João Gomes e a família vão no próximo dia 14 de Janeiro iniciar uma aventura que os vai levar à volta do mundo de veleiro durante os próximos quatro anos. João Gomes reside em Macau desde 1997, é jornalista de profissão mas actualmente com a carteira professional suspensa enquanto exerce funções de agente público no Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Juntos com o velejador português a bordo do Dee - assim se chama o barco - vão a sua mulher Kumploy e a filha de ambos, de apenas um mês de idade, além do cão (não vá aparecer a bordo um peixe-gato - eh, eh, desculpem a piada).
Conheço o João Gomes apenas de vista, e da coluna que assina semanalmente no semanário "O Clarim", vai para dez anos. Confesso que fiquei surpreendido quando anunciou os seus planos há alguns meses, e pessoalmente não me vejo a bordo de um veleiro durante quatro anos da minha vida, a dar a volta ao mundo, por muito Julio-Vernesco que a ideia me pareça. Não sou grande adepto de viagens marítimas, e a mais longa que terei feito terá sido de uma hora, nos velhos cacilheiros da Transtejo, entre o Montijo e o Terreiro do Paço, e vice-versa - mas isto sou eu. O próprio João Gomes confessa não ter experiência de navegação em alto-mar durante um period tão longo de tempo, mas mostra-se confiante, como revelou hoje no Telejornal da TDM.
Mas o que leva João Gomes a largar tudo e fazer-se ao mar? Será que acordou um dia com tendências suicidas e vontade de colocar em risco a sua família? Será que levou à letra Pessoa e o seu "Navegar é preciso"? Aparentemente a ideia é assinalar os 500 anos da chegada dos primeiros portugueses à costa da China, uma efeméride que tanto Portugal, por motivos de ordem económica, quer a China, porque não lhe interessa, abstiveram-se de comemorar. Apesar de navegar com um pavilhão de Macau no seu Dee, João Gomes não recebeu qualquer tipo de apoio do governo da RAEM, da Fundação de Macau ou de entidades privadas. Da parte das entidades oficiais, nomeadamente da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), a justificação dada foi bem clara: "a viagem não vai promover o nome de Macau". Claro que não. Promovia se o João realizasse a bordo agora torneio de "poker", viajasse com os pandas "Ai Ai" e "Ui Ui", e baptizasse a embarcação de "Harmonia".
Nada disto demoveu João Gomes, que está de partida, e foi hoje ao Telejornal confirmar que sim, que vai levantar âncora com a família e vai por esses sete mares afora, prometendo regressar daqui a quatro anos. A viagem teve honras de destaque na imprensa local, regional e na imprensa especializada (em barcos, entenda-se), isto apesar de em Macau os responsáveis por preservar, ensinar, divulgar e assinalar a História assobiarem para o lado. Ainda recentemente foi necessário um grupo de residentes assinalar a título particular os 500 anos da chegada de Jorge Álvares à China. Mas isto é surpresa para alguém? É mesmo só para rir, ó João. Soltar um risinho sarcástico e ir à vida, ala que se faz tarde, que a República Dominicana espera. Podem seguir a viagem do Dee
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