Este rapaz com cara de poucos amigos é Hong Lei (洪磊, não confundir com o artista plástico com o mesmo nome). Nascido há 44 anos (ninguém diria) na província de Zhejiang, Hong é porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China. O ministro propriamente dito é Wang Yi, que ocupa o cargo desde Março de 2013, mas é Hong Lei o responsável pelas comunicações do ministério para o exterior. Quem olha para ele vê pouco mais que a pose rígida, as mandíbulas cerradas, o olhar inquisitor e o discurso pró-patriótico implacável, sem deixar as potências estrangeiras pôr o pé em ramo verde. Aqui vêmo-lo a criticar a posição das Filipinas quanto à disputa de ilhas que "sempre fizeram parte do território chinês" (um discurso padrão, qualquer dia Portugal fez sempre parte do território chinês, e nós não sabíamos), mas recentemente vimo-lo a ameaçar a Espanha devido ao mandato de captura internacional emitido a quatro individualidades do regime de Pequim. Ooops! Eu disse "ameaçar"? Queria dizer "fazer recomendações", do tipo "nós não vos queremos fazer mal, mas caso persistam na vossa posição, as relações entre os nossos dois países sairão prejudicadas". É como se eu dissesse a alguém que me está a pisar os calos: "não te quero matar, mas a tua conduta pode levar-me a tomar providências que podem resultar na cessação das tuas funções vitais". Mas não se pense que Hong Lei é algum moço de recados, ou apenas o "cavalo preto" do MNE chinês. Quadro do Governo chinês desde 1991, começou como "attaché" do ministério, passou pela embaixada chinesa na Holanda e pelo consulado em São Francisco, e é desde 2010 Director-Geral do Departamento de Informação. Ele não quer fazer mal a ninguém, desde que não o aborreçam. Para ver Hong Lei a sorrir, um momento raro, cliquem
aqui na página de onde retirei o seu vasto currículo. Um tipo inteligente, e muito jeitoso, também.
Mas Hong Lei é um anjinho comparado com Ri Chun Yee, a "tal" locutora dos noticiários da KCTV, o canal (único?) da televisão da Coreia do Norte, e que estamos habituados a ver proferindo um discurso inflamado a elogiar as virtudes do regime de Pyongyang, e insurgindo-se contra o "inimigo Americano", os "fantoches do sul" (a Coreia do Sul), e os "lacaios japoneses". Basicamente a sra. Ri, que só ri com requintes de maldade, tem a função de anunciar aos norte-coreanos as últimas sobre o ódio mais recente que sai da distilaria do regime dos Kim. Ri Chun Yee tem 70 anos - outra vez, ninguém diria, e neste caso leva-nos a suspeitar que bebeu da fonte da eterna juventude - e é locutora há 40. Não é fácil obter este "tacho" na Coreia do Norte, e não basta ter boas ligações e uma carinha laroca. Os antecdentes ideológicos são rigorosamente escrutinados, e basta ter um primo em quinto grau que tenha ficado bêbado um dia e questionado a autoridade do Partido dos Trabalhadores para ficar manchado. A sua formação não é sequer em Jornalismo, mas sim em drama - quem mais faz ela lembrar com a sua retórica? ah sim, Adolf Hitler - , o que explica a teatralidade com que apresenta os noticiários. Neste vídeo acima está a anunciar a morte do "querido líder" Kim Jong-Il, em Dezembro de 2011, com a mesma paixão de quem anuncia a morte do seu hamster de estimação. Esta é uma menina que toma três refeições por dia no país mais isolado do mundo. Fruto da sua devoção incondicional, nunca lhe deve ter faltado um racionamento.
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