"Até ao lavar dos cestos é vindimas", diz o povo. "O jogo acaba quando o árbitro manda", diz-se na gíria futebolística. "Não se deve contar com o ovo no cu da galinha", diz a...hmmm...indústria aviária? Deixem lá. Isto tudo para dizer que hoje é dia 27 de Janeiro, sexta-feira, dois dias depois do Natal e quatro antes da passagem de ano - é a tal "zona de ninguém". Apesar de ainda faltarem o resto do dia 27 (e é preciso não esquecer que nas Américas ainda não almoçaram, mais os dias 28, 29, 30 e 31 inteirinhos, há já quem tenha começado a atirar os foguetes antes da festa, literalmente. São aqueles sítios da Yahoo!, Google, MSN e outros que tais, que ainda antes do Natal já dedicavam páginas aos "momentos mais importantes" e às "melhores imagens" de 2013. Oh oh oh, esperem lá. Já acabou? É certo que está quase, mas não ficam para o epílogo? Se for um filme dos irmãos Zucker, ainda há mais qualquer coisinha depois de passarem os créditos.
Esta pressa de acabar com o ano já me pregou um susto ou dois. Um dia destes, depois de uma daquelas de sono desmedidas, próprias de quem está de férias, levantei-me da cama sem saber que horas eram, ou quanto tempo tinha passado na Terra do Nunca. Com a boca ainda a saber a pecado, liguei a página do Yahoo!, e dou com "O ano de 2013 em revista". "F...-se" - pensei eu - "queres ver que dormi mais de uma semana, perdi o Natal e acordei no último dia do ano?". Isso seria impossível, pois o
sr. Cheong, o meu simpático senhorio, já teria andado à minha procura desde o dia 28 para lhe pagar a renda. Abri o telefone, vi que era dia 22. Ufa, tinha dormido apenas o tempo normal para um asno adulto. Mas porque diabo fazem estes tipos o balanço do ano tão cedo? Será que depois vão partir para Waikiki com as amantes para passar o Natal a nadar na praia e na piscina do hotel enquanto bebem piñas coladas ao som de "Agadoo", dos Black Lace?
É que para chegar a 2014 ainda temos um bom caminho pela frente. São quatro dias inteiras e mais umas horinhas, são 100 horas, mais nas américas. Sabem quantas pessoas morrem por segundo? Pelo menos uma. Mais! Mas digamos que é uma, para tornar as contas mais fáceis. Uma pessoa por segundo dão 60 pessoas por minuto, 3600 por hora! Já viram alguma estação de televisão abrir um serviço noticioso dizendo "Boa noite. Mais de 3600 pessoas morreram na última hora no mundo". Qual foi o acontecimento do ano? E se Deus desce à Terra nos próximos três dias? E se Lúcifer sobe? O desaparecimento do ano foi Nelson Mandela, parece haver consenso, mas se até ao dia 31 more alguém mais importante? Como o Jackie Chan por exemplo. O Mandela é mais importante? Bem, a sua página do Facebook tem pouco mais de 3 milhões de "likes", e a do Jackie Chan 47 milhões. O povo é soberano. Embrulhem lá essa.
Nunca se devia fazer o balanço de um ano que finda antes das primeiras horas do ano seguinte. E é melhor esperar que batam as últimas 12 badaladas do dia 31 nas Ilhas Marianas, o último local do planeta a chegar ao fim do dia. É por isso que gosto daqueles clips dos momentos mais loucos do ano no Jornal da Tarde da RTP: esperam até ao dia 31 de Dezembro, não vá ficar uma fractura exposta ou um acidente de esqui mais bizarro de fora do resumo. É que se um dia, por acaso ou de propósito, as últimas horas ou os últimos dias do ano forem profícuos em acontecimentos dignos de entrar para a História, o que ficam a valer as "revistas do ano" publicadas nos dias 20 ou 21 de Dezembro? O melhor é imprimi-las num tipo de papel mais macio, que dê para cortar às tirinhas e pendurá-los na casa-de-banho. Assim pode ser que tenham sempre alguma utilidade.
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