terça-feira, 24 de junho de 2014

River Douro's Eleven


Ele há gente sem coração. Na madrugada de Domingo para segunda-feira, um grupo de "ocean's eleven" do rio, uns "river's eleven" por assim dizer, assaltaram a lota de Matosinhos, levando consigo 3,8 toneladas de sardinha acabada de pescar, no valor de 38 mil euros (380 mil patacas). Fresquinha, tão fresquinha que até depois de grelhada ao ponto de carvão ainda se podia vê-la a mexer-se. Estes bandidos cometeram este elaborado saque exactamente na véspera da noite de S. João, onde a cotação da sardinha atinge o seu valor mais alto em Wall Street, chegando a custar no dia seguinte 10 euros ao quilo na lota, e 25 euros no mercado. É inadmissível como foi negligenciada a segurança na lota; esta é uma altura em que as sardinhas deviam estar ser vigiadas por milícias para-militares armadas de lança-rockets e bazucas - não, bazucas não senão ainda apareciam lá uns moçambicanos a pensar que ia haver sardinhada com bazucas para empurrar. Lança-rockets, pronto. E semi-automáticas. À hora em que se descobriu o golpe já iam os ladrões tão longe que nem a PJ armada com uma cambada de gatos vadios pisteiros lá chegava.

Maria José Lopes, peixeira, 54 anos, que monta a barraca na lota de Matosinhos há 31, nem queria acreditar no que viu quando lá chegou de madrugada. "Esta era sardinha da boa, da melhor que há. Foi pescada esta semana...", disse com os olhos lavados em lágrimas. "Andam por aí a vender porcaria que nem os gatos comem. Veja só que até sardinha argentina e marroquina andaram por aí a vender, os (censurado)", acrescentou, enquanto o repórter tapava os ouvidos com um dedo, não fosse o berreiro da velha rebentar-lhe com os tímpanos. E realmente fala quem sabe; quem é que vai querer sardinha argentina, que passa o dia inteiro a olhar-se ao espelho, ou marroquina, que sabe a haxixe? O assalto não podia vir na pior altura, pois a pesca foi fraquinha este mês, e os preços aumentaram - até a sardinha congelada aumentou, chegando a custar dez euros o quilo, mas Maria José garante-nos que é boa: "É portuguesa! E foi pescada na semana passada". Assim ficamos mais descansados. Imaginem o que seria um S. João com as fatias de pão de quilo a jazerem ali, branquinhas, sem uma sardinha que lhe deixasse o óleo, as espinhas e as tripas em cima, e as pessoas sem os dedos a cheirar a peixe? Era um drama humanitário.

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