segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Porrada e pomada


Do outro lado da cidade a Associação Novo Macau promoveu um outro fórum, dentro da mesma temática dos TNR mas um pouco mais específico: as empregadas domésticas e o nível de satisfação dos seus empregadores. Participaram 25 residentes que têm ou tiveram ao seu serviço empregadas domésticas, e disseram horrores das criaturas: que matam, que roubam, que esfolam, que lhes fazem ameaças, mil e uma coisas ruins. Deve ser por isso que apareceram lá pela sede do Novo Macau usando máscaras no rosto, para não serem reconhecidos pelas empregadas, que depois lhes envenenavam a sopa. Agora peço que me desculpem a presunção, mas a julgar pela fotografia publicada tanto no Hoje Macau como no Ponto Final, a esmagadora maioria destes empregadores eram mulheres. Na verdade só consegui ver ali dois homens. Já se sabe que quando se fala nestas coisas de auxiliares domésticos, as mulheres têm uma certa tendência para o exagero. Não é preciso vir Freud para nos dizer que nenhuma mulher vai dizer que a sua empregada limpa, cozinha ou trata das crianças melhor que ela. É preciso dar-lhes pelo menos 30% de desconto. Trinta não, quarenta. E nota-se que há ali um pouco de exagero, pois além das máscaras que já referi, ostentavam cartazes com todo o tipo de lamúrias, como se estivessem reféns das empregadas e vivessem num constante clima de terror, temendo pelas suas vidas e as dos seus.

É claro que há empregadas desonestas, quem disse que não há? Contratar uma trabalhadora doméstica não é o mesmo que comprar um aspirador ou um robô de cozinha. Estamos aqui a falar de pessoas de carne e osso como nós, com sentimentos, que têm os seus problemas, e tudo depende da sorte - e não só. Assim como há empregadas que roubam, que se drogam e prostituem, que transformam a casa do patrão num casino ilegal quando ele e a família vão de férias, que maltratam os velhos e as crianças, há também patrões que abusam das empregadas, que as tratam como escravas, obrigam-nas a trabalhar além do horário acordado, "emprestam-nas" aos amigos, pagam-lhes menos que o estabelecido no contrato, usando o "blue-card" como isco, mil e uma tropelias. Se alguns temem "vingança" por parte da empregada, será que não terão feito algo que as leve a vingarem-se? No entanto é preciso não generalizar, não tomar a árvore pela floresta. Há alguns meses ficou célebre o caso daquele casal de Hong Kong que amarrou a empregada indonésia durante cinco dias sozinha em casa e mais um cardápio de horrores. Existem 300 mil empregadas indonésias em Hong Kong, e se estes casos de abuso acontecesse com 10% delas, seria um número absurdo e preocupante: 30 mil. No entanto seriam apenas dez por cento. A maioria das relações laborais corre dentro dos eixos, e o mais importante é existir respeito mútuo.

Uma acusação curiosa que alguns (algumas?) participantes deste fórum fez foi a de assédio sexual por parte das empregadas. Ora bem, suponho que isto quer dizer que as moças se fazem ao marido da patroa, o que me remete para esta notícia do JTM de hoje. Uma empregada filipina de 20 anos queixou-se de coação sexual por parte do seu patrão, que com o pretexto de lhe aplicar uma pomada para as borbulhas tocou-lhe no rosto e no peito. Temendo que o senhor fosse por ali fora e confundisse o clitoris com uma borbulha e quisesse aplicar lá outra pomada, fugiu até ao quarto, e de facto o indivíduo seguiu-a, puxou da bisnaga que tinha dentro das calças e pediu à vítima que a apertasse, para sair a tal pomadita. Este é um caso que ilustra bem o que são muitos destes casos de alegado assédio. Às senhoras queixosas não lhes passa sequer pela cabeça que o marido esteja interessado em enfeitar-lhe a testa com a empregada, porque "é uma indígena, e é pobre, que horror", e por isso só pode mesmo ser ela que lhe quer roubar o macho, "para sair da miséria". Primeiro passam-lhe as camisas, depois fazem-lhe o jantar, e finalmente apertam-lhe a bisnaga da pomada. Estou a imaginar o cenário, a mulher chega a casa e vê o marido a tentar aplicar pomada na empregada, e confronta-os:

- "'Mori, porque estás a esfregar as mamas da empregada com pomada".
- "Ela é que pediu, filha. Estava cheia de comichão, e a sofrer muito".
- "E como é que explicas a pila de fora?"
- "Ela pediu para ver, meu anjo. Pediu tanto que disse que morria se não visse".
- "Ai a malvada, usurpadores, destruidora de lares, tira essas garras de chimpanzé de cima do meu marido!"

Algumas das reclamações destes 25 da vida airada são difíceis de entender. A questão das empregadas domésticas da China continental, por exemplo. Queixam-se que os salários que esta nova mão-de-obra não residente cobra é excessivo, na ordem das 6 mil patacas mensais, e isso seria incomportável caso as empregadas indonésias e filipinas pedissem a mesma remuneração. Mas então qual é problema? Não querem que as empregadas do continente venham ou não querem pagar mais pelas outras? Uma das razões que apontam para a necessidade de manter uma empregada doméstica é a falta de tempo para tomar conta das crianças, especialmente se o casal trabalhar por turnos. Portanto, quais são as alternativas? Do que é que se queixam?

PS: O director do JTM, José Rocha Dinis, foi com olhinhos de carneiro mal morto acusar o Novo Macau de ser responsável pela verborreia que estas pessoas debitaram neste fórum. Só lhe faltava dizer que Ng Kwok Cheong e companhia pagaram aos participantes para dizerem que as empregadas lhes batiam. O costume.

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