- E como hoje (ontem) é segunda-feira, temos a nossa habitual rubrica Depilações...boa noite Leocardo, grande sabichão, educador das massas com chispe e feijão-manteiga, de todos o mais viril, o mais bonito, e ainda o que cheira melhor.
- Obrigado Pedro Inca, isso tudo e ainda mais qualquer coisinha, modéstia à parte.
- Só li a apresentação que me entregaste para ler, Leocardo. Portanto esta semana temos a visita do Chefe do Executivo a Pequim...
- Sim, é importante, vai lá ajustar as contas e tal...
- Chui Sai On não confirmou se vai concorrer a um segundo mandato...
- Mas vai, ó Pedro Inca, porque isto de cinco anos é muito pouco, pá. Quer dizer, um gajo em cinco anos junta quanto baste para comprar uma ilha caribenha, 20% da Antártida, e pouco mais. Quem quiser, sei lá, construir uma estação espacial, não junta sequer o suficiente para comprar o asteroíde, estás a ver?
- O quê?
- Esquece. Olha, o chefe reúne tanto consenso que até aquele canalha do Ng Kwok Cheong o apoia. É caso para desconfiar, vamos lá ver. Este é um gajo que quer mandar embora as empregadas, virar os cães contra os donos, trocar a direção das riscas das zebras, é um perigo. Um perigo.
- Então o 2º mandato é uma certeza...
- Epá ó Pedro Inca, vamos lá ver, nós a malta tuga, que recebemos as informações meio mastigadas do GCS, temos a mania de inventar notícias para vender papel. Se perguntares a qualquer chinês aí na rua quem é Ao Man Long, ele já não se lembra, se lhe perguntares sobre o caso das campas, ele pergunta-te "o que é uma campa?". Repara que até andamos a inventar que em Macau não se fala português, que a administração anterior falhou e tal. Ora bem: a administração portuguesa deixou toda a gente em Macau a falar português!
- Toda a gente...em Macau?
- Nem mais, Pedro Inca, vê lá tu que no outro dia estava eu em mais um jantar para qual fui convidado, e isto é uma chatice, que tenho lá um conjunto da Cristal d'Arc que me ofereceram há três meses, e ainda nem sequer estreei, porque estou sempre a ser convidado para jantares...
- Realmente, que desagradável.
- Pois é. Ahem, portanto no final desse jantar, que foi num restaurante muito jeitoso no bairro do T'oi San, na hora de pedir a conta, pedi a uma menina chinesa muito engraçada, com uma cabaia vermelha muito gira com um corte de lado quase até ao pescoço, que me trouxesse "a conta", e o que é que ela fez? Trouxe a continha, pois então. Temos que acabar com esta contra-informação, Pedro Inca, isto nada ajuda, e...
- Desculpa lá interromper, ó Leocardo, mas acontece que eu também estava nesse jantar, e não foi nada disso que eu vi.
- Ai estavas? Estavas em que mesa?
- Estava sentado dois lugares ao teu lado.
- Olha não te vi, se calhar confundiste-me com alguém...
- Não, tenho a certeza que eras tu, e o que vi foi tu a fazeres o gesto com a mão, acenando com uma caneta invisível, como quem está a pedir a conta. Nem abriste a boca, e nem adiantava, pois o barulho que fazia era infernal, e foi numa altura que os noivos estavam a cantar "My Heart Will Go On", em dueto.
- Quais noivos?
- Era um casamento, Leocardo, e era impossível não me teres notado, pois conversámos durante bem mais de uma hora, e a nossa mesa era a única com portugueses, e éramos só seis.
- Oh oh vê lá tu, casamento, graduação, jantar de beneficência, eu já nem sei a diferença. Mas aí está, aquilo que eu estava a dizer: eu disse que disse, tu dizes que eu não disse, e é com este diz-que-disse-não-disse que temos que acabar, de uma vez por todas. Isto só vem demonstrar a má vontade que existe da parte do Novo Macau quanto aos trabalhadores não-residentes. Tem que acabar, isto tem que acabar!
- Hmmm...mudemos de assunto. Homenagem a Jorge Álvares por parte de um grupo de residentes, para assinalar os 500 anos da chegada de Jorge Álvares à China. Então?
- Ora aí está um tema fracturante Pedro Inca. Por acaso não fui à cerimónia da estátua, porque tive um jantar, e...
- Foi às quatro da tarde, Leocardo.
- Eu sei, eu sei, mas foi com este senhor que se deita muito cedo...é padeiro ou lá o que é, espera lá, eu disse jantar? Acho que foi um almoço prolongado. Isso mesmo. Foi um almoço.
- Deixa para lá...
- Bem, mas no Domingo fui ao pastel lá no Bela Vista, porque penso que é importante assinalar a data! É fundamental assinalar esta data.
- O conjunto da Arcoroc parece não vai sair da caixa.
- Cristal d'Arc, Pedro Inca. Cristal d'Arc.
- Peço desculpa.
- Bem, aquilo com que eu não posso concordar, é com a ideia da estátua localizada ali, mesmo no centro da cidade.
- Não? Porquê?
- Vamos lá a ver, Jorge Álvares nunca esteve em Macau. É assim ou não é? Bem, se ele chegou foi à costa da China, porque não mudar a estátua para lá?
- Para onde, exactamente?
- Para a costa da China. Aliás eu iniciei hoje uma petição no Feicebúque, da qual fui o primeiro signatário, mas espero por amanhã a esta hora ter cerca de 200 mil assinaturas.
- Isso é o que se pode chamar optimismo.
- É mais do que isso, Pedro Inca. Trata-se de colocar o ponto no "i" da História no seu local certo. Vamos lá ver...
- "História" tem dois "i", Leocardo.
- Aí está! E Jorge Álvares não tem nenhum! Nem Macau! Mas China já tem um, estás a ver onde quero chegar?
- Sinceramente não, mas não faz mal. Ouve lá, mas este Jorge Álvares ficou associado a uma Fundação de má fama que levou o seu nome.
- Ah! Mas repara bem, Pedro Inca, a Fundação Oriente, por exemplo, olha o que fez: sacou e bazou. Conta-se até uma história muito engraçada...
- Imagino...
- Pois é. Bem, de maneiras que estava um membro da Fundação da Escola Portuguesa em Macau em Lisboa, e mandou para a EPM um fax onde se lia: "A Fundação FO deu-nos". Passados alguns minutos recebeu uma resposta, alertando que o fax estava incompleto, e onde se perguntava: "A FO deu-nos o quê?". Do outro lado chegou de imediato o esclarecimento, que de facto o primeiro fax não estava incompleto, e na verdade, o que aconteceu foi...
- Aham. Bem, parece que esgotámos o nosso tempo...
- Ai sim, vê lá tu como os minutos passam. Mas olha, queria desejar a todos umas boas festas, que eu vou lá à terra passar o Natal e o Ano Novo, que os meus amigos estão em pulgas para escutar as minhas pantomimices sobre Macau e sobre o Oriente. Mas vou voltar, ah? Até pró ano.
- Boas festas para ti, Leocardo, e muito obrigado.
- Ora essa, Pedro Inca, por quem é.
- Pelo Sporting! E tu Leocardo?
- Olha Pedro Inca, eu simpatizo com o Sporting, e se forem campeões agradeço desde já o convite para o jantar do título, mas sabes como eu sou. Eu nunca mudo. Eu sou assim, pá, e nessas coisas eu nunca mudo. Nunca mudo.
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