domingo, 11 de maio de 2014

Os sons dos 80: Cromos em falta (parte IV)


E agora qual barco de recreio alugado a uma companhia pouco credível de tão barata que é, que remenda os rombos no casco com pastilha elástica, e quando o motor vai abaixo no meio do oceano pede para os passageiros "descerem e empurrar", termino a rubrica dedicada aos anos 80 com parte daquilo que ficou por dizer quanto à música "pop", aos sucessos das "charts", tudo isso e mais alguma coisa. Espero que tenham gostado da viagem, e dos remendos que aqui deixo. Se ficou alguma coisa por dizer, bem, olhem, digam vocês!


Os Devo foram um grupo que obteve sucesso sem que ninguém saiba ainda como. Existe uma teoria de que existia um plano militar para estupidificar o planeta, e acidentalmente foi libertado um gás que reduziu o Q.I. dos habitantes do planeta a níveis que os deixaram na ordem dos dois dígitos. É possível, de todo, pois de outra forma este "Whip It", que apesar do vídeo que até entretém (de um jeito surrealista, enfim...) não teria o êxito que teve, entrando em tops e o camano, e nas listas de "best of" dos anos 80. Os Devo são assim um bocado como o vírus do Ebola: existiram de 1973 até 1991, e depois regressaram em 1996, e ficaram até hoje - mas remetidos à foz do rio Zaire, felizmente.


Outro fenómeno que passou que nem um raio por estes anos 80 foram os The Vapors, uma banda britânica de Surrey, que existiu apenas durante três anos entre 1979 e 1982, e entrou para a história com o single "Turning Japanese", do seu primeiro álbum da série de dois, "New Clear Days". Vendo bem, ou neste caso ouvindo, a canção até não é má, é dentro do "new wave" com um cheirinho a "punk", o que é sempre agradável, e justifica o nº 3 que obteve no top de singles do Reino Unido. Na Austrália e no Canadá a malta passou-se com aquilo, e o single chegou a nº 1. Se calhar pensaram mesmo que se estavam a tornar japoneses. Aso!!!


O grupo britânico A Flock of Seagulls (um bando de gaivotas), prometiam ser uma das grandes sensações dos anos 80, especialmente depois do single "I ran (so far away)" (corri (tão longe) - uma premonição feita com dois anos de antecedência da vitória de Carlos Lopes na maratona das Olimpíadas de Los Angeles em 1984), que foi top-10 na Billboard e nº 1 na Austrália. Só que estes tipos eram de Liverpool, mas não eram nenhuns Beatles, e desvaneceram, tornando-se um daqueles fósseis do Museu de História Natural dos anos 80 - e ainda bem, digo eu.


Bem, já aqui tinha falado do incidente entre os Matt Bianco e os Fine Young Cannibals na cerimónia dos prémios Midem, em 1986, em França, já falei dos últimos e do seu êxito "She Drives me Crazy", portanto falta falar dos Matt Bianco. Estes são uma banda britânica formada em 1983 ainda no activo sem interrupções, que optou um estilo dentro do "pop" com influências do "jazz" e dos ritmos latinos. A canção com que venceram o tal concurso e irritaram os outros gajos foi este "More Than I Can Bear", do seu álbum de estreia, "Whose Side Are You On", de 1984. Só isto, mais nada.


Como já vimos nesta rubrica, John Lennon foi assassinado ainda antes que mal abrisse a boca nesta década de 80. Facto. Quatro anos depois deste infortúnio (para alguns), eis que aparece a cantar o filho Julian, com este "Too Late for Goodbyes", do seu álbum de estreia "Valotte", que contou com a produção do Ramone Phil Ramone (eh, eh). Bem, o single foi nº 6 no Reino Unido e nº 5 na Billboard, e os fãs dos Beatles ficaram todos excitados com a perspectiva do júnior aqui poider substituir o pai como líder espiritual dos pós-hippies, que tinham ficado orfãos do cabeludo naquele dia em que eu fiz seis anos (ah! sabiam desta?). Bom, a verdade é que a porca da Yoko é que detém os direitos de tudo o que era de John Lennon, e este Julian é filho do primeiro casamento do "hippie-mor", fala mal que se farta da "geisha" da madrasta, e para mais não sabe cantar - não serve nem para limpar a campa do paizinho. Seguiram-se outras tentativas, mas já estava visto, portanto ninguém ligou. Sabem qual é a melhor canção com ligação a Julian Lennon? "Hey Jude" - é sobre ele. Se fosse escrita POR ele, ufa...


Os Cock Robin foram, e hoje são outra vez, uma banda norte-americana de San Francisco, que cansados da indiferença do público local, foram para a Europa vender discos, estabelecendo-se no Reino Unido, e obtendo reconhecimento no continente. Prova disso é este "The Promise you Made", uma excelente canção, ninguém pode negar, que foi gravada em 1984, e dois anos depois foi nº 1 na Bélgica, nº 2 nos Países Baixos e na Alemanha, nº 4 na França e nº 6 na Suíça. Nas ilhas britânicas foi mais discreto, conseguindo um honroso nº 11 na Irlanda, mas um modesto nº 28 no Reino Unido, e esse foi o único single que colocaram nos "charts" em terras de sua majestade. Nos Estados Unidos provavelmente nunca ouviram falar deles. Formados em 1982, terminaram em 1990, e reagruparam-se em 2006.


Os Sly Fox foram um projecto de 1985, da autoria um duo de Miami composto por um afro-americano e um porto-riquenho, que gravaram um álbum com o mesmo nome que o single de apresentação: "Let's Go All the Way". A canção, que tem um ritmo muito "techno", muito "afro", bastante dançável e acompanhada deste interessante vídeo, chegou a nº 5 no top do Reino Unido, e a nº 3 da Billboard. Depois disto os rapazes pegaram no dinheiro, bazaram, e nunca mais se ouviu falar deles. Isto é o que se pode chamar uma rapidinha, "à lá 80's".


Os Double, como o nome indica, foram um duo suíço formado em Zurique em 1983 e terminado em 1987 por Kurt Maloo (guitarra e voz) e Felix Haug (teclas e percussão), e que em 1985 surpreendeu o mundo com este muito suave, muito "ambiance" tema "Captain of Her Heart", do seu segundo album, "Blue". O momento de inspiração valeu-lhes o nº 16 na Billboard e o nº 8 no Reino Unido, além do top-10 em vários outros países, e garantiu-lhes os tais 15 minutos de fama a que tomos temos direito, como dizia Warhol. A propósito, Andy Warhol morreu no mesmo ano em que os Double terminaram: 1987. Coincidência, apenas? Ah, seus ingénuos! (Entra a música dos X-Files).


O britânico Robert Palmer era um indivíduo com um ar muito sério, que cantava um rock muito "pão-com-manteiga", mas que conseguiu supreender o mundo duas vezes: primeiro em 1979 com ""Bad Case of Loving You (Doctor, Doctor)", e sete anos depois, em 1986, com este "Addicted to Love", do seu álbum "Riptide". O disco era muito 80's, ao estilo do que fazia Huey Lewis do outro lado do Atlântico, e foi nº 5 no top de álbums do Reino Unido. Já o single foi ainda mais longe, chegando a nº 1 da Billboard, e outra vez a nº 5 no Reino Unido, mas desta vez da tabela de singles. Surpreendentemente, Robert Palmer deixou-nos de repente em 2003, aos 54 anos, de ataque cardíaco.


Os Red Box foram mais um daqueles grupos de "synthpop" e "new wave" britânicos que brotaram que nem cogumelos durante os anos 80, e que depois se evaporaram. Neste caso chamaram as atenções do mundo com este "For America", do álbum de 1986 "The Circle and the Square". Com este single e ainda com outro, "Lean on Me", conseguiram dois top-10 na tabela de singles do Reino Unido, mas o piscar de olho aos parceiros do outro lado do Atlântico não deu certo, pois nem no top-200 da Billboard conseguiram figurar. O grupo terminou em 1990, e reuniu-se novamente vinte anos depois, em 2010. Isto é que deve andar por aí muita nostalgia.


Depois de anos a tocar em "cover bands" que ganhavam a vida em casamentos e quejandos, o californiano Robbie Nevil apareceu em 1986, aos 28 anos, com este muito modernaço "C'est La Vie", que chegou a nº 2 na Billboard e nº 3 no Reino Unido, e tornou-se uma grande promessa. Só que não correspondeu às expectativas, e depois de se andar a arrastar até meados dos anos 90, decidiu tornar-se produtor musical e engenheiro de som, que é o que faz até hoje.


Em finais de 1986 os Genesis, que tenho deixado sossegados, por motivos pessoais, lançaram este single "Land of Confusion", do seu álbum do mesmo ano, "Invisible Touch". A canção é uma merda, bem ao estilo de Phil Collins com os Genesis, mas o vídeo fez história, pois é suportado pelas marionetes do "show" de sátira política Spitting Image, da mesma companhia que em Portugal nos trouxe o "Contra-Informação". Esta é a caricatura perfeita dos anos 80, pois além dos bonecos dos próprios Genesis, temos Ronaldo Reagan e a sua Nancy nos papéis principais - além do chimpanzé Bonzo, que contracenou com Reagan na comédia de 1951 "Bedtime for Bonzo", e tornou-se numa imagem da qual o ex-presidente norte-americano nunca se conseguiu livrar. Além destes temos Thatcher, Stallone, Gaddafi, o Ayatola chupa-me a tola, todos os bonecos dos anos 80. Um vídeo bem conseguido. Repito: o vídeo.


E pronto, vamos acabar DE VEZ, e mal. Desculpem se vos disse que gosto de filmes que acabam mal, mas é mesmo assim: o fim dos anos 80 foram musicalmente um fim de festa. E quando acaba a festa, nada como mandar a malta para casa com uma música que caso insistam em ficar, podem começar sentir vontade de rebentar os miolos, como é o caso deste "Pump Up the Jam", dos belgas Technotronic. Subitamente a juventude que tinha sido afectada por este vírus do house-eurodance-acid-tech-mais-a-puta-que-os-pariu transformava-se numa massa disforme e paneleira de semi-primatas com popas no cabelo, calças de boca-de-sino com desenhos de flores na lateral e grunhia inanidades como "pump it up pump it pump yeah and the beat is pumpin'". Esta cagada que chegou a nº 2 do top do Reino Unido (a culpa é sempre dos bifes, vêem?) e passou para as américas no início do ano seguinte, abriu a caixa de Pandora para "coisas" como os Snap!, MC Hammer, Vanilla Ice, EMF, Soul II Soul...pois, para muitos de vocês estes nomes não dizem nada, mas são a razão pela qual o mundo está como está hoje.

Menções honrosas: Go West, Heaven 17, Talk Talk, The Jam, Midnight Oil, Enigma - já sabe, é só clicar nos "links".

Descansem em paz, anos 90. RIP.

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