Este é um vídeo que tem vindo a ser partilhado nas redes sociais, e tem causado algum choque, e depois de vê-lo é fácil entender porquê - mas não por todas as razões que têm vindo a ser apontadas, entenda-se. A autora do vídeo é uma tal Anna Santiago, que assim faz a sua estreia no YouTube. Não sei qual é a sua intenção, realmente; se é para se apresentar como artista de algum género pós-pimba, para se dar a conhecer, ou se está simplesmente a brincar - se é brincadeira, falha miseravelmente em muitos pontos. O vídeo foi introduzido no YouTube em finais de Fevereiro, mas alguém terá descoberto recentemente esta "pérola", e actualmente o número de visualizações ultrapassa as 70 mil, com 948 "dislikes", e apenas 95 "likes" - eis 95 pessoas que das duas uma: ou são mais rústicas que um burro de feira, ou têm um sentido de ironia mais aguçado que o Vasco Pulido Valente. Durante os 4 minutos e 39 segundos que dura o "videoclip", vemos a Anna (assim mesmo, com dois "n", para se diferenciar das outras Anas, que não são disléxicas) a chorar no cemitério a morte do seu suposto marido, e de seguida, num assomo de pragmatismo, dizer que quer procurar um marido rico: "ai Anna, tens que dar o teu melhor, mais um marido e bater o teu recorde". Rimar "melhor" com "recorde" lembra-me em tudo alguns artistas brasileiros que faziam rimar "animais" com "paz", ou "pais", na pronúncia do português lá da outra banda do Atlântico.
Eu estou em crer, e espero não estar enganado, que tudo não passa de uma brincadeira. Se esta Anna quisesse mesmo fazer carreira no mundo do espectáculo, dificilmente começava com algo de tão espampanante. Quer dizer, a letra, a indumentária, a coreografia, onde chega a roçar os genitais num ossário de um cemitério, uma cena onde puxa dois indivíduos mascarados pela gravata, e depois de revistar a carteira de um deles e perceber que só lá estão algumas moedas de cêntimo, rejeita-o. Isto para não falar do facto de cantar mal, e ter a sensualidade de um pacote de bochechas de porco preto congeladas. E o refrão? Para quem não entendeu no meio de tanta desafinação, é qualquer coisa como "Euro, euro, euro, euro, euro, money, money, money, money, money, jóias, jóias, jóais, jóias, jóias, luxo, luxo, luxo, luxo". Ao contrário daquele vídeo da norte-americana Rebecca Black, que ficou famoso por ser tão mau, o "Friday" (67 milhões de visualizações, mesmo assim), acho que esta artista portuguesa não tinha qualquer intenção de atingir o estrelato. Quer dizer, isto é muito "in your face" para se levar a sério. Vá lá, façam um pequeno esforço para levar isto na desportiva.
Mas pronto, não poderia faltar a habitual onda de indignação, e o habitual concurso no ciberespaço de quem consegue mais depressa e mais cruelmente insultar e enxovalhar a autora do vídeo, o seu conteúdo, e, porque o que não falta no nosso país são telepatas que lêem as mentes e estão cheios de certezas das intenções de toda a gente, fazer a análise socio-cultural do fenómeno. Exemplo disso foi o blogue A Pipoca Mais Doce, cujo(s) autor(es) respeito e aproveito para saudar, que usaram
este caso pontual (clicar para ver o comentário) para fazer uma espécie de "estado da nação da vergonha e da falta de respeito, e chegar ao ponto de questionar "os valores que se transmitem à juventude". Eu não considero que esta tipa que ninguém conhece de parte alguma "a voz de uma geração", e sinceramente penso que os nossos jovens convivem diariamente com coisas bastante piores que estas no mundo virtual. Não aceito que uma jovem senhorita que se torne numa galdéria devassa sem escrúpulos, materialista e sem o mínimo de moral, em suma, uma grandessíssima puta, se justifique com este vídeo da Anna Santiago. Se querem que vos diga sinceramente, preocupa-me muito mais a Ana Malhoa, essa sim, que parece que está mesmo a revelar as suas verdadeiras cores, e com um legião respeitável de seguidoras.
Mas de blogue A Pipoca Mais Doce tivemos uma opinião sóbria, por muito que eu discorde do alarmismo, o mesmo não se pode dizer da opinião do Zé Povinho, dos inúmeros comentadores anónimos (mesmo que identificados, ninguém os conhece na mesma, portanto são anónimos, duh!) que disseram de sua justiça nas páginas onde o vídeo foi partilhado. Um deles chega mesmo a estabelecer um paralelo entre as liberdades adquiridas pela revolução do 25 de Abril e a putativa mensagem decadente transmitida pela canção, e chega ao ponto de afirmar que "em alguns aspectos, os islâmicos que apedrejam os hereges têm alguma razão". Ora aí está um bom exemplo de como se confunde o cu com com as calças, e em vez de se guardar a opinião no bolso das mesmas, enrola-se-la num grosso maço e enfia-se-la-la-la no olhinho do cuzinho, e com o consequente "ai!" vem uma opinião deste tipo. Com o 25 de Abril e o fim da censura, foi-nos dada a oportunidade de apreciar coisas boas, coisas menos boas, e coisas péssimas, conforme os gostos, e foi-nos recordado que todos temos um filtro que nos permite analisar as coisas e selecionar de toda a oferta - e não apenas daquilo que nos é permitido ver - aquilo que gostamos e aquilo que dispensamos, ou até abominamos. Imginem até que nos é permitido comentar em páginas e fórums na internet para que todo o mundo veja, mesmo que não sejamos ninguém nesta vida. Abaixo a mensagem da Anna Santiago, pois, mas viva a liberdade...ó tansos.
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