segunda-feira, 26 de maio de 2014

A caminho do Brasil: um leste sempre adiado


Os países do chamado "leste europeu" estiveram durante grande parte do século XX mais dependentes de condicionantes políticas do que propriamente da sua situação geográfica periférica. No epílogo da II Guerra Mundial, muitas destas nações e povos ficaram sujeitos a um rigoroso controlo por parte do quartel-general do comunismo de Moscovo, e no que toca à actividade desportiva, onde o futebol não era excepção, o desempenho era a extensão do sucesso do próprio regime a que se encontravam submissos. Conhecidos pela disciplina, rigor táctico, e com alguma fama de batoteiros, os países para lá da cortina de ferro pecavam exactamente pela falta de alguma "soltura", da criatividade e da imaginação que por vezes faz toda a diferença no momento de se apurar um campeão. Nem por isso o registo destes países é de se ignorar de todo, e contam no seu currículo com quatro finais de campeonatos do mundo de futebol (mesmo que num deles ainda não existisse a divisória cortina), vários torneios olímpicos e participações bastante positivas. A queda do muro de Berlim e a desagregação da União Soviética e da ex-Jugoslávia, assim como a divisão da Checoslováquia e a unificação da Alemanha, trouxeram um período de algum desacerto, mas a auto-determinação de algum deste talento foi também um aliciante para que surgisse novo talento, e mais concorrência, especialmente na Federação europeia. Vamos então recordar um pouco desta história.


A primeira grande potência da Europa de leste foi a Hungria, quer antes, quer depois da II Guerra Mundial. Os magiares - assim conhecidos devido ao nome em húngaro do seu país "Magyarország" - não viajaram até ao Uruguai no primeiro mundial, e em 1934 na Itália seriam eliminados nos quartos-de-final pela Áustria por 2-1, depois de terem vencido o Egipto na primeira ronda por 4-2. Com os ventos de guerra a soprar na Europa, foram finalistas no mundial de 1938, em França, batendo as Índias Holandesas (actualmente Indonésia) na primeira ronda por 6-0, a Suíça nos quartos-de-final por 2-0, e chegando ao jogo decisivo após uma goleada sobre a Suécia por 5-1. Só os italianos do "il duce" detiveram os húngaros, vencendo por 4-2, com uma marcha do marcador emocionante: 1-0; 1-1; 3-1 e 3-2. Veio a guerra, e os magiares não participariam do mundial de 1950 no Brasil por falta de verba.


Ferenc Puskas, provavelmente o melhor avançado do mundo nos anos 50.

Em 1954 a Hungria leva a sua melhor equipa de sempre ao campeonato do mundo organizado pela Suíça, e terá sido provavelmente a equipa que mais merecia vencer o mundial de todas as que não venceram na história dos 19 torneios. Uma equipa com uma linha avançada de sonho, com o capitão Ferenc Puskas e o artilheiro Sandor Kocsis, melhor marcador da prova com 11 golos, "passeou" praticamente até à final, "destruíndo" a Coreia do Sul por 9-0 e a Alemanha Ocidental por 8-3 na fase de grupos, e eliminando Brasil e Uruguai por 4-2 até à final, onde perderiam com os alemães por 2-3, depois de terem estado em vantagem por dois golos aos oito minutos. A Hungria estabeleceu no mundial de 54 um número de recordes que ainda hoje não foram batidos: mais golos marcados num só torneio, quer em número (27), quer em média por jogo (5,4), maior "goal-average", ou diferença entre golos marcados e sofridos (17), maior diferença de golos por vitória (3,4), e maior goleada (9-0 c/Coreia do Sul), marca que seria igualada pela Jugoslávia em 1974 (9-0 c/Zaire), e pela própria Hungria em 1982 (10-1 c/El Salvador). Os "magiares" ficariam depois pela primeira fase em 58, chegavam aos quartos-de-final em 62 e 66, e só voltariam a participar em 78, 82 e 86, nunca passando da primeira fase. Desde o mundial do México há 28 anos que os húngaros não participam em qualquer torneio internacional de selecções.


Oldřich Nejedlý, o homem-golo dos checos nos anos 30.

A Checoslováquia foi a primeira selecção da Europa de leste ao disputar a final de um mundial, perdendo frente à Itália no jogo decisivo em Roma, em 1934, por 2-1 após prolongamento, depois de vitórias por 2-1 frente à Roménia, 3-2 sobre a Suíça, e 3-1 contra a Alemanha nas meias-finais. Oldřich Nejedlý foi o melhor marcador do torneio com 5 golos. A Checoslováquia voltaria a uma final em 1962, perdendo na final com o Brasil. Depois de uma primeira fase onde passaram com alguma sorte, após vitória por 1-0 sobre a Espanha, empate sem golos com o Brasil e derrota por 3-1 com o México, os checos "cresceram" na fase a eliminar, vencendo a Hungria por 1-0 e a Jugoslávia por 3-1 antes de reencontrar a "canarinha", e aí Amarildo, Vává, Garrincha e companhia não deram hipóteses à equipa de leste, vencendo por 3-1.


A Checoslováquia foi sempre uma equipa de "tudo ou nada", pois além das duas finais perdidas, chegaram aos quartos-de-final em 1938, vencendo apenas um jogo, e não passariam da primeira fase em 1954, 1958, 1970 e 1982. Da última vez que checos e eslovacos participaram juntos, em 1990, a selecção fez uma boa figura em Itália, chegando aos quartos-de-final, perdendo para os eventuais campeões, a Alemanha Ocidental, com um golo de Matthaus de "penalty". Na primeira fase golearam os Estados Unidos por 5-1, venceram a Áustria por 1-0, e perderiam apenas para a Itália por 0-2, voltando a golear nos oitavos-de-final a Costa Rica por 4-1, com Thomas Skuhravy, que teve uma passagem discreta pelo Sporting anos depois, a marcar cinco golos no torneio. Como República Checa, e apesar da qualidade dos seus jogadores, que jogaram uma final de um campeonato europeu em 1996, só participariam de um mundial em 2006, sendo eliminados na fase de grupos depois de derrotas frente à Itália e ao Gana.


A Eslováquia, por seu lado, tinha a receita para vencer os italianos. Os "irmãos mais novos" dos checos só conseguiriam algum protagonismo em 2010, quando participaram no mundial da África do Sul, o seu primeiro torneio internacional. Depois de um empate a um golo com a Nova Zelândia, e uma derrota por 0-2 com o Paraguai, poucos acreditavam que os eslovacos fossem bater o pé à campeã mundial Itália, mas dois golos do avançado Robert Vittek garantiam uma vitória por 3-2 e a passagem à fase seguinte, bem como a eliminação dos transalpinos. Nos oitavos a Eslováquia seria eliminada pela finalista Holanda por 1-2, mas deixaria uma boa impressão na sua primeira participação em fases finais de mundiais. Este ano ficam a ver o torneio no Brasil pela televisão.


Lev Yashin, o "aranha".

Falemos agora da "mãe" de todas estas nações do leste europeu: a União Soviética. Os soviéticos, que começaram a participar em mundiais a partir de 1958 - altura da destalinização - tiveram quase sempre participações honrosas, atingindo os quartos-de-final na Suécia em 58, e no Chile em 62. Em 1966 tiveram a sua melhor participação, atingindo as meias-finais, perdendo na ocasião para a Alemanha Ocidental, e depois para Portugal no jogo para o 3º lugar. Comovente foi o momento em que o guarda-redes soviete Lev Yashin, a "aranha negra", assim chamado devido à sua elasticidade e destreza entre os postes, abraçou Eusébio depois deste lhe ter marcado um "penalty" nessa partida - o melhor avançado e o melhor guardião do mundo, que mereciam melhor sorte. Mais uma presença nos quartos-de-final em 1970, mas por razões políticas a URSS recusa-se a participar do mundial de 1974 na Alemanha, devido ao golpe militar anti-comunista levado a cabo por Pinochet no Chile no ano anterior. Em 1978 não se conseguem qualificar, e em 1982 regressam, ficando pela segunda fase de grupos, e ficando de fora das meias-finais por diferença de golos com a Polónia.


Tem então início a era de Valery Lobanovsky, o treinador ucraniano que incluíu na URSS uma maioria de jogadores dos ucranianos do Dinamo Kiev, vencedores da Taça das Taças em 1986, goleando na final o Atletico de Madrid por 3-0. No mesmo ano, no mundial do México, os sovietes ficavam incluidos no grupo de França, Hungria e Canadá. Na estreia dão goleada de 6-0 aos húngaros, e depois de um empate a um golo com a França, vencem o Canadá por 2-0 e terminam o grupo em primeiro lugar. Nos oitavos-de-final encontram os "diabos vermelhos", a Bélgica, e perdem por 4-3 num jogo emocionante resolvido apenas no prolongamento, com três golos de Igor Belanov, e ficam com razões de queixa da arbitragem.


Lobanovksy, o mestre.

A União Soviética participa pela última vez num europeu em 88, chegando à final onde perderia para a Holanda de Van Basten, Gullit e Rijkaard, mostrando no entanto um futebol de topo de gama, com Dassaev na baliza, Kuznetsov e Khidiatulyn na defesa, Raz, Zavarov, Aleinikov e Litovchenko no meio-campo, e um ataque com Belanov e Mikhailichenko - quem não se lembra desta equipa fantástica? Contudo, e já com a URSS em plena desagregação, participam no mundial de 1990 na Itália, e após derrotas por 2-0 frente à Roménia e Argentina, vencem os Camarões por 4-0, mas não chega para evitar a eliminação na fase de grupos.


Em 1994 participam pela primeira vez como Federação Russa, ou simplesmente Rússia. Ainda afectados por alguma instabilidade política, a equipa de Pavel Sadyrin, que contava com o ex-Benfica e ex-FC Porto Serguej Yuran, bem como o guarda-redes do Chelsea, Dmitri Kharin, volta a ter um início comprometedor, perdendo por 2-0 com o Brasil e por 3-1 com a Suécia. No último jogo os Camarões voltam a ser "devorados", desta feita por 6-1, com um tal Oleg Salenko, avançadp dps espanhóis do Logroñes, a bater o recorde de mais golos num só jogo em fases finais de mundiais, ao apontar cinco, um recorde que ainda hoje se mantém. Os russos seriam eliminados, e só voltariam em 2002, ficando novamente pela fase de grupos, após derrotas com a Bélgica e o Japão, o que deixaria os adeptos russos enfurecidos. Este ano vão mais confiantes, sob o comando de Fabio Capello, e mais confiantes estarão ainda daqui a quatro anos, quando organizarem pela primeira vez o mundial.


A equipa da Ucrânia que participou no mundial de 2006, com Shevchenko a ostentar o nº 7 na camisola.

Das ex-repúblicas soviéticas independentes depois da desagregação da URSS em 1991, a única a chegar à fase final de um mundial foi a Ucrânia. Em 1998 os ucranianos tinham ficado perto, depois de terminarem o seu grupo de qualificação atrás da Alemanha, e à frente de Portugal, mas seriam eliminados no "play-off" pela Croácia. Em 2006 qualificam-se para o mundial da Alemanha, orientados por Olrg Blokhin, antiga glória dos sovietes, e capitaneados por Andryi Shevchenko, ex-jogador do Dinamo Kiev, AC Milão e Chelsea, a maior referência dos ucranianos desde a independência. Na estreia são goleados pela Espanha por 4-0, mas rectificam no segundo jogo, aplicando o mesmo resultado à Arábia Saudita, e qualificam-se após vitória frente à Tunísia por 1-0. Nos oitavos vencem a Suíça nos "penalties", depois de um 0-0 após 120 minutos, e nos quartos-de-final perdiam frente à Itália, campeã do mundo nesse ano, por claros 3-0. Uma participação memorável, que não se repetiria em 2010 e nem se repetirá este ano.


Drazan Jerkovic, o orgulho jugoslavo dos anos 60.

A Jugoslávia, que incluíu até 1992 as repúblicas agora independentes da Croácia, Eslovénia, Bósnia-Herzegovina e Macedónia, foi uma das participantes do primeiro mundial de futebol em 1930, no Uruguai, disponibilizando-se assim a passar três meses na América do Sul. Terá valido a pena, pois chegariam às meias-finais após baterem por 2-1 o Brasil, e por 4-0 a Bolívia, sendo afastadas depois pelos eventuais campeões, o Uruguai, por expressivos 6-1. Em 1934 e 1938 falhavam a qualificação, e já no pós-guerra ficavam-se pela fase de grupos em 1950, e atingiam os quartos-de-final em 1954 e 1958. Seria em 62, no Chile, que teriam o seu melhor desempenho, atingindo as meias-finais, perdendo para a Checoslováquia por 3-1, e no jogo do 3º lugar por 1-0 para a equipa da casa. O avançado Drazan Jerkovic, com quatro golos e uma técnica impressionante, seria a grande figura desta equipa.


Ausentes em 66 e 1970, voltariam em 1974, onde ficariam pela segunda fase de grupos. Pior ainda a participação em 1982 em Espanha, onde seriam eliminados na primeira ronda. Em 1990, já com a guerra das balcãs à porta conseguiriam chegar aos quartos-de-final, perdendo nos "penalties" com a Argentina de Maradona. Banidos em 1994 pela FIFA e pela UEFA, participavam como Jugoslávia pela última vez em 1998, perdendo novamente nos quartos-de-final frente à Holanda por 2-1, graças a um golo de Edgar Davids nos descontos. A última participação seria em 2006 com a designação de Sérvia e Montenegro, e somariam por derrotas os três jogos da fase de grupos, incluíndo uma goleada por 6-0 frente à Argentina. Com a independência da República do Montenegro em Junho desse ano, são agora conhecidos apenas por Sérvia, e apesar da renovação estar a correr bem, ainda não conseguiram o apuramento para qualquer torneio internacional.


Das ex-repúblicas jugoslavas, a Croácia é sem dúvida um exemplo de sucesso. Depois de uma lamentável e sangrenta guerra que culminaria na independência do poder de Belgrado, os croatas participaram no Euro 2006, e demonstraram que podiam ser uma das selecções europeias de topo. Dois anos depois em França isso confirmou-se, com o 3º lugar no mundial, e com Davor Suker a vencer o prémio de melhor marcador do torneio. Após duas vitórias frente a Jamaica (3-1) e Japão (1-0), outros dois estreantes, e derrota com a Argentina pela margem mínima, venciam a Roménia nos oitavos outra vez por 1-0, e nos quartos-de-final conseguiram aquele que é talvez o seu maior feito: golearam por 3-0 a Alemanha. Dificilmente os croatas esquecerão aquela tarde em Lyon onde Robert Jarni, Goran Vlaovic e Suker apontaram os golos que humilharam os super-favoritos alemães, e deixaram o mundo do futebol em sentido perante a jovem nação que ostentava um curioso equipamento em xadrez branco e vermelho. Nas meias-finais perderiam com a eventual, campeã, a França, e apesar de terem estado em vantagem com um golo de Suker, Lilian Thuram apontava dois golos e virava o resultado a favor dos eventuais campeões mundiais. No jogo de consolação ainda venceriam a Holanda por 2-1. Depois disto a Croácia participou mais duas vezes, em 2002 e 2006, não passando da fase de grupos, e regressam este ano depois da ausência em 2010.


Também a pequena república da Eslovénia, onde o esqui é o desporto predilecto da sua população de dois milhões de habitantes, viria a participar em duas fases finais de mundiais. Primeiro em 2002, pela mão do antigo internacional jugoslavo Srečko Katanec, e com o avançado Zlatko Zahovic, que passou pelo FC Porto e Benfica como grande estrela. As coisas não correram bem, e depois de Zahovic ter sido dispensado a meio da primeira fase devido a problemas disciplinares, os eslovenos despediam-se com três derrotas noutros tantos jogos. Em 2010, com o treinador Matjaž Kek, participam no mundial da África do Sul, e alcançam a primeira vitória frente à Argélia por 1-0, mas depois de um empate a duas bolas com os Estados Unidos, terminam no 3º lugar do Grupo C depois de uma derrota por 0-1 com a Inglaterra. Este ano falharam a terceira presença em mundiais.


Quem tem motivos de orgulho da sua selecção devem ser os polacos, que participando pela primeira vez em 1938, deram uma "corrida" ao Brasil, perdendo por 5-6 com o Brasil na primeira ronda. Seguiram-se tempos difíceis, atendendo o que a Polónia sofreu na guerra às mãos dos nazis, e só em 1974 regressariam aos mundiais, e de que forma! Com Grzegorz Lato em grande forma, apontando sete golos, os polacos vencem todos os jogos, sendo apenas travados pela Alemanha na segunda fase de grupos por 1-0. Também por 1-0 foi a vitória contra o Brasil na partida de atribuição do 3º lugar, e exactamente com um golo de Lato.


Seguiu-se a era de Zbigniew Boniek, a maior estrela polaca dos anos 70 e 80, que se viria a destacar pelos italianos da Juventus. Em 1978 a Polónia ficaria pela segunda fase de grupos, mas em 1982 voltaria a terminar no pódio, após bater a França por 3-2 no jogo para o 3º lugar, após o afastamento pela Itália nas meias-finais. O jogo mais memorável de Boniek pela Polónia terá sido contra a Bélgica, na segunda fase de grupos, onde o avançado marcou os três golos da vitória por 3-0 sobre a Bélgica. Boniek faria mais um mundial em 1986, aos 30 anos e na altura em que jogava pelo Roma, e encontraria Portugal na fase de grupos, com a vitória dos polacos por 1-0 com golo de Włodzimierz Smolarek, pai do também internacional Eusebiusz Smolarek. Aí a Polónia seria eliminada nos oitavos-de-final frente ao Brasil por 4-0.


A Polónia ficaria então 16 anos sem regressar a fases finais de mundiais, voltando em 2002 e novamente no grupo de Portugal, com a selecção das quinas a vingar-se de 86, vencendo por 4-0, com um "hat-trick" de Pauleta. Os polacos seriam eliminados na primeira fase, mas os portugueses também não se ficariam a rir. Em 2006 mais do mesmo, com a eliminação na fase de grupos após derrotas com Equador e Alemanha. A Polónia está actualmente a passar por mais um período de "reflexão", tendo ficado afastada dos mundiais da África e do Brasil.


A Alemanha Democrática, ou R.D.A., existiu entre 1952 e 1990, e apesar de contar com jogadores de qualidade, e conquistando quatro medalhas olímpicas em futebol, incluíndo o ouro em 1976 em Montreal, só participaram numa fase final de um mundial. E curiosamente seria em 1974, na Alemanha Ocidental. Segunda coincidência, seriam colocados no grupo dos seus vizinhos "capitalistas", e cúmulo dos cúmulos, venceriam o grupo após derrotá-los por 1-0, com golo de Jürgen Sparwasser. Não resistiriam à segunda fase, onde perderiam frente à Holanda e Brasil, mas deixaram uma marca antes da sua extinção em 1990.


A Bulgária, apesar de ser um país apaixonado por futebol e ter sempre uma selecção competitiva, só se viria a apurar pela primeira vez para uma fase final de um mundial em 1962, e a partir daí participou sempre até 1974, na Alemanha, sem nunca conseguir passar da fase de grupos, ou vencer qualquer partida. Em 1978 e 82 voltariam a falhar a qualificação, e em 86 regressariam no México, onde passavam aos oitavos-de-final como um dos melhores terceiros, apesar dos dois empates (Itália e Coreia do Sul) e da derrota com a Argentina. Na fase seguinte seriam eliminados pelo México, e para o mundial de Itália em 1990 também não se conseguiriam apurar. Foi nos Estados Unidos, em 1994, que os búlgaros tiraram a barriga de misérias, graças a sua "geração dourada", que incluía Emil Kostadinov, Krassimir Balakov, Yvailo Yordanov, que alinhavam em equipas portuguesas, o guardião Borislav Mikhailov, que passou pelo Belenenses e distinguia-se por usar peruca, e a grande estrela da equipa, o avançado Hristo Stoichkov, que brilhou no Barcelona de Johann Cruijff. A derrota por 3-0 coma Nigéria no jogo de abertura dava a entender que seria mais um mundial como outro qualquer, mas vitórias por 4-0 com a Grécia - a primeira em mundiais - e 2-0 sobre a Argentina valiam a qualificação. Nos oitavos-de-final foi necessário recorrer aos pontapés da marca de grande penalidade para afastar o México, e os quartos-de-final a Bulgária escreve a mais gloriosa das suas páginas em participações nos mundiais: vence a campeã mundial Alemanha. Os alemães estiveram em vantagem graças a um "penalty" de Matthaus, mas a quinze minutos do fim Stoichkov empata, para três minutos depois um tal Yordan Letchkov, um jogador calvo com ar de canalizador e curiosamente a alinhar no Hamburgo, da Bundesliga, faz o segundo golo e manda a sua equipa para as meias-finais e a Alemanha para casa - quem diria. Nas meias-finais o sonho é desfeito pela Itália, com uma derrota por 1-2, e no jogo para o 3º lugar nova derrota, desta feita com a Suécia, por quatro golos sem resposta. Os búlgaros regressariam quatro anos depois em França, mas não passariam da primeira fase, outra vez sem qualquer vitória, e não mais voltariam a uma fase final de um mundial.


E finalmente vamos falar da Roménia, que participou dos três primeiros campeonatos do mundo, mas depois disso apenas mais quatro vezes. Entre 1930 e 1938 nunca passaram da primeira fase, apesar de na estreia terem vencido por 3-1 o Peru. No pós-guerra tiveram dificuldade em afirmar-se, e entre 1950 e 1990 participaram apenas no mundial de 1970, no México, onde voltariam a ficar pela fase de grupos. Em 90 regressam, para disputar o mundial de Itália, com uma geração de jogadores que tinham saído do campeão europeu em 1986, o Steaua Bucareste, e onde de destacava o avançado Gheorge Hagi, apelidado de "o Maradona dos Cárpatos". A participação foi positiva, com vitórias por 2-0 contra a União Soviética, derrota por 1-2 com os Camarões e empate a um golo com a Argentina, e só seriam batidos nos oitavos pelos "penalties", frente à Rep. Irlanda. Em 1994, e tal como a Bulgária, fizeram a sua melhor campanha de sempre; integrados no Grupo A, estrearam-se com vitória por 3-1 sobre a Colômbia, "derraparam" frente à Suíça, perdendo por 1-4, e venceram por 1-0 a formação da casa, os Estados Unidos, o que lhes valeu o topo da tabela final. Nos oitavos venceram por 3-2 a Argentina, ainda meio atordoada com a expulsão de Maradona devido a um controlo anti-doping positivo, com dois golos de Ilie Dumitrescu, e um de Hagi. Nos quartos-de-final voltaram a ser "tramados" pela lotaria dos "penalties", perdendo diante a Suécia, depois de um empate a dois golos após 120 minutos. Em 1998 voltariam a deixar boa impressão, vencendo a Ingleterra na fase de grupos, terminando novamente em primeiro, mas seriam surpreendidos pela sensacional Croácia nos oitavos-de-final, despedindo-se de França com uma derrota por 0-1. E não mais os romenos encontrariam uma selecção que os fizesse vibrar com uma fase final de um mundial.


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