sábado, 10 de maio de 2014

Os sons dos 80: 1989


E estamos finalmente chegados ao final dos anos 80, a 1989, com um mês de Janeiro muito agitado: no dia 13 Paul McCartney lança em exclusivo na URSS - então a dar as últimas - o álbum "Снова в СССР", que nos Estados Unidos chega a custar mil dólares a unidade; a 23 James Brown é condenado a seis meses de prisão depois de uma longa perseguição policial que percorre dois estados; e a 25 Madonna divorcia-se de Sean Penn. E a cantora fá-lo mesmo a tempo de ser criticada pela Igreja Católica em Março devido ao seu controverso vídeo, "Like a Prayer". Como se isso não bastasse, a "maluca" surge em Setembro nos MTV awards vestida - se é que se pode chamar isso - em trajes provocantes, e choca a audiência ao simular masturbação. Entre 11 e 12 de Agosto, na então mais que moribunda URSS, dá-se o Festival da Paz, o primeiro grande festival de rock, que conta com as participações de Ozzy Osbourne, Bon Jovi, Scorpions, e outros. A 21 de Novembro solta-se o horror: sai o álbum ao vivo "Kenny G Live". Mas falemos de coisas (mais ou menos) alegres.


Jason Donovan é a versão masculina de Kylie Minogue: ambos eram jovens com 20 anos mal feitos no final dos anos 80, e ambos conseguiram estreias com grande sucesso. No caso de Jason, foi o single "Too Many Broken Hearts" - tantos corações partidos - que lhe serviu de rampa de lançamento, com o nº 1 no Reino Unido e na Irlanda (apesar de apenas nº 7 na Austrália). Jason teve o papel principal no musical de Andrew Lloyd Webber, "Joseph and the Amazing Technicolor Dreamcoat" no início dos anos 90, e depois em 1995 meteu-se na droga, mais exactamente na cocaína, o que prejudicou a sua carreira mas sem fazer grande mossa, e o rapazito até melhorou depois de se tornar pai em 2000. Agora, bastante mais velho (muito por culpa da coca), continua a cantar e a actuar, mesmo que discretamente.


Esta foi uma das grandes surpresas dos finais dos anos 80, os Transvision Vamp, fundados em 1986 e liderados pela carismática - e boa como o milho - Wendy James. O grupo gravou dois álbums e 1988 (Pop Art) e em 1989 (Velveteen), e entre o single de maior sucesso deste último, "Baby I Don't Care", aproveitaram para lançar em single "I Want Your Love", do registo de estreia. Este tema muito "pós-punk", muito rebelde e muito "sexy", chegou ao nº 5 no Reino Unido e deixou os norugueses a subir pelas paredes, chegando a nº 1 no top de singles daquele país escandinavo. Infelizmente - e digo isto com sinceridade - não ouvimos falar mais dos Transvision Vamp depois disso. Se calhar chegou para pagar umas contas e dar entrada para uma casa, sei lá.


Os Roxette são uma banda sueca que devem tudo o que são nesta vida a um tal Dean Cushman, um estudante norte-americano na Suécia, que em 1989 trouxe para os "States" uma cassete que gravou da rádio com o tema "The Look", que rapidamente se foi espalhando que nem um vírus, chegando a nº 1 da Billboard. As ondas de choque tiveram repercussões na Europa, com o nº 7 no Reino Unido mas o primeiro lugar em vários outros países, o que valeu à banda de Marie Fredriksson e Per Gessle um reconhecimento instantâneo, que viria a perdurar durante a primeira metade dos anos 90. E pelos vistos chegou e sobrou, uma vez que depois de dez anos sem gravar, entre 2001 e 2011, lançaram dois álbums, que serviram sobretudo para consumo doméstico. Apesar das tentativas, e sempre com a incontornável herança de virem do país dos ABBA, os Roxette serão sempre conhecidos por este "The Look".


Os B52's podem ter nome de bebida inflamável, mas andam a fazer "new wave" do bom desde Athens, Georgia, a mesma cidade de onde são originários os R.E.M. A banda foi formada pelos irmãos Cindy e Ricky Wilson, a quem se juntou a vocalista Kate Pierson e o inconfundível Fred Schneider, e gravaram três álbums até 1986, altura em que Ricky morreu de SIDA durante a gravação do quarto trabalho, "Bouncing of Satellites". Três anos depois regressaram com "Cosmic Thing", já com Keith Strickland na função de guitarrista, e chegaram ao nº 4 da Billboard e a nº 8 no top de álbums do Reino Unido. O single "Love Shack" foi nº 3 no Reino Unido e fez grande sucesso do outro lado do mundo, chegando a nº 1 na Austrália e na Nova Zelândia. Uma banda divertida, que continua a dar cartas, mesmo que o seu único registo de originais nos últimos 20 anos tenha sido o álbum "Funplex", de 2008.


Paula Abdul é uma cantora, compositora e coreógrafa nascida em 1962 em San Fernando, Califórnia, no seio de uma família judaica da Síria. Iniciou a sua carreira aos 16 anos, e teve uma série de êxitos nos anos 80 que a deixaram empatada no sexto lugar entre as artistas femininas com mais nºs 1 da Billboard nessa década, a par de Diana Ross. Um desses singles de topo foi este "Straight Up", do álbum "Forever Your Girl", que foi ainda nº 3 no Reino Unido, bem como top-10 em vários países europeus. Paula Abdul tem sido mais vista nos últimos tempos como júri de concursos de talentos, como são os casos de "American Idol" ou "X Factor".


Lisa Stansfield é natural de Manchester, onde nasceu em 1966. Aos 18 anos formou a banda Blue Zone, uns virtuais desconhecidos, mas em 88 resolveu partir para uma carreira a solo, com resultados imediatos, com o álbum "Big Thing". No ano seguinte obteve reconhecimento pleno com "Affection", que foi nº 1 no Reino Unido e nº 2 na Billboard, e de onde saíram cinco singles. Este "All Around the World" foi o que melhor se posicionou nos "charts", nº 1 no RU e 3º no Billboard. Lisa Stansfield lançou no início deste ano o seu oitavo trabalho de originais, curiosamente intitulado "Seven".


Os Fine Young Cannibals, que já vimos nesta rubrica um dos seus elementos a atirar um iogurte na cara de um elemento de outra banda durante uma cerimónia de entrega de prémios em França, são uma banda formada em 1984 em Birmingham, que diga-se em abono da verdade, nunca fizeram nada de jeito, até que em 1989 cantarolaram este "She Drives me Crazy", do seu álbum "The Raw and the Cooked". O single chegou a nº 1 da Billboard e a nº 5 no Reino Unido. Penso que uma das razões deste grupo não ter tido muito sucesso prende-se com a aparência do seu vocalista Roland Lee Gift, que parece um chimpanzé. Já agora, o nome do grupo é FINE Young Cannibals, e não FIVE (5) Young Cannibals, uma confusão muito frequente. Se bem que five (cinco) ficava-lhes melhor que fine (porreiros) - porque não tinham nada de porreiro, sinceramente.


Este foi um dos grandes êxitos do ano de 1989, e infelizmente pouco conhecido. Marc Almond, vocalista dos Soft Cell, juntou-se ao norte-americano Gene Pitney, uma estrela do rock dos anos 50 e 60, e os dois gravaram este "Something`s Gotten Hold Of My Heart", um original da banda David & Jonathan, que Pitney gravaria em 1967. O single chegou a nº 1 no Reino Unido e na Alemanha em Janeiro de 1989, e é suportado por um vídeo muito interessante. Almond tem uma longa e produtiva carreira, e segundo o seu "website", já vendeu "mais de 30 milhões de discos". Gene Pitney faleceu em 2006, aos 66 anos.


Os Pixies foram um banda de rock alternativo formada em Boston, corria o ano de 1986, e liderada pelo muito estático Black Francis, que se juntou ao colega de Universidade Jpey Santiago, um estudante porto-riquenho que conheceu na Universidade de Massachusets. Santiago terá sido o "cérebro" por detrás do álbum de estreia, o EP "Come on Pilgrim", de 1987, que contém temas predominantemente latinos, mas com "Surfer Rosa", no ano seguinte, conseguiram chegar a um público mais vasto. Em 1989 o terceiro registo, "Doolittle", foi bastante aclamado pela crítica, chegando a nº 8 do top do Reino Unido, e dele sairam dois "hit singles", os sobejamente conhecidos "This Monkey's Gone to Heaven", e este "Here Comes Your Man", que foi nº 3 da lista de Modern Rock Tracks da Billboard. Os Pixies lançaram o mês passado seu quinto trabalho de originais, "Indie Cindy", 23 anos (f...-se!) depois do último, "Trompe le Monde", de 1991.


E assim como esta viagem por 1988 começou com "corações partidos, termina à "Lambada", o tema de uma banda franco-brasileira que colocou toda a gente a dançar nesse verão. O tema é baseado num original da cantora brasileira Márcia Ferreira, "Dançando se foi", gravado em 1986, mas os Kaoma, compostos por músicos tambémn brasileiros, além de outros originários das Caraíbas francófonas, fizeram uma mistura, colocaram o resultado no ar nas discotecas do sul de França, e o resto é o que se sabe. O single foi nº 1 em 12 "charts" europeus, nº 4 no Reino Unido e chegou também ao topo da lista de "Hot Latin Tracks" da Billboard, e mais do que isso, deu início a uma moda, e um género próprio, que cativava sobretudo a malta mais jovem pela forma como se dançava, roçando a genitália no parceiro - como mais posso explicar o que foi a Lambada?

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