quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A droga do jogo


Um comerciante de 63 anos é morto por um homem de 37 anos da China continental na madrugada de segunda-feira na sua loja da Travessa de Cinco de Outubro. O homicida estava em situação ilegal no território há seis meses, tinha dívidas ao jogo, e encontrava-se alcoolizado na altura do crime.

Outro "turista" do continente entra numa ourivesaria de Macau, pede para ver um fio de ouro no valor de 70 mil patacas. O empregado faz-lhe a vontade, o cliente agride-o, arranca-lhe o fio das mãos e sai a correr, sendo detido por um polícia de 42 anos que estava de folga. O ladrão justificou o furto por "dívidas ao jogo".

Um jovem de 14 anos mata a mãe à facada, queixando-se da pouca atenção que a progenitora lhe dispensava. A vítima estava referenciada como jogadora compulsiva, e chegava a passar vários dias sem ver o filho.

Mulheres do continente e de Hong Kong oferecem favores sexuais à porta dos principais casinos e hotéis do território, em troca de quantias irrisíveis, como 200 ou 300 patacas. Em muitos dos casos estas mulheres perderam todo o dinheiro que traziam consigo nas mesas de jogo, e a razão pela qual se prostituem nada tem a ver com a vontade de regressar a casa, mas com a ânsia de regressar às salas de jogo e "recuperar o que perderam".

As autoridades perdem a conta aos casos de jogadores compulsivos que recorrem a empréstimos de agiotas para alimentar o vício do jogo, e acabam por denunciá-los às autoridades quando se sentem ameaçados. Os agiotas são presos, enquanto os jogadores ficam à solta, e procuram outros agiotas.

Milhares de jovens terminam o ensino secundário e procuram emprego nos casinos, optando por não prosseguir os estudos e obter assim formação técnica que lhes poderia abrir outras portas no futuro. Académicos e profissionais da área da educação chamam a atenção para o problema, enquanto outros relembram a necessidade da diversificação da economia, demasiado centralizada no jogo, mas os apelos são sempre ignorados.

A responsável de uma associação não-governamental que presta apoio a vítimas de violência domeéstica aponta as dívidas ao jogo como uma das principais causas das agressões cometidas entre casais. Muitos agregados familiars têm ambos os cônjuges empregados nos casinos, e em muitos casos ambos estão viciados no jogo.

Governo e autoridades, bem como agentes sociais e da educação, consideram a ketamina e o "ice" os maiores problemas da sociedade, especialmente entre os mais jovens. Legisladores e deputados apontam o dedo aos trabalhadores não residentes como sendo um "cancro". O jogo, esse, está bem e recomenda-se. É essencial para a prosperidade e saúde financeira do território. Que merda de vida, esta da droga.

Sem comentários: