1) Comemorou-se hoje, dia 10 de Dezembro, o Dia Internacional dos Direitos Humanos - isto é, para quem teve razões para comemorar, pois um pouco por esse mundo fora continuam a acontecer atropelos graves aos direitos mais básicos inerentes à nossa própria existência. Como é costumeiro nesta data, a Associação Novo Macau (ANM) entregou à ONU um relatório sobre os direitos humanos em Macau, onde se chama a atenção para a deterioração da situação no território. Podemos não concordar com alguns dos pontos do relatório da ANM, mas na falta de uma entidade governamental ou qualquer outra que o faça, demos graças ao pró-democratas que se tenham lembrado deste dia, e venham com esta iniciativa. Posto isto, é grave que não exista em Macau um salário mínimo, que garanta a sobrevivência de uma boa parte da mão-de-obra local. É grave que exista tanta hesitação em produzir uma lei contra a violência doméstica, ou que se ignorem os direitos civis dos casais do mesmo sexo. É grave que tenha aumentado o número de prisões arbitrárias, que se prendam manifestantes pacíficos, que continue sem se explicar o critério que leva à interdição da entrada de alguns visitantes no território. É grave que as autoridades espiem os cidadãos, e que a Polícia Judiciária tenha acesso ilimitado à actividade "online" dos residentes, com a cooperação da única concessionária de telecomunicações. É grave que a prisão não tenha condições, que persistam os "gangues" e a corrupção no geral, e que na ala feminina existam mulheres a dormir no chão. Se estamos bem? Não nos podemos queixar, desde que não nos lembremos de exigir tudo o que referi acima e outras coisas para nós mesmos.
2) No programa "Pós & Contras" da RTP debateu-se a crise, a pobreza e o endividamento, e como pretexto "a revolução do Papa Francisco", o líder do Vaticano que tem desde o início do seu pontificado apelado a uma maior atenção aos problemas daqueles que sofrem. Continuo sem entender muito bem como é que este programa se pode chamar "Pós & Contras" nestas circunstâncias. Quem pode estar contra o apelo do Papa à amenização - já que a erradicação, essa, é completamente impossível - do problema da pobreza? Gostei de ouvir o prof. Diogo Freitas do Amaral, que falou da situação de países endividados como Portugal e a Grécia, e de como antes lhes foi facilitado esse endividamento, e agora são pedidos tantos sacrifícios para que se pague a dívida. É um pouco assim com todos nós, não apenas com os estados: quando há liquidez, incentivam-nos ao endividamento, apresentam um mundo de vantagens, demonstram-nos por A+B como "é fácil, é barato, dá milhões", como dizia aquele antigo "jingle" do Totoloto. Depois de insolventes, hipotecados, penhorados e cadastrados cortam-nos as pernas, não nos emprestam mais um tostão, e apertam-nos como um limão para retirar o sumo. É verdade que quem não tem dinheiro não tem vícios, mas os vampiros da banca têm a sua quota parte na situação a que chegámos.
3) Nelson Mandela foi homenageado hoje em Joanesburgo, cinco dias após a sua morte, numa cerimónia que contou com a presença de vários chefes do Estado, os do presente e os do passado, aqueles que conheceram Madiba e que com ele conviveram. A sua mensagem de paz e de entendimento entre os homens perdura para além do seu desaparecimento físico, e o seu espírito continua a fazer pequenos milagres: Barack Obama, presidente norte-americano, abraçou o líder cubano Raúl Castro. Quem diria. Parece magia. Na edição de hoje do Jornal Tribuna de Macau, Hélder Fernando assina um
artigo de opinião onde fala de um incidente que se passou no campeonato turco este fim-de-semana, onde dois jogadores africanos foram punidos disciplinarmente por ostentarem nas camisolas interiores mensagens agradecendo a Mandela, em forma de homenagem. A Federação turca alegou que os jogadores exibiram "mensagens políticas", o que vai contra os regulamentos. Parece excesso de zelo da parte dos responsáveis pelo futebol turco, que Hélder Fernando censura, falando de "desumanização" e de "burrice". Compreendo a indignação do cronista do JTM e dela partilho, mas apenas parcialmente. Estas cautelas com a promiscuidade entre a política e o desporto têm a sua razão de ser, e se desta vez falamos de Mandela, uma figura consensual, o que vamos dizer da próxima vez que alguém ostentar uma mensagem com a qual não concordamos, que nos ofenda, que nos cause a mesma indignação que Hélder Fernando sente agora? Vamos deixar esta passar, mas censurar as outras? Com que direito? Já durante o mundial de futebol de 2002, quando os jogadores brasileiros oraram em campo após conquistarem o título, foram repreendidos pela FIFA. Não posso concordar mais: rezar é nas igrejas, depoimentos politicos na sua sede própria, e o futebol nos estádios. E os jogos duram apenas duas horas, no máximo. Será pedir muito?
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