quarta-feira, 25 de junho de 2014

...e bens que vêm por mal


A notícia do dia na imprensa portuguesa foi, como não podia deixar de ser, a demissão do professor de Ciência Política da Universidade de S. José Éric Sautedé. Os três directores assinam editoriais dedicados ao assunto: no Hoje Macau temos Negros Hábitos, de Carlos Morais José, no Ponto Final, que divulgou a notícia em primeira mão, A Idade das Trevas, de Maria João Caetano, e "last but not least", José Rocha Dinis com Males que vêm por bem, no Jornal Tribuna de Macau.

Falando deste último, adoro como o director do JTM vira o bico aos pregos de forma tão deliciosa. Não entendo o que têm os estatutos da USJ a ver com o caso, a além do mais isso são balelas, que ninguém vai para ali estudar para ser padre, madre ou freira. Eu sei que custa admitir que esta onda de intimidação que tem vindo a ser feita de modo a calar as vozes críticas lhe custa a aceitar, assim como lhe custa a dar a braço a torcer e admitir que afinal isto é mais do que uma simples "birra" de Bill Chou y sus muchachos, mas já agora gostava que me explicasse como é que Sautedé vai contribuir como comentarista, se fica no desemprego? Desconheço se o professor de Ciência Política tem algum meio extra de subsistência, mas creio que exercia as funções de docente na USJ em "full-time". Mas adiante.

Quem está a ser apontado como principal responsável deste acto de censura reprovável e preocupante é o padre Peter Stillwell, que é também responsável máximo pela USJ. A justificação que o reitor encontrou para terminar o vínculo contratual com Sautedé é mais descabida que a teoria da criação, ou que a fábula da Arca de Noé. Nunca fui muito com a cara daquele padreco de barbinha branca, a fazer lembrar o avô da Heidi - e até posso dizer que tive sempre boas relações com sacerdotes católicos e quejandos. Com esta atitude Stillwell vem provar que não passa de um inquisitorzeco de merda, um Torquemada da treta, um Bernando Gui de trazer por casa. Fosse eu católico praticante e nunca mais punha os pés numa missa dada por este "bife" canalha. Que vá para o raio que o parta.

Sautedé estará a pagar o preço de fazer a única que sabe: comentário político, e tiro-lhe o chapéu por isso. Fui "espreitar" na sua conta do Facebook, e reparei como ele tem acompanhado com interesse as recentes manifestações de descontentamento com o desempenho do Executivo, com início a 25 de Maio, bem como a vigília que assinalou o 25º aniversário do massacre de Tiananmen, no dia 4 de Junho - qual destas valências custou ao docente o seu emprego venha o Diabo e escolha, mas aqui o mafarrico teve um expeditor da encomenda: Stillwell, o lobo com pele de cordeiro. Não lhe falta a lãzinha branca nem nada. Quem pode censurar Sautedé por se interessar por algo que é da sua área? Afinal é suposto ele ser professor de Ciência Política ou mordomo da nomenclatura, incumbido da função de ensinar os meninos que estudam na USJ a portarem-se bem e fazer o que o "sodotor" manda?

Quem fica muito mal na fotografia é ainda o bispo José Lai, que diz não ter sido consultado, que não sabe de nada, rebéubéu pardais ao ninho, e delega esse assunto para a competência do reitor. Faz-me lembrar um certo prefeito da Judeia que ficou célebre por ter lavado as mãos, mas deixem lá. Se calhar este recado não lhe foi dado a ele, enfim, ao contrário do que sucedeu com um certo caso que envolveu o jornal Clarim, que os mais esquecidos podem recordar aqui (epá estou a ficar com um artigo quase tão vasto como a Torre do Tombo), portanto com esta trafulhice ele não tem nada a ver, e fica a assobiar para o lado o "Laudate Dominum", de Fredrik Sixten. Dá gosto ver como a Igreja reparte tão irmamente as tarefas.

Ficamos mais uma vez confusos com esta insistência da parte dos "suspeitos do costume" de que a somos todos burros ou que andamos a dormir na forma. Quem é que insiste nos passar para as mãos esta peneira tão ramelosa que já não enxuga meio pacote de esparguete, e nos manda olhar para o sol com ela? Realmente o "timing" tem sido aqui um problema e pêras, e quem sabe se na tal cadeira de Ciência Política deviam dedicar um capítulo ao "senso comum". Quão preocupados devem estar estes mensageiros de Deus, questionando-se "Porquê senhor, porque não temem mais eles o fogo eterno dos quintos dos Infernos?". Ora, para quê temer um mal que já nós conhecemos tão bem?

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu cá acho que há gente a querer provocar demasiado o primeiro sistema e só espero que por causa duns quantos não acabem por pagar todos. O segundo sistema só existe quando convém e nunca se sabe se não é necessário camuflar e controlar certas coisas para que as consequências não sejam nefastas, de modo geral.