quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Frio? Eu não tenho frio!


Foram registadas hoje as temperaturas mais baixas do ano em Macau, com os termómetros a baixarem até aos sete graus. Os números valem o que valem, mas se esteve mesmo muito frio, esse facto passou-me ao lado. Estou de férias e passei a manhã em casa. Mesmo quando saí, já depois de almoço e só para ir ali à esquina comprar uma lâmpada, levei apenas uma simples camisola, e tudo normal. Registei ainda com agrado que havia sol, depois de cinco dias de chuva incessante, e como se apressou a partilhar a minha irmã nas redes sociais, o céu estava azul. Coisa rara em Macau. Apesar de tudo isto, a população de Macau andava toda agasalhada, encasacada, embarretada e encachecolada, botas até à cintura e as mãos cobertas de luvas. Ao sairem de casa de manhã souberam que estavam sete graus, e por isso prepararam-se para a nova Idade do Gelo. Nunca se sabe, nunca se sabe.

Mas frio? Eu não tenho frio, porque estou bem protegido. Tenho uma Thermotebe! (para quem não entendeu esta, veja o vídeo acima, um anúncio "vintage" dos anos 80). Sete graus não é frio coisa nenhuma, seus pindéricos. Estivessem aí turistas noruegueses e andavam de manga cava, bermudinha e havaianas. Vocês sabem lá o que é frio, pá. Cheguei a ir para a escola em Dezembro com 0 (zero) graus, três camisas, dois casacos, botas, luvas, gorro, cachecol, tudo a que tinha direito. De fora só ficavam mesmo os faróis, o que me conferia a aparência do cruzamento entre um tuaregue e um esquimó. Os vidros dos carros e das lojas estavam congelados pela geada. Parecia Moscovo há vinte e poucos anos, quando ainda era pobrezinha. Aquilo é que era frio, seus mariconços.

E para ser sincero, já fazia falta o frio. Já apetecia. Há dois anos tivemos um inverno rigoroso, e no ano passado, para me precaver, comprei outro aquecedor, só que o frio desta vez não veio; pregou-me uma partida. Aborrece-me que o Natal seja sempre tão morno. Sabe bem uma quadra natalícia muito fria, que dê sentido a ficar em casa, "à lareira". Esta "lareira" de que falo é no sentido figurado, no sentido de calor do lar, de calor humano. Há quem goste de passer antes o Natal na praia, aos banhos, e por isso vai para a Tailândia. Tudo bem, são opções, ou natal quente ou natal frio. O que temos aqui não é uma coisa nem outra. Nem carne, nem peixe. Uma merda, é o que é. Portanto recebo o frio com agrado, e espere que se esmere, e as temperaturas baixem até aos 4 graus, para estes gajos verem o que é bom para a tosse. Ou neste caso, para verem como ficam logo com tosse.

Não vos reconheço, ó gentes de Macau. A terra que aguenta tufões, cheias, poluição nociva, hordas de turistas do continente, inflação galopante e especulação imobiliário fica rendida a uma corrente de ar? Uma aragem de vento fresco? Sete graus? Os filipinos e os indonésios ainda entendo, que esses lá só sabiam o que era frio quando abriam o frigorífico, e só os que tinham frigorífico, coitados. Os restantes ficavam a saber quando tomavam banho, que era sempre de água fria, coitados outra vez. Agora vocês, tribo dos "Oumunenses"? Mas olha têm bom remédio: comprem uma Thermotebe - se tal coisa ainda existir, claro.

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