quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Macau vai de carrinho (ou de camioneta verde)


O TJB confirmou ontem o óbito da companhia de transportes Reolian, que declarou em Outbro último a sua falência, com dívidas na ordem dos 120 milhões de patacas. Ouviram bem, minha gente, 120 milhões de rufas, depois de dois anos e um mês de operações, confusões, atribulações e canções do bandido. Mas a pergunta é esta: para onde foi este dinheiro todo, quando a concessionária de transportes públicos operava nas mesmas condições das suas concorrentes, a TCM e a Transmac, e ainda com os privilégios inerentes ao facto de ser a "artista convidada".

A atribuição de três concessões de autocarros foi um negócio já de si bastante suspeito. Além das duas já existentes, juntou-se a francesa Reolian, num contrato de sete anos em que a concessionário deveria supostamente ser pioneira nos autocarros "verdes". Lá verdes eram eles, na cor, mas a ideia era que fossem amigos do ambiente, pouco poluentes. Os problemas começaram desde logo, com o ano de 2012 a ficar marcado por um sem número de acidentes envolvendo autocarros da Reolian. Nunca se percebeu bem porquê, e entre justificações da falta de experiência dos motoristas ou da dificuldade de recrutar profissionais competentes, a malapata da Reolian mais parecia uma maldição.

A entrada da Reolian no mercado dos transportes contou com a participação da Veolia e da local H. Nolasco. E quem diz H. Nolasco, diz Susana Chao, a ex-presidente da AL, que vendeu a sua participação assim que começaram os problemas, livrando-se assim de sarna para se coçar. Curioso como nunca se pronunciou sobre este tema tão mediático no seu controverso blogue, e que tenha negado qualquer relação com a empresa desde a primeira hora. Interessante, o Governo de Macau é composto por gente maluca, que vai buscar uma operadora de transportes públicos ao outro lado do mundo, a França, "porque sim", e não para recompensar a recém-aposentada empresária que se sacrificou em nome do bem público durante dez anos, presidindo ao hemiciclo, em deterimento dos seus negócios. Oui oui, a gente finge que acredita.

A face da Reolian era um tal Cedrid Rigaud, e essa era a face da companhia para o melhor e para o pior - mais para o pior. Foi este franciú com ar de mimo que aparecia na TV com uma cara de quem estava a pensar "merde" cada vez que um motorista matava uma velha, deixava o veículo ir abaixo numa subida, arrancava antes de um passageiro descer, partindo-lhe uma perna ou duas, ou parava para comprar o lanche no McDonald's, deixando os passageiros à espera, enfim, não dava um filme: dava uma novela. Agora ficamos a saber que um tal Stephen Chok era o director, mas que agora "tem outra companhia", e lava as mãos da cagada que foi a Reolian. Só em Macau o director de uma companhia que tem um prejuízo tão avultado descarta-se de responsabilidades sem ter que responder por isso.

Quando a companhia declarou falência, o Governo resolveu amparar a queda, responsabilizando-se pelo pagamento dos salários de motoristas e funcionários da empresa pelo menos durante os seis meses seguintes, e garantiu as operações, tudo em nome do interesse público. O mês passado um relatório do CCAC dava conta de ilegalidades na celebração dos contratos de concessão, "o caso mais grave de violação da lei e lesão do interesse público alguma vez visto", de acordo com o próprio comissariado. Pode-se dizer que o CCAC "teve eles no sítio", mas não faltaram os amanuenses de serviço para desvalorizar o relatório. Afinal trata-se de um relatório, grande coisa, não é verbu divinu. E mesmo que fosse, dava-se a volta, dependendo dos interesses em causa.

Novamente, a pergunta que está na cabeça de toda a gente: onde estão os cento e vinte milhões? Por aí, devidamente distribuídos pelos compadres e pelas comadres, acho. O costume. Não lesaram ninguém em particular, apesar da triste figura a que uns se submeteram, enquanto outros há que se encheram mas não entram nos créditos deste filme. Era suposto ser um "esquema" que ia dar resultado, este dos autocarros, só que correu mal. E deu barulho. Ah mas não faz mal. De onde sairam estes 120 milhões, saem outros. E há dúvidas?

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