quinta-feira, 8 de maio de 2014

Os sons dos 80: 1987


E chegamos a 1987, no auge da idade dos "yuppies", marcado pelo regresso de Michael Jackson, que quatro anos depois de "Thriller" apresenta ao mundo o seu novo trabalho de originais, "Bad", que ao contrário do que o nome sugere, é bem recebido pelos fãs do cantor, e ainda lhe permite angariar outros novos. O novo registo não vende tantas unidades como o anterior, mas isso também seria pedir demais. O ano começa com a inclusão da primeira mulher no "Rock'n'Roll Hall of Fame", a 3 de Janeiro, e a honra vai para Aretha Franklin - uma escolha que poucos contestariam, mesmo os fãs de Tina Turner. O Dia de S. Valentim corre bem para um certo valentino, Jon Bon Jovi, que vê o single "Livin' on a Prayer", da sua banda Bon Jovi, chegar a nº 1 da Billboard. No fim do ano e com as contas feitas, seria o single mais vendido. A 7 de Abril o sempre extravagante Alice Cooper quase morre durante um concerto, quando fica com o pescoço preso numa forca, que usava como adereço em palco. A 9 de Maio o irlandês Johnny Logan torna-se o primeiro artista a vencer pela segunda vez o Festival da Eurovisão, e a 21 de Julho os Guns'n'Roses lançam o seu álbum "Apettite for Destruction", que seria o registo de estreia de uma banda com mais vendas na história da Billboard. A 11 de Setembro a lenda do "reggae" Peter Tosh é assassinada durante um assalto à sua casa na Jamaica, mas quem não se parece ter preocupado em fazer luto foi Michael Jackson, que no dia seguinte dá início à "tour" mundial para promover o seu novo disco. A 9 de Outubro os Mötley Crüe lançam o single "You're All I Need", mas devido à letra com conteúdos obscenos, tanto a MTV como as estações de rádios recusam-se a passá-lo; no mês seguinte, a 23 de Novembro, o baixista Nikki Sixx sofria a sua primeira de muitas "overdoses" de heroína. E o que andou a malta a ouvir nesse ano?


Já alguma vez foram "rickrolled"? Para quem não sabe o que isso do "Rickrolling" é, trata-se de quando se está a assistir a um vídeo, e subitamente este é interrompido com o vídeo de "Never Gonna Give You Up", do cantor britânico Rick Astley, que em 1987, sem internet ou nada que se pareça, estaria longe de imaginar o uso que viriam a dar ao seu "videoclip". Astley era o baterista de uma banda desconhecida, os FBI, quando em 1986, aos 20 anos, decidiu lançar-se numa carreira a solo, obtendo fama mundial logo no ano seguinte com este tema bastante dançável, que foi nº 1 em praticamente todo o mundo, e também ajudou às vendas do seu álbum de estreia, "Whenever You Need Somebody". Rick Astley colocou oito singles no top-10 do Reino Unido, e vendeu mais de 40 milhões de discos. Portanto não se deve queixar, o rapazote, que agora tem a respeitável idade de 48 anos.


Paul Simon, que recentemente foi detido por violência doméstica e imediatamente libertado, fez com Art Garfunkel uma das duplas de maior sucesso da música ligeira, cantando e encantando com temas como "The Sound of Silence" ou "Mrs. Robinson", entre outros. Da sua carreira a solo, pode-se dizer que teve sempre uma queda para as sonoridades da "world music", nomeadamente para os ritmos africanos. Isso ficou bem patente no seu álbum de 1986, "Graceland", de onde em Março do ano seguinte saíu este single "You Can Call Me Al", que foi nº 23 na Billboard, mas teve mais sucesso no velho continente, chegando a nº 4 no Reino Unido e nº 2 na Irlanda, Alemanha e Bélgica.


O cantor norte-americano de ascendência mexicana Richie Valens foi uma das vítimas do célebre "dia que a música morreu", imortalizada em canção por Don McLean em "American Pie". Valens vaiajava a bordo de um avião particular com outros dois músicos, Buddy Holly e J. P. Richardson, mais conhecido por "The Big Bopper" quando se despenharam no Iowa. A carreira de Valens ficou dramaticamente encurtada (tinha apenas 17 anos), mas ainda deixou alguns temas e uma história que lhe valeram um filme, com o actor Lou Diamond Phillips no papel do malogrado cantor, e o agrupamento Los Lobos a recordar um dos seus êxitos, "La Bamba". Parabalarlabamba...Parabalarlabamba se necessita una boca de gracia, ay arriba ay arriba, etc.


Os Climie Fisher foram uma banda britânica composta pelo duo Simon Climie e Rob Fisher (está explicado...), que durou apenas quatro anos e ficou conhecida pelo single "Love Changes (Everything)", que chegou a nº 2 do top-40 do Reino Unido, e foi impedida de chegar mais longe pelos Pet Shop Boys, que na altura estavam no "poleiro" com o seu single "Heart". Mesmo assim conseguiram outros top-10 na Europa. O jornalista Michael Sutton, da revista Allmusic descreveu o refrão do tema como sendo "comer um gelado de chocolate, mas só em pequenas doses".


Belinda Carlisle, que no início da década tinha feito parte das Go-Go's, uma bnda de "rock" inteiramente composta por elementos do sexo feminino, tomou subitamente de assalto os "charts" nesse ano de 1987 com o single "Heaven is a Place on Earth", do seu álbum "Heaven on Earth". E pode-se dizer que foi mesmo o paraíso para a Belinda, que conseguiu o equivalente em linguagem futebolística "ganhar três taças": nº 1 na Billboard, no top-40 do Reino Unido e no top do Eurochart.


O grupo MARRS (que se escrevia M|A|R|R|S) existiu apenas para lançar o single "Pump up the Volume", o que faria deles uma "one-hit wonder". Só que acabariam por fazer história, quase sem querer, pois o tema, que foi nº 1 no Reino Unido e muitos outros países, abria a "caixa de Pandora" para o fenómeno da "house music", mais tarde do "acid house", e depois aquilo que ficou conhecido por "trance", e outros géneros de música electrónica que normalmente se escuta(va)m nas pistas de dança. O lançamento do single nos Estados Unidos deu origem a uma disputa legal, pois por motivos de direitos de autor, alguns dos "samples" tiveram que ser alteradas. Merdices...


Num registo muito mais suave está o Colin Vearncombe, nome de baptismo do cantor de Liverpool conhecido pelo nome artístico de "Black" (?), que nesse ano saíu do anonimato graças a este "Wonderful Life", do álbum que tinha o mesmo nome. O tema, ideal para se escutar quando se está às portas da morte, chegou a nº 3 no Reino Unido, foi top-10 em vários outros países europeus e atingiu o cume dos Alpes austríacos, chegando a nº 1 no país natal de Mozart e Hitler. De Black pouco se ouviria falar, mas "Wonderful Life", que seria reeditado em 1994, é usado para várias campanhas publicitárias, sendo a da companhia aérea Emirates uma das mais célebres.


Os R.E.M., que vêm dando cartas desde 1981 na sua base em Athens, Georgia, nos Estados Unidos, seriam uma das grandes bandas dos anos 90, mas só conseguiriam penetrar (eh, eh) no mercado internacional com o álbum "Document", de 1987. O single que fez o grupo entrar nos ouvidos do grande público foi este "The One I Love", que chegou ao top-10 da Billboard, e apesar de ter uma passagem discreta pelos "charts" do outro lado do Atlântico, sempre conseguiu um nº 5 na Irlanda. Os europeus ficariam rendidos três anos mais tarde à música de Michael Stipes e companhia graças ao álbum "Out of Time", que tinha o single "Losing my Religion" como porta-estandarde.


Eis um músico que estranhamente fazia muito sucesso em Portugal, e chegou mesmo a visitar-nos várias vezes: Lloyd Cole, o escocês de Glasgow que com o seu grupo The Commotions obteve relativo sucesso nos anos 80, especialmente com o seu álbum "Mainstream", que foi o seu único top-10 no Reino Unido. Daí recordam-se certamente de temas como "My Bag" ou este "Jennifer She Said", que foi nº 31 do top de singles britânico. Em 89 Cole deixaria os Commotions e partiria para uma carreira a solo, mas sem grande sucesso.


E finalmente a pergunta que andava na boca de todos os leitores (yeah, right): por onde andavam os Bee Gees na década de 80? Ora bem, depois de um estrondoso sucesso nos anos 70, com o clímax na ponta final (isto tudo salvo seja) graças à banda sonora de "Saturday Night Fever", os irmãos Gibb gravavam em 81, "Living Eyes", mas passariam a maior parte da década a ajudar o irmão mais novo, Andy, que batalhava com problemas diversos, e viria a falecer de problemas de saúde em 1988, causados pelo consumo excessivo de estupefacientes. O regresso à alta-roda só se daria em 1987 com o álbum "E.S.P.", que continha este "You Win Again", que seria nº 1 no Reino Unido, Irlanda e muitos outros países europeus, incluíndo o Eurochart, mas não passaria de um modesto nº 75 da Billboard. Infelizmente, pelo menos para os seus fãs, Maurice e Robin Gibb juntar-se-iam ao irmão Andy no além, ficando os três a aguardar por Barry, que ainda por cá anda.

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