segunda-feira, 5 de maio de 2014

Os gorilas do Chefe


Tudo terá acontecido no último Sábado durante uma das (poucas) aparições públicas do Chefe do Executivo da RAEM, Chui Sai On. Uma jornalista de uma publicação local em língua chinesa tentou abordar Chui a propósito do seu plano de consultas públicas individuais, quando foi agredida por um dos elementos da sua segurança, que lhe terá puxado a mochila onde guardava algum equipamento e objectos pessoais, causando-lhe uma queda e alguns hematomas, que mostrou à restante imprensa enquanto fazia queixa por agressão. A situação embaraçou a equipa que acompanha o CE, e para piorar a situação, aconteceu no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa - alguém se terá esquecido de relembrar ao séquito de acompanha o chefe que este era um dia pouco propício para os "exageros" a que os seus "gorilas" já nos têm habituado.

O problema não é especificamente de Chui Sai On, pois com Edmund Ho, o seu antecessor, já era possível verificar esta autêntica palhaçada que rodeia a segurança máxima do responsável maior pelo Governo da RAEM. Não vou aqui questionar aspectos relacionados com segurança, ou duvidar de eventuais informações privilegiadas a que estes elementos que fazem da protecção de altas individualidades a sua profissão têm acesso, mas existe sem qualquer margem para dúvida um certo exagero. Onde quer que o CE vá, cercam-se as imediações, incomoda-se o funcionamento normal de negócios privados e do trânsito, e enxotam-se literalmente cidadãos que por ali circulam, que se vêem assim privados do seu acesso aos espaços públicos, enfim, um autêntico aparato com tiques de tropa fandanga, e de que questiono seriamente a sua validade. O que leva o dirigente de um território diminuto como é Macau a ter uma segurança pessoal ao nível do presidente dos Estados Unidos ou do Papa, e quem sabe até mais elaborada do que o presidente da China, a quem no fim precisa de prestar contas?

Já senti na pele este número de circo. Terá sido por volta de 2004 ou 2005, não me recordo com precisão, e durante o Festival da Lusofonia, no Largo do Carmo, na Taipa. Estava eu na banca de Moçambique, à espera de ser atendido, quando sou afastado com um valente safanão por parte de um indivíduo enfatiado - até demais para o calor que se fazia sentir nesse final de tarde de sexta-feira - equipado de auricular, e que depois de me ter tirado da sua frente encostou-se ao balcão, e após alguns segundos chega Edmund Ho, que após minuto e meio de permanência prova um pastel enquanto é massacrado pelos "flash" da imprensa, sacrossantamente rodeado dos seus capangas. Valeu-me o facto de ser eu próprio um tipo bem alimentado e com uma respeitável distância a separar o alto do cocuruto da sola dos pés, ou caso contrário teria caído duro no chão, como terá sucedido com a tal jornalista queixosa. Onde pára o CE, abundam estes tipos com um ar de quem viu séries americanas a mais, ou então filmes de Hong Kong, com a diferença de que a sua conduta lembra mais a dos guarda-costas dos líderes da tríades da RAE vizinha do que propriamente as de uma figura pública. Se calhar é essa a "escola" que seguem estes elementos da segurança privada, onde o lema é "bater primeiro e perguntar depois".

Tenho a certeza que tanto Chui Sai On hoje, como Edmund Ho ontem, nunca questionaram as razões dos elementos da sua segurança privada, mas deviam. Quer dizer, como é que o Chefe do Executivo pode sentir o pulso à população, ao cidadão comum, quando este se sente intimidado em se aproximar dele, e trocar dois dedos de conversa, apertar-lhe o bacalhau, ou dependendo do entusiasmo, dsar-lhe até um abraço firme, sem que com isso lhe deixe um punhal nas costas? E que m se atreviria? E para que efeito, no fim de contas? Estes "durões" a quem tudo é permitido dão a entender que têm antes uma agenda pessoal, e pensam que o numero de tabefes com que brindam um jornalista é o equivalente a pontos de bónus na sua carteira profissional. Estou solidário com a jornalista que acredito ter sido mesmo agredida, e espero que este incidente seja um ponto de partida para uma atitude mais civilizada com as pessoas - não com a imprensa, em particular, mas com as pessoas - que queiram abordar o Chefe do Executivo de forma pacífica. Para que aprendam, ó macacões.

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