Uma das notícias da semana foi a decisão da Federação de Futebol de Macau (FFM) em alterar os regulamentos do campeonato local, que terá início apenas em 2014, e que obriga cada equipa a apresentar quatro jogadores residentes-permanentes no seu onze inicial. Ouviram bem: residentes-permanentes. Quem não é de Macau e está agora a ler isto fica um pouco sem perceber do que se trata isto de residentes-permanentes, mas passo a explicar: um residente-permanente j alguém nascido em Macau filho de pelo menos um outro residente-permanente, ou alguém que completou sete anos de residente não-permanente. E quem é um residente não-permanente? Alguém que adquiriu a residência através do casamento ou união civil com um residente-permanente ou através de outro meio, e permaneça ineterruptamente nesta situação durante sete anos, altura a que passará então a residente-permanente. Ufa, parece complicado, mas é até bastante simples. Ou era, até a FFM complicar ainda mais as coisas.
O problema aqui é que a Lei Básica não prevê qualquer distinção entre residentes permanentes e não permanentes, pelo que a ideia da FFM é completamente pioneira - para o pior. Já no bastava a recente mania de alguns deputados descriminarem os Trabalhadores Não-Residentes, e vem agora a malta da bola ajudar à festa e lançar mais achas para este "apartheid frio" que começa aqui a reinar. Isto revela mais uma vez o amadorismo com que o futebol é tratado em Macau. Como se já não bastasse a lástima que se vê dentro das quatro linhas, que só não é pior graças aos jogadores estrangeiros e - aí está - residente não-permanentes, que têm elevado o nível do futebol de Macau ligeiramente acima da fossa céptica, e vêm estes dirigentes desportivos para nos lembrarem que aqui o desporto-rei não passa de uma brincadeira de amigos. Consigo imaginá-los a tomar esta decisão durante uma das reuniões: - "olha, e se agora a malta obrigasse as equipas a apresentar quatro residentes-permanentes no onze inicial?" - "olha, aí está uma patetice que ainda não tinhamos inventado" - "epá, então 'bora lá".
A intenção é incentivar as equipas a dar mais tempo de jogo aos talentos locais. Aos quê locais? Bem, era um ideia interessante, se estivessemos aqui a falar de Portugal ou de outro país onde o futebol fosse levado a sério. Penso mesmo que 99% dos adeptos do Benfica, Porto e Sporting concordariam com uma regra que obrigasse as equipas do escalão principal a apresentarem quatro jogadores da "cantera" na equipa principal. E não ficavam a perder em relação à concorrência, pois se a regra se aplica a todos, também o Gil Vicente, Belenenses, Arouca e todos os outros seriam obrigados a incluir jogadores da formação no seu onze inicial. E depois nas competições internacionais essa regra não se aplicava. Ia surtir resultados positivos a médio-longo prazo. O problema é que em Macau não existem "canteras". O que existe são amadores, perdão, brincalhões, que os "amadores" são assim chamados porque "amam" o ofício, mesmo sem a responsabilidade que o profissionalismo acarreta. Portanto são brincalhões que não percebem nada de futebol, quer na sua vertente da táctica, da preparação física, quer dos requisitos disciplinares. Sou uns pobrezinhos, e ainda recentemente uma investigação concluíu que um deles "achou por bem" utilizar atletas de 15 e 16 anos num torneio de sub-14.
Concordo com o presidente do Sporting de Macau, António da Conceição Júnior, que relembrou as condições que foram dadas às equipas de sub-23, sub-19 e sub-17, que participam nos campeonatos de Macau, e que mesmo assim apresentam resultados que variam entre o medíocre e o mau. O título da Bolinha obtido pelos sub-23 em 2012 será eternamente a única flor colhida do entulho que é a formação futebolística em Macau. E de facto esta decisão sem pés nem cabeça da FFM vem prejudicar as equipas de matriz portuguesa, neste caso os primodivisionários Benfica e Sporting, que contam no seu plantel com uma maioria de residentes não-permanentes. Parece que a nova regra foi feita à medida no sentido de os prejudicar. Uma palavra final para o presidente-proprietário do Monte Carlo, Firmino Mendonça. Pelo que me deu a entender pelas suas palavras, o responsável pelo clube que é o actual campeão do território parece concordar com a nova regra. Mas posso estar enganado. É que não tinha à mão o meu dcionário de grunho-português.
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