sexta-feira, 6 de junho de 2014

TAP - Take Another Plane


Ami Jones, famoso tatuador norte-americano esteve em Portugal no último fim-de-semana para participar no espectáculo Rock in Rio, onde era o responsável por uma barraca onde fazia tatuagens. Foi a primeira visita de Jones ao nosso país, que achou encantador (quem não acha?), as pessoas simpáticas, mas teve uma experiência desagradrável no regresso aos Estados Unidos, onde viajou pela nossa companhia de bandeira, a TAP Air Portugal. Já no continente americano, deixou a sua insatisfação expressa na rede social Facebook, onde tem 700 mil seguidores - é obra. Ali contou a sua experiência, dizendo que a TAP foi "de longe a pior companhia onde viajou", e promete "nunca mais embarcar num avião da companhia portuguesa". Esta foi a mensagem de Ami Jones deixada no Facebook:



Perante esta acusação, o director da comunicação da TAP Air Portugal, André Serpa Soares - leitor do Bairro do Oriente e seguidor da página do blogue no Facebook, e daqui um grande abraço para ele - contou o que realmente se passou: Ami James, que é originalmente cidadão israelita, mas radicado nos Estados Unidos, chegou atrasado ao vôo, e o balcão de "check-in" estava inclusivamente fechado. A TAP deixou-o embarcar na mesma, mas uma vez que os lugares da classe executiva estavam todos preenchidos (prática comum em muitas companhias áreas, fazer "upgrade" de passageiros na classe económica para preencher a executiva), Jones precisou de se sentar na económica. Hospedeiras e outro pessoal da TAP disseram ainda que o tatuador, que tem um programa de TV, "Miami Ink", estava "bastante mal disposto", revelando mesmo "um comportamento agressivo". Depois de uma noite bem dormida, Ami Jones repensou a sua posição e retirou o seu "post" no Facebook.

Sem dúvida que todas as companhias aéreas têm o seu quinhão de incidentes deste tipo, e por vezes o dia é da caça, e outros dias do caçador. No entanto, ao que diz respeito à TAP, e no que me toca a mim em particular, tenho sempre a tendência para ser "caçado". Comecemos por 1998, altura em que ainda se faziam os vôos de Macau para Lisboa - salvo seja, pois na ida faziam-se duas escalas, uma em Bangkok e outra em Istambul - onde no regresso o vôo foi adiado por quase 24 horas, por culpa de um pássaro que havia ficado entalado num dos motores durante uma viagem anterior realizada pelo aparelho que nos levaria directamente a Bangkok (no regresso não havia paragem em Istambul). Tudo bem, estas coisas acontecem, e durante a noite ficámos alojados nos navios ancorados em Marvila com o pretexto da Expo 98, tudo bem, mas nunca por um único instante nos disseram a razão do atraso. Houve pessoas que iam sair em Bangkok e perderam o seu "transfer", isto para não falar dos restantes - 24 horas faz diferença a muita gente. Em 2004, já agastado de uma viagem de 12 horas entre Hong Kong e Zurique, fiz a ligação a Lisboa pela TAP, e aconteceu-me um episódio semelhante ao de Ami James com o "assento". Cheguei ao meu lugar, e simplesmente...não existia assento. O assistente de bordo a quem comuniquei o sucedido foi prontamente buscar um assento que "encaixou" no lugar, e o problema ficou resolvido. Mas repito: não havia assento!

Em 2007 o caricato deu-se com uma viagem a Barcelona, quer na ida, quer no retorno. Na ida, um vôo com partida às sete da manhã do aeroporto da Portela, e pelo menos meia-hora atrasado - e foi pouco, posso mesmo assegurar que de todos os vôos da TAP que apanhei foi o que menos se atrasou. Quase à chegada o meu filho, na altura com seis anos, pede-me para ir à casa-de-banho, o que me deixou agastado, pois minutos antes da cabine pedir aos passageiros que apertassem o cinto de segurança, uma vez que nos preparávamos para aterrar, perguntei-lhe se queria ir, e disse-me que não. Já com o cinto apertado e o aparelho em rota descendente, aproveitei para pedir a uma hospedeira que fizesse o favor de o levar até à traseira do avião, e repito, estava agastado, e não por culpa da senhora, e talvez tenha escolhido mal as palavras, mas o que lhe disse foi isto: "desculpe, mas importa-se de me levar o miúdo à casa-de-banho, que por mim ele fazia nas calças". Não sei como a senhora entendeu este meu desabafo, mas de olhos muito abertos gritou: "Não me fale assim! Não sou eu que tenho xixi!", chamando a atenção do resto dos passageiros. Já sem saber em que buraco me havia de enfiar, optei pelo silêncio - ou era isso, ou um estalo na tromba da tipa. E lá acabou por levar o miúdo à casa-de-banho. Se ainda tivesse recusado, justificaria todo aquele espectáculo. No regresso de Barcelona o vôo era às 4 tarde, ou 4 e meia, não me recordo bem. Depois de uma hora de espera, coisa normalíssima para a TAP, aparentemente, o piloto diz-nos que "perderam a 'slot', e que o vôo ia sair com mais de duas horas de atraso". Coisa mais natural do mundo para nós, portuguesinhos.

Em 2010 aconteceu o pior episódio das minhas aventuras com a TAP. Ia apanhar o vôo de Londres para Lisboa, e apanhei o comboio de King's Cross para Heathrow, que minuto aqui, minuto ali, se foi atrasando. Chegados ao aeroporto da capital londrina, ainda fizemos entre 10 a 15 minutos a correr, e ao contrário do que aconteceu agora com Ami James, o balcão de "check-in" não estava fechado, e faltavam entre 45 e 50 minutos para a partida. Só que também ao contrário do tatuador americano, não nos deixaram embarcar, e a primeira coisa que o rapaz brasileiro que estava no balcão do "check-in" nos disse foi: "estas bagagens já não vão neste avião". Nem as bagagens, nem nós, naturalmente, e depois de lhe dizer "boa tarde", e perguntar o que fazer então, fomos remetidos para o balcão da TAP onde, naturalmente, gastámos mais 600 euros com três bilhetes para o vôo seguinte, três horas e meia depois. Abordei a senhora que falava português (estavam lá duas), que na altura atendia um casal de "camones" qualquer por uma coisa de nada, tenho a certeza. Perguntei-lhe se falava português, abanou a cabeça afirmativamente, e disse "ainda bem", com esperança de ver o problema resolvido de uma forma menos dispendiosa, mas mal acabei de lhe dizer este "ainda bem", e antes que pudesse explicar a situação, berrou comigo: "Não vê que estou ocupada???" - e posso garantir pelo que quiserem que sim, berrou mesmo, e foi durante a primeira vez que olhou para a minha cara.

Portanto a TAP é, basicamente, uma má companhia, que funciona mal, e nem será tanto por culpa dos seus funcionários, pois o problema será certamente estrutural. Já viajei em muitas outras companhias, e em mais nenhuma encontrei o atabalhoamento que se vê na TAP cada vez que se enfrenta uma situação de crise, nem alguma vez vi qualquer outra atender as queixas desta forma, tão "olhos nos olhos". Aliás em termos de "pêlo na venta", são apenas comparáveis à British Airways, mas conseguem ainda ser piores. Cada vez que viajo na TAP tenho o mesmo sentimento que Ami Jones teve desta vez, e digo sempre "é a última vez que viajo nesta companhia". Mas acabo sempre por o fazer novamente, e sempre por uma questão de conveniência, que no fim acaba por não ser nada conveniente. O André Serpa Soares que me perdoe, que isto não é uma tentativa de minar o seu trabalho, ou sequer desvalorizar esta pequena "vitória" da TAP, pois o tatuador acabou por retirar o "post", e só lhe faltou pedir desculpas. Isto foi apenas o que aconteceu, e tenho a certeza que muita gente tem histórias semelhantes. Cada um tire as conclusões que quiser.

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