segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Os irredutíveis Lvsitanvs


O restaurante Lvsitanvs, inaugurado em 2011, deixou o espaço que lhe servia de sede, na Casa Amarela, perto das Ruínas de S. Paulo. Depois de pouco mais de dois anos de fados, feijoadas e bacalhaus, o Lvsitanvs foi literalmente corrido pelos proprietáarios do espaço, o grupo Future Bright Entertainment, representado pelo empresário e deputado Chan Chak Mo - e certamente com a participação de outros "chuchas" dos corredores do poder e senhores da nota preta cá do burgo. Acontece que o espaço foi alugado aparentemente "por uma módica quantia", por estima pela malta da Casa de Portugal, que explorava o Lvsitanvs, mas rapidamente os sócios da Future Bright acharam que aquilo era uma parvoíce, e que faziam melhor correndo com os gajos dali e abrir mais uma lojita negra para comer a pinha aos milhares de turistas do "tailoque" que vão ali ver os calhaus que sobraram da tal igreja tuga que ardeu, e comer os "Portuguese egg tarts", que têm sempre muita saída por ser "so typical Macao". Não é preciso um Lvsitanvs para vender "egg tarts" ou galos de Barcelos, duh!

Foi há coisa de três meses ou isso que soou o alarme: o Future Bright ia pedir uma renda dez ou vinte vezes superior ao valor actual, e o Zé Tuga fez como o seu primo Zé Povinho, e ficou com cara de cu, com os bolsos rotos a sair das calças e as mãos a fazer um gesto como quem diz "e agora?". E agora toca a sair daqui para fora, que segundo o próprio Chan Chak Mo, o grupo que representa tem que seguir as leis da pirataria, quer dizer, do mercado, e, vejam só, "não são uma associação de caridade". Oh oh. Bem, quando se fala em "associação de caridade" em Macau temos que ver bem do que se trata, pois de for qualquer coisa como a Tong Sin Tong ou a Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu, a palavra "caridade" está a ser usada livremente.

O que entendo eu das palavras de Chan Chak Mo? Que nós somos uns pobrezinhos, claro, e que estava a deixar-nos ("nos", salvo seja, "los", que eu não tenho nada a ver com isso) ficar ali por favor, por caridadezinha, ai coitadinho do tuga que quer uma lojinha no centro histórico, vamos lá deixar os sebosos vender o vinho tinto, comer o bacalhau e cantar o faduncho do pobrezinho. Agora "chau la", que vocês são "hou ma fan", sempre "mou chin". É verdade que o Future Bright é uma empresa com lucros que os tornam podres de ricos, e não precisavam da Casa Amarela para nada, mas podem ser ainda mais podres, cheirar ainda mais mal, e já agora porque não? Se calhar ouviram dizer que quanto mais ricos forem quando morrerem, mais hipóteses têm de adquirir uma nuvem de cinco estrelas no Céu. E se o preço das nuvens for como o preço da habitação em Macau, então o dinheiro nunca é demais.

Desconheço os termos do negócio que a Casa de Portugal fez com a Future Bright, ou em particular com Chan Chak Mo, mas se isto fosse comigo mandava o gajo pró c... . Sim, leram bem, eu dizia assim: "ó Chan Chak Mo: vai pró c..., pá". É como se faz na minha terra quando alguém nos passa a perna e se arma assim em parvo, em cigano-judeu ou judeu-cigano. Que vá mamar na quinta pata do cavalo. Que se monte nele e vá para Cacilhas, ou neste caso para Hong Kong, de onde é originário. Mas não, a Casa de Portugal e os seus distintos personagens não viram a cara à luta, e vão fazer funcionar o Lvsitanvs nas próprias instalações da mesma, na sede da Rua de Pedro Nolasco da Silva, em frente ao Consulado-Geral de Portugal. Ah, o quê? Espera aí que só agora percebi aquilo que acabei de escrever. Vão para onde, mesmo?

Portanto vamos recapitular: o Lvsitanvs vai ser transferido de armas e bagagens da Aldeia dos Gauleses do Astérix para a Aldeia dos Estrumpfes, é isso? Onde é que vão meter aquilo tudo? Naquela salinha ao lado do escritório? A ideia é, e isto nas palavras da presidente da CP, Maria Amelia António, "não deixar morrer o projecto". Dois disparares numa frase com apenas cinco palavras. A solução encontrada (como se isto fosse um grande problema), é apenas "temporária". Pois, pois, pode ser que daqui a uns meses encontrem um espaço jeitosinho ali para os lados de Zhuhai, a cinco quilómetros de Gongbei, com uma renda mais em conta. Ao projecto já lá vamos, mas "não deixar morrer"? Ó minha senhora, está mais que morto. Mudar o Lvsitanvs do local de onde foi escorraçado para a sede da CP é o mesmo que encontrar um cadáver separado da cabeça, atá-la ao resto do corpo com fita-cola e aplicar massagens cardíacas. Sabem quando é a hora de dizer chega e basta? Mais uma vez recorro ao léxico da minha terra: "c&g%m nessa m^rd@".

Quanto ao projecto, é bonito, sim, mas no papel, apenas. Um espaço como o Lvsitanvs seria uma boa ideia se fosse genuíno, original, com um lado mais "castiço" e menos elitista. Para retretes onde a nossa gente de bem despeja a caganeira não faltam sítios, locais, eventos ou oportunidades. O Lvsitanvs devia ser uma coisa do povo, da malta, onde se pudesse ir comer uma sandes de torresmos, beber um copo de traçado, jogar matraquilhos e andar à porrada. Em vez de irem lá ver a selecção todos bonitinhos e sentadinhos na cadeira a bater palminhas quando é golo, deviam enfrascar-se antes do jogo, dizer asneiras e andar à procura de adeptos da selecção adversária para lhes enfiar uns sopapos. O que se perdeu com a saída do Lvsitanvs da Casa Amarela? Nada. O que fica a ganhar com a continuidade num espaço declaradamente mais reduzido? Ainda menos. Outra vez como se diz na outra minha terra, que é Portugal inteiro: "já foste".

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