 164
2. Ferrari, 123
3. Lotus-Renault, 112
4. Mercedes, 109
5. Force India-Mercedes, 44
6. McLaren-Mercedes, 37
7. Toro Rosso-Ferrari, 12
8. Sauber-Ferrari, 5

E a Taça foi para o berço



Oscar Cardozo agride Jorge Jesus - FOOTAZO.com 发布人 footazo
O V. Guimarães conquistou ontem a Taça de Portugal ao bater o Benfica na final do Estádio do Jamor por 2-1. O Benfica adiantou-se no marcador aos 30 minutos, com Gaitán a ser bafejado com a sorte, ao colocar o pé na frente de um alívio do defesa Kanu e a ver a bola parar no fundo das redes de Douglas. O Benfica foi gerindo a vantagem, mas voltou a "afundar" no fim, demonstrando algum desgaste que não lhe permite manter o mesmo ritmo durante os noventa minutos. Os vimarenenses acreditaram, e em apenas dois minutos deram a volta ao resultado, com golos de Soudani, aos 79, e Ricardo aos 81. O guardião Arthur fica mal na fotografia em ambos os lances, especialmente no primeiro, em que coloca a bola nos pés de um jogador do Guimarães ao tentar colocar a bola no ataque no Benfica. No final da partida alguns jogadores encarnados ficaram de cabeça perdida, e o paraguaio Oscar Cardozo empurrou o treinador Jorge Jesus, aparentemente agastado pela sua substituição aos 70 minutos.

Foi a sexta final dos vimarenenses, que assim conquistam a segunda competição mais importante a nível doméstico pela primeira vez. Um prémio para os esforçados conquistadores, que se debateram com problemas financeiros durante a época, chegando a vender alguns jogadores chave e recorrendo a soluções na equipa "B". Mérito para o treinador Rui Vitória, que apesar das contrariedades, nunca bateu com a porta, e deixou assim o clube da cidade-berço na fase de grupos da Liga Europa. O Benfica tornou um ano que podia ser de sonho num pesadelo; com quatro pontos de vantagem sobre o Porto a três jornadas do fim da Liga e nas finais da Taça e da Liga Europa, os encarnados venceram apenas um dos últimos cinco jogos da temporada, terminando com zero títulos. Caso Jorge Jesus se mantenha como treinador, deverá repensar na gestão do plantel, visto que a equipa claudicou sobretudo na parte final dos jogos decisivos. Pouco adianta vencer durante toda a época e perder na hora da verdade.

domingo, 26 de maio de 2013

Macau terra estranha


A actriz portuguesa Margarida Vila Nova foi convidada de Pedro Fernandes, o “Pacheco”, no programa “Cinco para a meia-noite” da última quinta-feira. Como muitos sabem, Vila Nova mudou-se de armas e bagagens para Macau há alguns anos, onde abriu no Albergue da Santa Casa, no Bairro de S. Lázaro, uma mercearia onde vende produtos portugueses tradicionais, alguns deles difíceis de encontrar na maior parte dos supermercados, mesmo em Portugal. Quem conhece a tal loja, que se chama exactamente “Mercearia Portuguesa” apercebe-se de imediato da sua exiguidade. Não cabe ali um Fiat 600, e os produtos estão dispostos em pequenos armários na ordem de um de cada espécie. Só lá fui uma vez e não comprei nada, mas desconfio que existirá algures no Albergue um armazém ou algo assim onde estão guardados os produtos. O que está à vista dificilmente justifica a existência da mercearia.

Margarida Vila Nova vai ficar por Portugal até finais de Julho em trabalho, depois de um ano de ausência a tomar conta da loja no Oriente. Nunca percebi a motivação de um actriz com créditos firmados em Portugal em vir para tão longe, como que em exílio, para vender sabonetes e latas de atum. Ela lá deve saber porquê. Mas voltando ao programa, Pedro Fernandes não resistiu em falar de Macau, e mal saíu a primeira piadola foleira, já dava para adivinhar que não ia ficar por ali. Mais uma vez falar da China e dos chineses, mesmo que neste caso de uma realidade diferente que é Macau, deu merda da grossa. Já tinha acontecido o mesmo com Jaime Pacheco, que passou dois anos em Pequim a treinar o Beijing Guo’ an, e volta agora a repetir-se. Alguém devia pôr uma providência cautelar que impedisse o Pacheco de entrevistar pessoas que tivessem passado pela China. No fim ele até agradecia, depois de visualizar a figura de parvo que faz ao insistir nesta brincadeira.

Não entendo que mania é essa de perguntar a quem passou pela China se comeu cão, se os produtos aqui são todos idênticos aos da loja dos chineses em Portugal, e outras ideias-feitas e preconceitos ridículos, onde não falta sequer aquela musiquinha parva que aparecia nos filmes americanos de há 60 anos, que nem sequer é chinesa, ou o som de um gongo. Quando a actriz disse que tinha um filho de 8 e outro de 4 anos o entrevistador perguntou-lhes “se já estavam a trabalhar”, uma indirecta ao trabalho infantil na China. A única coisa que se aproveitou foi a referência ao negócio da mercearia: “Eles lá [em Macau] compram os produtos portugueses, e nós aqui compramos os deles”. Não tem muita piada, mas pelo menos é bem visto. A convidada foi respondendo com alguma passividade, não dando muita importância à verborreia. Este é um mecanismo de defesa que adquirimos com a vivência em Macau; aturamos os disparates e as bocas, e nem nos incomodamos a dar muitos detalhes ou explicar que “não é bem assim”. Aí a Margarida Vila Nova mostrou que se adaptou bem à sua nova casa.

Depois foi aquilo que vemos no vídeo acima. Pacheco e Vila Nova fazem assim uma espécie de “work-shop” sobre representação (pelo menos foi essa a desculpa), usando para o efeito filmes com motivos “orientais”. Não podia faltar a habitual referência ao kung-fu – muitos ocidentais pensam que todos os chineses sabem lutar kung-fu, se calhar nasceram ensinados – e a palhaçada foi rematada com o Império dos Sentidos, como não podia deixar de ser. Só tive pena que não fossem em frente com a cena do ovo. Pelo menos tinha algum valor em termos de entretenimento. Um momento deveras infeliz deu-se quando o Pacheco testou os conhecimentos da entrevistada na língua chinesa, com a ajuda de um tradutor com voz. Foi patético assistir ao apresentador a tentar pronunciar as palavras e as piadas que fazia com alguns dos sons, e fiquei desiludido com os poucos conhecimentos da Margarida. (Eu nem devia falar, pois estou cá há 20 anos e o meu chinês é medíocre, mas olhando de cima pode ser mesmo embaraçoso não conhecer algumas expressões mais básicas, pelo menos).

Adoro o Cinco para a meia-noite, esforço-me para acordar mais cedo para ver o programa, e o Pacheco continua a ser o meu apresentador favorito do quinteto. Não é a sua completa ignorância sobre uma cultura diferente da sua e a forma como recorre nestes casos ao humor rasteiro e fácil que me faz gostar menos dele. Só acho que se calhar o Pedro devia dar aqui um pulinho a Macau quando tiver mais tempo, e já agora aproveitava e ficava também a conhecer o interior da China, nem que seja apenas Cantão. Assim podia ser que alargasse os horizontes e deixasse de pensar que os chineses são criaturas misteriosas, completamente diferentes de nós, e que nunca nos passaria pela cabeça encontrar pontos em comum entre as nossas culturas. Envergonha-me pensar que alguém acha graça a este tipo de humor com uma carga xenófoba, que certamente nos indignaria caso outro povo o fizesse connosco. Chego a ter pena dos chineses a residir em Portugal e que têm que aturar esta palhaçada. Não lhes passa pela cabeça que talvez alguns deles assistam ao programa e não achem lá muita piada a esta insistência que são vistos como bichos raros? Se calhar também estão vacinados, como nós que aqui vivemos.

O mais irónico – e triste – é que não nos incomoda estarmos a patronizar um país que é a segunda economia mundial, com um crescimento invejável, enquanto a nosso está arruinado e de tanga, com a mão estendida. É difícil rir, perante as evidências. Talvez fosse mais recomendável aprender qualquer coisa com os chineses do que fazer piadas com restaurantes onde se come cão, ou gajos de olhos em bico e roupões amarelos com desenhos de dragões que lutam kung-fu. Não é necessário renunciarmos à nossa lusitanidade e começar a trabalhar doze horas por dia e aos Domingos, censurar a imprensa, impôr uma ditadura de partido único ou aplicar a pena de morte. Basta pensar um bocadinho e chegar à conclusão: “olha, estes gajos podem ser diferentes, mas parvos é que não são”.

PS: Além da Margarida Vila Nova foi também convidada Marine Antunes, a tal moça que sobreviveu ao cancro e agora encoraja outros doentes a encarar a doença com humor. Continuo a achar que este “humor” é de mau gosto, e as minhas suspeitas confirmaram-se depois de assistir ao reportório de “stand-up” da Marine – um desastre, para ser simpático. O que achei mesmo graça foi à forma como carrega nos “r”. Será a Marine uma “charroca”? Sarrdinha e carrapau frrito!

Foste fu, ó Miguel


Tira o dedo do nariz, Miguelito

Miguel Sousa Tavares está metido num belo sarilho. O escritor e jornalista deu uma entrevista ao Jornal de Negócios onde insultou o Presidente da República, Cavaco Silva, chamando-o de palhaço. O país é livre, e por isso mesmo Cavaco Silva tem todo o direito de se sentir ofendido, e apresentou queixa contra MST por ofensa à honra. A Procuradoria Geral da República abriu um inquérito, considerando as afirmações do jornalista susceptíveis de configurar crime de ofensa à honra do PR. MST admite que se excedeu e cometeu um deslize, mas mesmo assim insiste que a afirmação foi publicada “fora de contexto”. O que está escarrapachado na capa do Jornal de Negócios é isto: “Beppe Grillo? Nós já temos um palhaço. Chama-se Cavaco Silva”. Se MST não disse exactamente isto, disse o quê? E em que contexto é passível outra interpretação que não seja esta? MST insultou Cavaco Silva, e este na qualidade de cidadão com direito ao seu bom nome processou-o. Pouco importa que esteja em causa o Presidente da República, figura maior do Estado Português. É o cidadão que se sente lesado, como qualquer outro teria o direito de se sentir.

Este sr. Sousa Tavares, que há muito evidencia uma arrogância que o leva a ter a mania das grandezas, julga-se tão iluminado que pensa que pode dizer o que quiser sem que disso advenham consequências. O seu (discutível) contributo para a literatura e a sua (cagativa) frontalidade levam-no a pensar que é o dono da verdade, e que ninguém se atreve a refutar as suas postas de pescada. Do alto da sua presunçosa figura terá julgado que chamando “palhaço” ao PR seria ovacionado de pé pelo povo, que afinal anda irritado com os políticos, e por isso até vai achar piada e levá-lo em braços até um pedestal dourado onde depois prestaria romagem diária, trazendo-lhe flores e frutas frescas. Felizmente o povo consegue distinguir descontentamento de má-educação e ordineirice da mais básica. Talvez MST tenha interpretado literalmente o que dizem de Cavaco Silva, que o PR anda “muito distraído”, e a “dormir”. Mediu mal, enganou-se e agora lixou-se. O mais irónico é que se tivesse sido um blogger anónimo, daqueles que o MST diz cobras e lagartos e provocam-lhe fúrias que o levam a arrancar os cabelos, a chamar Cavaco de “palhaço”, provavelmente nada acontecia. Justiça poética? Gosto de pensar que sim. Foste fu, ó Miguel.

Liga de Elite - 15ª jornada


Disputou-se a 15ª jornada da Liga de Elite de Macau, sem surpresas, com os quatro primeiros a vencer as suas partidas com mais ou menos dificuldade, e a alargar ainda mais o fosso entre as restantes equipas. A jornada arrancou na sexta-feira com duas formações da parte terminal da tabela, com o Chau Pak Kei a golear os Sub-23 por 4-1. O CPK garantiu a manutenção no escalão principal, enquanto os jovens apoiados pela AFM teimam em não pontuar, somando por derrotas os quinze jogos realizados.

No Sábado realizou-se o Lam Pak-Polícia, que em tempos foi um classic do futebol macaense, com os azuis e brancos a vencerem por expressivos 5-1. Esperava-se uma melhor replica por parte da formação da PSP. Wilton Gilberto esteve em destaque pelo Lam Pak ao apontar um "hat-trick". De seguida o Monte Carlo não deixou os seus créditos por mãos alheias e segurou a liderança da Liga ao bater o Lam Ieng por 3-0, como golos de Rafael Medeiros, Daniel Santana e o jovem internacional Leong Ka Hang.

Já hoje o Benfica viu-se e desejou-se para bater o combative Kuan Tai pela margem minima, com o único golo do encontro a ser apontado por Pio Júnior aos 47 minutos. A encerrar a jornada o Ka I goleou o aflito Kei Lun por expressivos 6-0, com o artilheiro do campeonato, Nicholas Torrão, a apontar mais dois golos. O Kei Lun ainda resistiu durante o primeiro tempo e foi para o descanso a perder apenas por um golo, mas na etapa complementar faltaram "pernas" para resistir aos argumentos do tri-campeão.

Monte Carlo lidera a classificação com 42 pontos, Benfica e Ka I-39, Lam Pak-33, Kuan Tai-18, Polícia-17, Chau Pak Kei-15, Lam Ieng-13, Kei Lun-7 e Sub-23-0.

A lotaria da vida


O milagre de dar à luz uma nova vida pode ser uma alegria para uma mulher, mas até neste particular há países onde dá gosto ser mãe, e outros onde se deve pensar duas vezes antes de trazer outra criança ao mundo. Tristemente mais de 3 milhões de crianças por ano morrem no primeiro dia de vida, enquanto 40 milhões de mulheres dão à luz em casa sem a assistência de um medico ou de uma parteira qualificada. Diariamente morrem 800 mulheres durante a gravidez ou no parto. Num ranking baseado em qualidade dos cuidados médicos a parturientes e recém-nascidos, incentivos governamentais à natalidade e taxa de mortalidade infantil em 176 países, a Finlândia é o melhor para se ser mãe. A Escandinávia em geral é um paraíso para as mamas, com Suécia, Noruega, Islândia e Dinamarca a ocupar os primeiros lugares, com os Países Baixos a “intrometerem-se” no quinto posto. Espanha, Bélgica, Alemanha a Austrália completam o top-10. Apesar de assegurarem com um elevado grau de certeza que o nascimento de uma nova vida é realizado com segurança, estes são países que se encontram a braços com uma baixa taxa de natalidade. É caso para dizer que dá Deus nozes a quem não tem dentes. Os dez piores países para se ser mãe são todos em Africa, sem surpresa. A Rep. Democrática do Congo é o pior, seguido da Somália, Serra Leoa e Mali.

Mas se nascer com qualidade e segurança é importante, não menos importante é onde. Ninguém pode escolher o país Natal, e aqui a sorte desempenha um papel fundamental. Numa lista que atende a factores tão diversos quanto a esperança media de vida, taxa de divórcios, igualdade entre generous e até a pluviosidade media annual, a Suíça é actualmente considerada o melhor país para se nascer. Se aos suíços saíu a sorte grande na lotaria da vida, aos australianos saíu a terminação, com um garboso segundo lugar numa lista de 80 países. Segue-se o continente escandinavo, Suécia, Noruega e Dinamarca, surgindo Singapura em sexto lugar, com Hong Kong em 10º, curiosamente à frente da Finlândia. Portugal partilha o 30º lugar ao lado da Costa Rica, o que torna a portugalidade pouco convidativa. A China ocupa o 49º lugar, enquanto a Nigéria é o pior país da lista para se ver pela primeira vez a luz do dia. Existirão outros piores certamente, uma vez que recordo que são dados relatives a apenas oitenta estados.

Depois de se nascer em condições num país que ofereça perspectivas de uma boa qualidade de vida, é preciso pensar em adquirir uma educação que nos permita competir no exigente mercado de trabalho, o que se vem tornado cada vez mais um problema em todo o mundo. A OCDE ponderou factores como o rendimento per capita, literacia geral e número de habitantes com um curso superior para determinar os países mais educados do mundo. Aqui o vencedor é o Canadá, seguido de Israel, Japão, Estados Unidos e Nova Zelândia. A Coreia do Sul aparece à frente do Reino Unido e da Finlândia, e o top-10 fica completo com Austrália e Rep. Irlanda. Curiosamente dos dez países mais educados do mundo, a maioria deles – seis – tem o inglês como lingua oficial.

Depois de terminar um curso e encontrar um emprego, é importante viver em paz, com a tranquilidade de um risco reduzido de levar um tiro ao sair de casa ou rebentar uma mina e ir pelos ares. Assim, e de acordo com o Indice de Paz Global, compilado pelo Instituto para a Paz e Economia, a gelada Islândia é o país mais pacifico do mundo, seguido pela Dinamarca e Nova Zelândia ex-aequo, e pelo Canadá e Japão. Portugal fica bem classificado nesta lista, em 16º lugar, muito à frente da Espanha, França, Reino Unido e Itália, por exemplo. Os Estados Unidos, o país da liberdade por excelência ocupa um vergonhoso 88º posto, logo à frente da China. Este índice que avalia a paz é dependente de um frágil equilíbrio. A Síria, por exemplo, desceu 30 lugares depois do início da Guerra civil, ocupando o 147º lugar entre 158 países. Mesmo assim consegue ser melhor que Sudão, Afeganistão e Somália, os países mais perigosos do mundo.

Posto isto, boa sorte para os futuros recém-nascidos. Façam o possível por nascer num país ocidental, de preferência europeu e se possível escandinavo. No evento de nascerem a oriente, optem pelo Japão, Singapura, Coreia do Sul ou Hong Kong, ou melhor ainda, um pouco mais a sul na Austrália ou na Nova Zelândia. Em todo o caso evitem a Africa e a América Central. E façam o favor de ser felizes.

A pedra dos porcos


As qualidades terapêuticas da marijuana são uma tema controverso, com uma legião respeitável de apoiantes da liberalização da cannabis para fins médicos e recreativos, e outros que a consideram um narcótico e defendem o seu estatuto de substância ilegal. Seja como for, uma quinta-modelo em Seattle conduziu uma experiência que pelo menos prova a relação entre o consumo da planta e o aumento do apetite. Pelo menos nos porcos. Assim um grupo de porcos foi alimentado com ração normal, enquanto a outro grupo foi adicionada uma dieta de restos da planta de cannabis – na maioria ramos e sementes. Passado algumas semanas o segundo grupo pesava mais que o primeiro, uma diferença de 9 a 14 quilos. E não é tudo: o proprietário de um talho a que foram vendidas as carcaças dos porcos “temperados” diz que a sua carne é “mais saborosa”. A experiência tem uma agenda escondida, pois o estado de Washington, onde se situa Seattle, está a estudar uma proposta no sentido de liberalizar o uso de cannabis, uma lei que será em tudo semelhante à existente nos Países Baixos, onde o consumo é permitido a maiores de 18 anos em locais apropriados para o efeito. A questão agora prende-se com a actual quantidade de THC (tetra-hidrato de cannabinol), a substância alcalóide activa da marijuana, existente na porção administrada aos suínos. A planta da marijuana, depois de removido o THC, é utilizada no fabrico de roupas e outros artefactos, e o seu uso é permitido em alguns países.

Seculares e secos


Más notícias para os amigos dos copos na Turquia. O governo turco visa implementar legislação que reduza o consumo de álcool, com restrições severas e punições rigorosas. Assim a nova lei proíbe a venda de bebidas alcoólicas entre as 10 da noite e as seis da manhã, e a proibição total junto de mesquitas e estabelecimentos de ensino. A lei proíbe ainda a publicidade ao álcool e censura imagens de cervejas e bebidas espirituosas na televisão, além de impôr penas mais duras a quem conduza embriagado. As novas medidas visam reduzir o consumo de álcool entre os mais jovens, que é actualmente o mais elevado de sempre. A Turquia é um país islâmico que pratica o secularismo, a separação do estado e da Igreja. Os opositores da nova legislação acusam o partido no poder, o conservador AK Parti, de querer impôr no país uma agenda islâmica. A aprovação da lei depende mesmo assim da aprovação do presidente Adullah Gul, que tem poder de veto. Contudo não se avista um futuro muito risonho para os bêbados turcos, uma vez que Gul é também originário do partido no Governo.

Sozinho e decadente


Muitos se recordarão certamente de Macaulay Culkin, o adorável protagonista dos filmes “Home Alone” que o transformaram numa celebridade num milionário aos 10 anos de idade. Mas o dinheiro os paizinhos encarregaram-se de gastar, claro, que o miúdo ia gastar tudo em chocolates, e a adolescência foi um revés na carreira do pequeno, que perdeu a piada e deixou de ser convidado para fazer filmes. Culkin tem agora 32 anos e um longo historial de problemas com a lei e com o consumo de estupefacientes. O ano passado conseguiu deixar a heroína, um hábito que lhe custava 6 mil dólares (48 mil patacas) por mês, mas agora fuma desenfreadamente, chegando a consumir mais de três maços por dia. Os amigos e familiares estão preocupados, alguns dizem que a ex-estrela tem os dentes amarelados e uma tosse suspeita, e que durante o tempo que passa acordado não dispensa o tabaco, e é sempre visto com cigarro na boca. Algumas fontes atribuem esta nove “crise” de Kulkin ao fim do relacionamento com a sua namorada, uma “stripper”, e a uma confrontação física com um fotógrafo à saída de um bar em Brighton, no Reino Unido. Uma fábula de ascensão, queda e decadência a um ritmo vertiginoso.

E tudo o vento levou


Uma mulher de 37 anos da Florida esfaqueou o namorado depois deste se ter peidado na sua cara. Deborah Ann Burns foi detida depois de ter atirado uma faca com uma lâmina de 20 cm ao seu namorado, que ficou com cortes no abdómen e no braço esquerdo. O incidente deu-se no dia 7 de Maio, quando o casal discutia enquanto via televisão. A certa altura o namorado de Deborah aproxima-se do seu rosto e solta um sonoro traque, como que a mandando à merda, enfim. Deborah ficou naturalmente incomodada com a atitude do companheiro, e censurou a sua atitude. O namorado, nada arrependido, gritou-lhe, mandando que se calasse. Foi aí que a senhora perdeu a paciência a atirou-lhe com a faca, evidenciando uma pontaria que em termos de precisão nada ficou a dever ao peido que a atacou. A polícia encontrou a vítima a sangrar à porta de casa, depois de ter recebido uma chamada dando conta de um distúrbio doméstico. A julgar por esta fotografia tirada após a detenção, Deborah não parece arrependida da agressão, ou sequer incomodada pelo gás que passou pelo rosto nessa noite.

Quem insiste nem sempre alcança


O video do momento. Um motociclista na cidade chinesa de Lianzhang, na província de Anhui, é provavelmente mais desastrado do mundo. Depois de embater em vários carros e de frente com uma carrinha, acaba por cair num buraco. As imagens foram gravadas em Março, mas fazem agora furor nas redes sociais na China. Um filme pouco abonatório para a credibilidade dos motociclistas asiáticos em geral.

Bayern pentacampeão europeu


O Bayern de Munique sagrou-se pela quinta vez campeão europeu ao derrotar o Borussia de Dortmund por duas bolas a uma na final da Liga dos Campeões, que se disputou esta noite no Estádio de Wembley, em Londres. A primiera final da principal prova da UEFA completamente alemã foi bem disputada, e o futebol de ataque que caracteriza o futebol teutónico ficou bem representado, com muitas oportunidades para os dois lados, com defesas espectulares de ambos os guarda-redes. O Dortmund mostrou cedo que queria conquistar o troféu pela segunda vez, e exerceu um domínio inicial sobre os bávaros. Valeu à equipa de Munique a inspiração de Manuel Nuer, que manteve as suas redes invioláveis com um punhado de grandes defesas. O nulo que se verificava ao intervalo não reflectia a predesposição de ambas as equipas em chegar ao golo. No segundo tempo o Bayern justificou a sua condição de favorito e chegou ao golo aos 60 minutos pelo artilheiro da equipa Mandzukic, que aproveitou um alívio deficiente da defesa adversária após um cruzamento-remate de Robben, a passe do francês Ribery, que desenhou grande parte da jogada. O Dortmund não baixou os braços, e chegaria ao empate aos 68 minutos por Gundogan, na transformação de uma grande penalidade a castigar uma falta de Dante sobre Marco Reus na área do Bayern. A falta parece indiscutível, mas o árbitro italiano Rizzoli errou ao não expulsar o defesa brasileiro, que já tinha visto um cartão amarelo na primeira parte. O Bayern correu atrás do prejuízo, e Robben decidiu a partida numa altura cirúrgica, aos 89 minutos, quando muitos já pensavam no prolongamento. Mérito do internacional holandês, que depois de receber a bola à entrada da área “livrou-se” de três defesas e na cara do impotente Weidenfeller rematou para o fundo das redes. O Dortmund ficou sem reação, foi um digno vencido, mas o Bayern levantou o troféu. Foi o segundo título de Jupp Heynckes como treinador, depois de ter vencido em 1998 com o Real Madrid. O técnico alemão deixará o clube depois da final da Taça da Alemanha, frente ao Estugarda, no próximo dia 2. Caso vença, o treinador sai depois de conquistar as três principais competições em que esteve envolvido, e para o seu lugar entra Josep Guardiola. Avizinha-se uma tarefa complicada para o catalão, pois fazer melhor será impossível.

sábado, 25 de maio de 2013

Amôchai Divoto - Doçi de eleição


O grupo Doçi Papiaçam di Macau levou hoje ao Centro Cultural a sua nova peça em patuá, "Amôchai Divoto", mais uma paródia aos costumes e à actualidade do território, e coincidentemente em ano de eleições para a Assembleia Legislativa, que se realizam a 15 de Setembro. Antes de mais nada gostava de dizer que gostei muito, ri muito, algumas vezes até às lágrimas, e as duas horas que o espectáculo durou foram pontualmente abrilhantados com momentos de puro génio. Posto isto penso que ficou algo por dizer. As eleições legislativas em Macau, que se realizam de quatro em quatro anos, têm características que serão únicas do mundo. Aspectos como a corrupção eleitoral, a compra de votos, as jantaradas oferecidas pelas associações ou o transporte até às urnas providenciado por algumas listas aos eleitores ficaram de fora. Não sei se foi por timidez ou mero esquecimento, mas o argumento poderia ter sido mais enriquecido satirizando estes preciosos detalhes.

Gostava de começar por falar do tema de abertura, da música de introdução ao genérico. Estranho, é o mínimo que se pode dizer. Não quer dizer que foi mau, mas tendo em conta a riquíssima tradição musical maquista, com um vasto reportório de música ligeira em patuá, qualquer coisa dentro do estilo de Armando Santos ou dos Thunders seria uma abertura com Chave de Ouro. Quanto ao argumento propriamente dito, foi mais uma vez estruturado na base de "Romeu e Julieta": dois amantes oriundos de famílias macaenses rivais procuram ultrapassar os obstáculos, contrariedades, reprovação dos pais, etc, etc. Pode parecer um modelo mais que visto, mas quem conhece Macau e a sociedade maquista conhece bem alguns casos concretos de "rivalidade" entre famílias locais. O macaense é orgulhoso por natureza, e uma simples discussão sobre quem faz o melhor Minchi pode ser suficiente para provocar desaguisados entre os clãs. Macau sã assi.

Quanto ao tema de fundo, as eleições, o enredo foi bem conseguido, apesar de alguma confusão inicial. As famílias rivais, os Salvino e os Serafim, apoiam listas diferentes, ambas encabeçadas por empresários chineses de Macau. As referências à facilidade com que algumas individualidades se candidatam a deputado pelo simples facto de ter dinheiro, apesar da inexperiência e a falta de preparação para exercer um cargo politico, ou a forma incondicional como alguns sectores os apoiam, à margem da componente ideologica ou do próprio programa eleitoral foram bem conseguidas. Em Macau muitas vezes apoia-se uma lista concorrente às eleições "porque sim", e pouco importa que o candidato tenha o perfil adequado para se sentar na Assembleia Legislativa. O mais importante é que uma vez lá chegando, o apoio sera devidamente recompensado. Pelo menos em teoria. Existe uma enorme sede de protagonismo aliado a uma vontade de se tornar conhecido. Mistérios do ego, que certamente encontram paralelo noutras paragens mais distantes. Política é igual em toda a parte, mesmo que Macau seja revestida de algumas características especiais.

Quanto às interpretações, nota-se que o encenador Miguel Senna Fernandes preparou os actores com esmero. Os cabeça-de-lista são Pau Cheng Kit (Machi Chon) e Augusto Lam (Lou Pui Leong). Os dois actores, presenças regulares nos Doçi nos últimos anos, estiveram brilhantes no papel de dois simplórios novo-ricos e bem falantes mas com uma visão muito própria do fenómeno da política, e que disfarçam mal a intenção de usar um eventual lugar de deputado em proveito próprio, ou dos seus interesses pessoais. Os candidatos são apoiados por duas famílias macaenses que transportam a sua rivalidade para o terreno da campanha. Paulo Salvino (Carlos Anok Cabral, agora mais magro) e Aninha Salvino (Fátima Gomes) dão a cara por um dos candidatos, tendo como antagonistas Bibito Serafim (Sharoz Pernencar) e Ercila Serafim (Marina Senna Fernandes). O desempenho dos actores foi esforçado e competente. É o mínimo que se pode dizer. Mas esmiuçemos alguns aspectos da representação das estrelas "maquistas".

Carlos Anok Cabral vai-se afirmando como recorrente nas peças dos Doçi, e Fátima Gomes é uma natural, que evidencia uma paixão e uma dedicação à causa do teatro em patuá. Sharoz Pernencar esteve muito melhor que no ano passado, e parece mais à vontade num papel que possa desenvolver e atribuír um cunho próprio. Corre menos bem quando lhe é dado um "momo" que se limita a dizer "agora Macau...", tecendo aleatoriamente considerações sobre a actualidade. Em suma, está mais à vontade como "character-actor" do que no género de "stand-up". Marina Senna Fernandes, que no ano passado tinha sido a minha preferida, voltou a encantar-me. Que talento, que presença em palco, que maravilha é vê-la representar. Terá passado ao lado de uma grande carreira, sem exagero. Com a formação adequada seria uma estrela de categoria mundial. O seu papel serviu-lhe que nem uma luva. Quase todos terão reparado que a sua personagem foi inspirada - decalcada mesmo - em Rita Santos, evidente nos gestos, no penteado e na indumentária. Se dúvidas restassem, cantou o tema Yue Liang, como a própria Rita Santos celebremente fez na Casa de Macau em S. Paulo em 2007 (veja aqui o video). Para compôr ainda mais o "boneco", Sharoz foi o "seu" José Pereira Coutinho, se bem que em comum terão o facto de partilharem a etnia Indiana. Sei que Pereira Coutinho esteve este Sábado no Centro Cultural, mas não vi Rita Santos. Se lá esteve deve ter-se sentido em frente ao espelho, num tom acima. Adoro-a, Marina. Sou seu fã incondicional.

Os personagens principais, os tais amantes ao estilo de Romeu e Julieta, eram Amália "Mali" Salvino (Isabela Pedruco, uma das quatro irmãs Pedruco que venceram o concurso Miss Macau nos anos 90), e Ernesto "Nené" Serafim (José Basto da Silva). Isabela e Basto da Silva tiveram desempenhos competentes, dentro do mínimo que se pedia para os seus papéis. A falta de protagonismo deriva do facto de não lhes ter sido dado um papel humorístico. Foram remetidos à seriedade dos seus personagens. Alfredo Ritchie, José Carion Jr. e Luís Machado voltaram a marcar presença, e estiveram bem, habituados que estão a estas lides, demonstrando mais uma vez que o teatro em patuá é para eles uma paixão. Destaque para Sónia Palmer e Aleixo Siqueira no papel de um casal que foi viver para uma das moradias económicas em Seac Pai Van, e cuja exiguidade trouxe consequências para a sua postura. Um momento hilariante, e não vou estragar a surpresa para quem ainda vai assistir ao espectáculo este Domingo. Outro momento alto foi a crítica aos manifestantes "à Macau", com alguns personagens bem conhecidos do público em geral a surgirem na plateia empunhando cartazes, ao que se juntaram ainda outros "puxando a brasa à sua sardinha". Um momento que nos fez lembrar que em Macau a melhor maneira de ser ouvido é dando nas vistas.

Finalmente os videos, que já são uma componente indispensável do espectáculo. Os pequenos filmes realizados por Sergio Perez dão aos Doçi uma oportunidade para ir mais além, dando largas à imaginação e o mais importante, dando-lhes a possibilidade de fazer mais do que o palco lhes permite. Adorei o service noticioso, apresentado por José Luís Pedruco Achiam, e com destaque para o momento de opinião de José Rocha Dinis, que comenta habitualmente às segudas-feiras a actualidade de Macau no Telejornal da TDM. Apreciei o sentido de humor e o desportivismo do director do Jornal Tribuna de Macau, e quem sabe se podia aproveitar alguma daquela frontalidade em futuras aparições televisivas. É mais fácil justificar o que por vezes é injustificável recorrendo a uma pitada de humor. Outro momento alto foi o "guia de sobrevivência em Macau", apresentado por Paula Carion (curiosamente a Paula não domina a língua portuguesa mas está muito à vontade com o Patuá), e um tempo de antena eleitoral. Este ultimo foi um momento de chorar a rir, e o mais bem conseguido foi executado pelo próprio Miguel Senna Fernandes, que nem precisou sequer de abrir a boca, recorrendo apenas à expressão corporal. Talvez o grupo já tenha ouvido isto antes, mas penso que existe ali potencial para uma série televisiva humorística "Made in Macau", qualquer coisa na linha de "O Tal Canal". Existem meios humanos e técnicos, mas faltará talvez tempo (afinal são todos actores amadores) e mais importante que isso, audiências que justifiquem um projecto deste tipo. É pena, pois seria uma ideia revolucionária.

Gostei da peça este ano, como gosto sempre, mesmo quando tenho algo a apontar, ou algum comentário sobre qualquer coisa que podia ter corridor melhor. Este ano notaram-se as ausências de Germano Gulherme, ou "Bibi", um dos "monstros sagrados" do grupo nos últimos anos, e de Herman Comandante, um dos especialistas em mexer com os ponteiros do risómetro. Risómetro esse que esteve activo, e senti que o público gostou da peça, e saíu satisfeito. Uma dos melhores peças dos últimos anos, talvez superada apenas por "Côza Dotô" e "Sabroso, Nunca!". Os Doçi Papiaçam comemoram em Novembro 20 anos de existência, e prometem um evento especial para assinalar a efeméride. Fico satisfeito por saber, pois fui para o espectáculo de hoje à espera de fogos de artifício. Não vi fogos mas vi um bom espectáculo. Mais uma vez estão de parabéns.