quarta-feira, 21 de maio de 2014

A caminho do Brasil: A rosa e os seus espinhos


Os ingleses reclamam-se os inventores do futebol de competição, o futebol moderno que temos nos dias de hoje. Digam o que disserem os chineses e os italianos, a competição mais antiga ainda existente é a Taça de Inglaterra, a FA Cup, e por isso a Inglaterra tem o exclusivo do futebol mundial. Ponto. É um facto que as regras do jogo que temos hoje em dia foram idealizadas pelos ingleses, que também levaram para o resto da Europa e outras partes do mundo a cultura futebolística. Mas se há algo que os americanos aprenderam com a invenção do "microship", depois revisto, melhorado e aumentado pelos japoneses, é que o inventor fica com a autoria da obra, mas isso não significa que faça melhor que os outros. Prova disso é o registo da selecção inglesa em mundiais de futebol. O somatório das prestações da "rosa inglesa" é medíocre quando comparado com outras potências europeias, casos da Itália, Alemanha ou até mesmo a França e a Espanha, e noutros continentes, além do Brasil, da Argentina e do próprio Uruguai. Um título e um quarto lugar em 13 participações entre 19 possíveis, e com vários desempenhos muito abaixo das expectativas, não fazem justiça aos "criadores" do desporto das massas.


The boys from Brazil.

Corria o ano de 1928, vésperas do primeiro campeonato do mundo de futebol no Uruguai, e a Federação Inglesa de Futebol (FA), resolve entrar em diferendo com a FIFA, recusando-se assim a participar da primeira grande festa do futebol mundial. O diferendo manteve-se durante os anos que precederam a II Guerra, e em 34 e 38 os ingleses continuariam de costas voltadas ao torneio que decidia oficialmente quem era o melhor país a jogar futebol. Seria apenas em 1946 que FA e FIFA voltavam a ser amigos, e foi quatro anos depois no Brasil que a "velha Albion" participou pela primeira vez. O selecionador era Walter Winterbottom, e o "pedigree" dos ingleses faziam deles potenciais candidatos ao título. Inseridos no Grupo 2 com a Espanha, o único adversário que lhes poderia fazer frente em teoria, o Chile e os Estados Unidos, a estreia a 25 de Junho seria positiva, com vitória sobre os chilenos por 2-0. No entanto quatro dias depois, e quando nada o fazia prever, os orgulhosos e profissionais atletas ingleses defrontavam os Estados Unidos, uma equipa remendada composta por semi-amadores selecionados à pressa para fazer uma equipa que pudesse competir no mundial - e perderam! O jogo de Belo Horizonte, de que falarei mais à frente, entrou para a história, e a moral dos ingleses não evitou mais uma derrota por 1-0 frente à Espanha, e a consequente eliminação.


Quatro anos depois na Suíça, os rapazes de Winterbottom quiseram apagar a má figura deixada no Brasil, e num Grupo 4 completamente europeu, com Suíça, Bélgica e Itália, a estreia deu-se contra os belgas, e o empate a quatro golos foi o menos mau, pois a derrota da Itália frente aos suíços evitava os italianos no jogo seguinte, e contra os helvéticos a "rosa" florescia, e vencia por 2-0, passando finalmente para a fase seguinte. Foi ali que encontraram o Uruguai, que defendia o título conquistado quatro anos antes, e perante tais argumentos, os ingleses não resistiram, e perdiam por 4-2 contra os sul-americanos. Valeu pela experiência.


Os malogrados "Busby babes", no último jogo antes da tragédia de Munique.

Em 1958 os ingleses estavam finalmente optimistas com a sua selecção para a campanha na Suécia, mas uma tragédia ocorrido no início do ano deitava tudo a perder. Uma decolagem mal sucedida do avião que trasportava os jogadores do Manchester United de Munique para Londres resultou numa queda na pista, e causou a morte a oito jogadores do clube inglês. O United, bi-campeão da Inglaterra, tinha vindo de um encontro na Sérvia frente ao Estrela Vermelha, a contar para os quartos-de-final da Taça dos Campeões. Entre as vítimas, os famosos "Busby babes", referência ao treinador Matt Busby, estavam três internacionais em quem a Inglaterra depositava fortes esperanças, entre eles Duncan Edwards, de apenas 21 anos, considerado a grande promessa do futebol britânico. A Inglaterra foi desfalcada para o mundial, e ali empatou as três partidas do Grupo 4: 2-2 c/União Soviética, 0-0 c/Brasil e 2-2 c/Áustria. No "play-off" de desempate com os soviéticos, perderiam por uma bola a zero. Atendendo às circunstâncias, pode-se dizer que sairam de cabeça erguida.


Em 1962 o mundial disputava-se no Chile, e na sua última campanha como selecionador, Winterbottom levaria uma equipa onde já se encontravam as bases dos futuros campeões mundiais. Os três "Bobbys", Bobby Moore, Bobby Charlton e o nosso conhecido Bobby Robson, que com 29 fazia o seu último mundial, Roger Hunt, Jimmy Greaves e John Donnelly eram alguns dos nomes de peso. Depois de uma derrota inicial por 1-2 com a poderosa Hungria, seguiu-se uma vitória contra a Argentina por 3-1, e o empate a zero com a Bulgária foi quanto bastou para seguir em frente com 2º classificado do Grupo 4. Nos quartos-de-final os ingleses tiveram pela frente o Brasil, um teste que provou ser demasiado para uma equipa ainda apenas proto-campeã. Dois golos de Garrincha e outro de Vává foram a guia de marcha, apesar de Gerry Hitchens ter também "picado o ponto" para a "velha Albion".


Terminava a era Walter Winterbottom, e para substitui-lo no cargo de selecionador inglês o escolhido era Alf Ramsey, que pegou no Ipswich Town em 1955, na altura na terceira divisão, e em sete anos conseguiu levar o clube ao título da Liga. O mundial de 1966 era em casa, e com uma equipa constituida pelos jogadores campeões com o Liverpool, e os do Manchester United que dois anos depois seriam campeões europeus contra o Benfica. Moore, Charlton, Greaves, Hunt e Connelly mantinham-se na equipa, assim como os experientes Ron Flowers e Jack Charlton, e a estes juntavam-se o guardião Gordon Banks, o sólido "trinco" Nobby Stiles, o criativo centro-campista Alan Ball, de apenas 21 anos, e o profícuo avançado Geoff Hurst. O título era o mínimo que se podia, e não era pouco, mas as coisas começaram meio tremidas, com um empate a zero com o Uruguai no jogo de abertura, em Wembley. Mas os ingleses melhoraram, e sempre com o mítico estádio dos arredores de Londres como palco, venciam a seguir o México por 2-0, e a França pelo mesmo resultado, garantindo o primeiro lugar do grupo. Hunt era o marcador de serviço, com a autoria de 3 dos 4 golos apontados. Nos quartos-de-final foi a vez da Argentina cair com um único golo de Hurst, e nas meias-finais o jogo do nosso descontentamento: a vitória por 2-1 sobre Portugal, no dia de Bobby Charlton. O capitão inglês marcou aos 30 e aos 80 minutos, sendo que os "magriços" ainda reduziam para 1-2 aos 82, com um "penalty" de Eusébio, que obrigou Banks a ir buscar a bola ao fundo da baliza pela primeira vez no torneio.


Na final o adversário era a raçuda Alemanha Ocidental, liderada pelo jovem Franz Beckenbauer, e este seria o dia de Geoff Hurst, e de muita controvérsia. A frieza dos alemães notou-se logo desde início, com Helmut Haller a resfriar os ânimos dos adeptos da casa com um golo logo aos 12 minutos, mas seis minutos depois, Hurst deixava as bancadas de Wembley em festa, com o golo do empate. As equipas retrairam-se, e passaram a jogar num estilo mais cauteloso, e só aos 78 minutos Martin Peters marcava o golo que dava vantagem aos ingleses, e confirmava a reviravolta do marcador. Quando as ilhas britânicas e a Commonwealth já se preparavam para festejar, eis que a um minuto do fim os alemães dizem "nein", com um Wolfgang Weber a fazer o 2-2, e a obrigar a um prolongamento de meia-hora. Foi ainda nos primeiros 15 minutos do tempo extra que se deu a polémica, com um remate de Hurst a bater no poste da baliza de Hans Tikowski, depois no chão, e depois para a frente. Foi golo? O árbitro suíço Gottfried Dienst disse que sim, que a bola tinha passado a linha de golo, e aponta para o centro do terreno, debaixo dos protestos dos jogadores alemães, e da euforia dos adeptos ingleses. A Alemanha partiu atrás do prejuízo, mas enquanto gastava os últimos cartuchos em busca do empate, Hurst marca mesmo em cima do minuto 120, assinando um "hat-trick" que até hoje permanece como o único numa final de um mundial de futebol. A Inglaterra vencia finalmente a taça que sempre reclamou como sua, por direito próprio.


Alf Ramsey, falecido em 1999 aos 78 anos, viria a ser ordenado cavaleiro da ordem real britânica pela Rainha Isabel II.

Quatro anos depois a Inglaterra de Ramsey foi fazer a defesa do título no México, e longe dos ares da velha Albion, as coisas não correram tão bem. Com uma equipa semelhante à que venceu o mundial em 66, a estreia no Grupo 3 deu-se contra a Roménia, com o herói Hurst a marcar o único golo da partida. Na ronda seguinte dá-se a derrota com o Brasil de Pelé, também por um golo apenas, autoria de Jairzinho, mas a qualificação ficaria assegurada com mais uma vitória pela margem mínima, desta feita contra a Checoslováquia, com Allan Cooper a marcar de "penalty". Nos quartos-de-final aparece uma Alemanha sedenta de vingança, e apesar dos ingleses terem ficado em vantagem por 2-0, com golos de Alan Mullery e Peters, Beckenbauer e companhia estragaram a festa, com o "kaiser" a fazer o 1-2, e Seeler a empatar a oito minutos do fim. Gerd Müller faria de carrasco no prolongamento, e a Inglaterra voltaria para casa, deixando a taça entregue ao Brasil.
Ramsey continuaria à frente da selecção, mas sairia sem glória após falhar a qualificação para o mundial de 1974, na Alemanha. O seu sucessor seria Don Revie, que à frente do Leeds tinha obtido grande sucesso a nível interno, e ficaria mais conhecido pela sua rivalidade com o treinador Brian Clough, documentada no livro de 2006 e filme de 2009, "The Damned United". Também Revie não seria capaz de qualificar a Albion para a Argentina em 78. Os anos 70 foram um hiato para a "rosa", que andou muito murcha.


"A new rose" - a Inglaterra de 1982, numa imagem recolhida durante uma digressão no ano seguinte pela Austrália.

Pelos finais dos anos 70 e inícios da década de 80, o futebol inglês era a potência dominadora a nível de clubes na Europa. O selecionador Ron Greenwood, que havia substituído Revie, tinha levado a Inglaterra ao Euro de 1980 em Itália, e apesar de ficar pela fase de grupos, a equipa tinha deixado boas indicações. Apurados finalmente para o mundial de Espanha em 82, o técnico contava com uma nova geração de futebolistas ingleses habituados aos grandes palcos, como eram os experientes Trevor Brooking, Kevin Keegan, Peter Withe, Mick Millies, Terry McDermott, Ryan Neal ou ainda o guardião Peter Shilton. A estes juntava-se a irreverência de jovens como Glenn Hoddle, Terry Butcher ou Bryan Robson, e a maturidade de Trevor Francis, o melhor jogador inglês do momento. Tudo isto junto deu um mundial positivo, em que a Inglaterra acabaria afastada sem perder um único jogo. Na primeira fase de grupos, só vitórias, com 3-1 sobre a França, 2-0 sobre a Checoslováquia, e 1-0 sobre o Kuwait, já com o pensamento na segunda fase. Aí dois empates sem golos frente à Alemanha Ocidental e à anfitriã Espanha não chegaram para atingir as meias-finais, uma vez que os alemães tinham vencido os espanhóis por 2-1. Ficou uma boa imagem, a da Inglaterra regressada aos mundiais.


Bobby Robson relançou a selecção inglesa nos anos 80.

Apesar da boa prestação por terras espanholas, Greenwood abandonaria o cargo, dando lugar a Bobby Robson, que nesse ano tinha feito história pelo Ipswich Town, com a vitória na Taça UEFA. O nosso conhecido "sir Bobby" falhou o apuramento para o Euro 84 em França, mas é preciso ter em conta que apenas oito países participavam do torneio final. Assim sendo, ficou para a campanha do México 86, e depois de garantido o apuramento, os ingleses regressavam 16 anos depois ao país onde Alf Ramsey falhou a defesa do único título mundial. Robson era um treinador astuto, e devolveu à "rosa" a sua raça, escolhendo atletas que melhor representassem o estilo tipicamente britânico, e ao mesmo tempo que se adaptassem ao futebol mais tecnicista e jogado pelo chão dos adversários continentais e sul-americanos. Para o México foram convocados vários jogadores novos, como Chris Waddle, Trevor Steven, John Barnes, Peter Beardsley, Mark Hateley e um tal Gary Lineker, que se destacava pelas suas qualidades de avançado sempre a "cheirar o golo", primeiro pelo Leicester, e na altura pelos campeões Everton - de recordar que neste momento as equipas inglesas estavam suspensas das competições europeias devido à tragédia de Heysel. Butcher, Hoddle e Bryan Robson passavam da classe de 82, bem como o guardião Peter Shilton.


Colocados no Grupo E com Portugal, Polónia e Marrocos, os ingleses entravam com o pé esquerdo, derrotados contra a selecção das quinas, com um golo de Carlos Manuel. Contra Marrocos não faziam melhor que um empate a zero, e já era necessário fazer contas de cabeça, e bater a Polónia era uma questão de vida ou de morte. Mas a vitória lá apareceu, por esclarecedores 3-0, com Lineker a despertar e a assinar um "hat-trick" em 34 minutos. Nos oitavos-de-final nova vitória por 3-0, com Lineker a bisar, e nos quartos o tal jogo com a Argentina, onde os dois golos de Maradona (v. peça referente), um com a mão e outro do outro mundo a serem insuficientes para o golo solitário de Lineker, que seria o melhor marcador do torneio com seis golos. Os ingleses protestavam, mas o mundo estava mais entretido com os malabarismos de Maradona.


A Inglaterra de 1990: "the best of the rest".

Depois de um Euro 88 desastroso, onde os ingleses somaram por derrotas os três jogos disputados e os infames "hooligans" aterrorizaram mais uma vez a Europa, desta feita a Alemanha Ocidental, organizadora do torneio, Robson mantém a confiança da FA, e leva a selecção ao mundial de Itália em 90, que um tanto ou quanto sem que ninguém esperasse, acabaria na melhor classificação de sempre, depois da vitória em 66. A convocatória mantinha os melhores jogadores do mundial anterior ainda em actividade, com Lineker à cabeça, e a baliza continuava a ser confiada a Shilton, que com 40 anos fica aquém do recorde de longevidade de Zoff, pela Itália em 82, mas valeu-lhe a honra de ser o mais internacional de sempre pela "Albion", com 125 chamadas, recorde que ainda hoje se mantém. Entre as novidades estavam Steve McMahon, um médio "à antiga", o raçudo central Des Walker e o seu parceiro Mark Wright, um típico "bad boy" inglês, o promissor avançado David Platt, um complemento de luxo à classe e eficácia de Lineker, e um tal Paul Gascoigne, que com 23 anos era uma das promessas do futebol inglês.


Inseridos num Grupo F considerado problemático, com a campeã europeia Holanda, a vizinha Rep. Irlanda e o enigmático Egipto, a prestação da selecção inglesa ilustrou bem o tom morno com que decorreu o torneio. Depois de um empate a um golo com os irlandeses, e outro empate a zero com os holandeses, numa partida que mais parecia um desfile de moda, chega a vitória por 1-0 contra o Egipto, com um golo de Wright. Nos oitavos o adversário era a Bélgica, e depois de mais do mesmo - futebol defensivo e ideal para curar insónias - valeu o golo de Platt no penúltimo minuto do prolongamento. Nos quartos foi preciso outro prolongamento para derrotar a surpresa chamada Camarões, com 3-2 e dois "penalties" de Lineker, e nas meias-finais a "nemesis" Alemanha - era o tudo ou nada. Depois de um empate a uma bola, os alemães seguiriam em frente nas grandes penalidades, mas na retina fica o momento em que o jovem Gascoigne chora após ver o amarelo que o afastaria de uma eventual final. No jogo de consolação a Inglaterra perdia por 1-2 com a anfitriã Itália e terminava no 4º lugar.


Glenn Hoddle: um perfeito idiota.

Robson deixaria a Inglaterra depois do mundial de Itália, e para o seu lugar entrava Graham Taylor, que levaria a Inglaterra ao Euro 92, mas ficaria pela fase de grupos - normal, atendendo às prestações em europeus - mas falharia a qualificação para o mundial dos Estados Unidos em 1994. Imperdoável, e Venables seria o escolhido para preparar o Euro 96, em terras de sua majestade. Com Alan Shearer, na altura avançado dos Blackburn Rovers, campeões ingleses em 95, os ingleses chegariam às meias-finais, e em mais um episódio de "dejá vu", seriam afastados pela Alemanha nos "penalties". Venables não ficaria para o mundial de 98 na França, e o escolhido seria Glenn Hoddle, o tal que fez três mundiais pela "rosa", um dos favoritos de Bobby Robson. A confiança para o mundial em terras francesas era elevado, demasiado para o verdadeiro potencial da equipa. Hoddle deixou de fora Gascoigne, a braços com problemas de indisciplina e alcoolismo, e contava com David Beckham, na altura com 22 anos, estrela da companhia, dentro e fora dos relvados, e ainda chamou uma jovem promessa, Michael Owen, então com apenas 18 anos.


Em França a campanha inglesa começava com uma vitória 2-0 sobre a Tunísia, mas as fragilidades ficavam evidentes após uma derrota por 1-2 com a tecnicista Roménia, e nem a vitória outra vez por 2-0 frente à Colômbia evitava o 2º lugar no Grupo G, e um encontro com a rival Argentina nos oitavos-de-final. Foi aí que a Inglaterra mostrou alguma fibra de candidato, encostando a Argentina aos "arames", consentindo um golo aos 6 minutos por Batistuta de "penalty", mas este seria devolvido 4 minutos depois por Shearer, que mostrou destreza da linha de 11 metros. Owen dava vantagem aos ingleses aos 16 minutos, e foi por sorte que a aflita Argentina empataria em cima do intervalo por Javier Zanetti. Tudo indicava que a segunda parte ia ser dominada pelos europeus, mas logo no reatamento dá-se o caso do jogo: Diego Simeone, actual treinador do Atletico de Madrid, faz falta sobre Beckham no meio campo, e o inglês responde pontapeando o adversário. Ambos são admolestados com cartão amarelo, mas Beckham já tinha um, e acabou expulso. A jogar com 10 a Inglaterra não conseguiu materializar a sua superioridade, e depois de um prolongamento sem que nada ficasse decidido, os argentinos venceriam nos "penalties" por 4-3. Ironicamente foi David Batty a falhar o "penalty" decisivo para os ingleses - o homem que Hoddle escolheu em detrimento de Gascoigne. De regresso à Inglaterra, todos os dedos estavam apontados a David Beckham. Nascia a cultura do "bode expiatório" para justificar os fracassos ingleses nas grandes competições.


Apesar do fiasco, Hoddle permaneceria no comando da "Albion", mas apenas até Fevereiro de 1999, altura em que numa entrevista ao The Times tece considerações polémicas em relação aos deficientes, afirmando que "estão a pagar pelos pecados de uma vida anterior". Segue-se Kein Keegan, que se demite depois de um Euro 2000 desolador, e a FA decide então apostar num treinador estrangeiro para "atacar" o mundial de 2002 na Coreia e no Japão: o nosso bem conhecido Sven-Goran Eriksson. Vindo da conquista de uma Serie A em Itália pela Lazio, o sueco é contratado com a missãoo de incutir na Inglaterra um estilo mais "continental", que lhe permita ultrapassar os crónicos problemas cada vez que encontra um adversário que pratica um jogo mais técnico. Com Beckham no auge da maturidade, e Owen confirmado como expeditor de golos, coadjuvado pelos "matulões" Emile Heskey e Les Ferdinand, os ingleses eram colocados no Grupo F e sediados no Japão. A estreia foi com um empate a um golo com a Suécia, tudo normal, e o entusiasmo cresce com a vitória por 1-0 frente à Argentina, para resfriar depois com um 0-0 frente à Nigéria, que vale o 2º lugar atrás dos suecos pela diferença de golos marcados e sofridos. A vitória por 3-0 frente à Dinamarca nos oitavos, com golos de Ferdinand, Owen e Heskey valem elogios e premonições de um título mundial - que perigo em termos de pressão sobre a equipa. Nos quartos-de-final frente ao Brasil, em Shizuoka, Owen adianta os ingleses no marcador aos 16 minutos, e em cima do intervalo Rivaldo marca o golo do empate; um grande azar para Eriksson, pois indo em vantagem para o intervalo, a etapa complementar seria de gestão, gestão, e mais gestão. Contudo no recomeço Ronaldinho faz o 2-1, passavam cinco minutos na etapa complementar, e aí foi o Brasil quem "fechou a loja", e acabava ali o sonho inglês. Bode expiatório? O guardião David Seaman, que fica muito mal na fotografia no segundo golo dos brasileiros.


Eriksson merece um atestado de confiança, e no Euro 2004 em Portugal, cai frente à selecção portuguesa nos quartos-de-final, apenas nos "penalties". O guarda-redes luso Ricardo defende dois "penalties" e marca um da série, e isto seria apenas um aviso. Confiantes para o mundial de 2006 na Alemanha, os ingleses têm Owen condicionado com uma série de lesões, e Beckham com 31 anos e muitos jogos pelo Real Madrid nas pernas. Mesmo assim há boas novidades, com a inclusão de jovens como Aaron Lennon, Michael Carrick, a surpresa Owen Hargreaves, e a coqueluche Wayne Rooney, o "Popeye" que vinha dando nas vistas desde 2003, e durante o Euro no ano seguinte. Os defesas Sol Campbell e John Terry, bem como os médios Frank Lampard e Steven Gerrard estavam no auge das respectivas carreiras, e a "mascote" era Theo Walcott, o extremo do Arsenal com apenas 17 anos. Os ingleses foram "crescendo" com o decorrer da competição, vencendo o Paraguai por 1-0 na estreia, e Trinidad e Tobago a seguir por 2-0. No jogo que garantia a vitória no Grupo B bastou um empate a duas bolas com a Suécia. Nos oitavos o Equador bateu-se como pode, mas renderia-se ao poderio inglês com um golo de Beckham aos 60 minutos. Nos quartos-de-final, Portugal. Eriksson sabia que ia ser complicado, apesar da equipa portuguesa estar desfalcada de Deco e Costinha, expulsos contra a Holanda na eliminatória anterior. No entanto os portugueses voltaram a não "dar cara" aos irmãos mais velhos britânicos, e depois de Beckham sair todo "roto" aos 52 minutos, dez minutos depois Rooney é expulso após conduta violenta, quando pisa Ricardo Carvalho no baixo-ventre após uma bola dividida a meio-campo. O juiz argentino Horacio Elizondo decide mandar Rooney para o balneário mais cedo, acossado por jogadores portugueses pedindo acção disciplinar. O nulo subsistiria até ao fim do prolongamento, e foi aí que Ricardo se tornou um herói, ao defender três penalties dos ingleses, e a reservar-lhes o bilhete de volta para a "swinging London". Para a posição de bode expiatório, pode-se escolher entre o árbitro, ou Cristiano Ronaldo, que pedia o vermelho para o agressor, ou até Ricardo Carvalho, esse mariquinhas que não aguenta um pisão em cheio nas "jóias de família" - todos o menos Wayne "tritura-tomates" Rooney.


Cansado de perder nos "penalties" para Portugal, Eriksson deixa a selecção inglesa, e para o seu lugar é escolhido Steve McLaren, "prata da casa". A aposta revela-se perdida após o falhanço na qualificação para o Euro 2008, e a FA volta a fazer compras no exterior. O escolhido é o italiano Fabio Capello, que contra as recomendações da sua "mama", que pensava que os ingleses eram muito "chatos", toma conta da selecção até ao mundial de 2010 na África do Sul. Com o optimismo de sempre - basta ser inglês e estar a falar de futebol para se ser um optimista - e poucas novidades em relação a 2006, o grande dilema era na baliza, onde o estreante Robert Green, e agora vou usar o termo técnico para descrever o que aconteceu, "fez merda". No jogo de estreia contra os Estados Unidos os ingleses adiantaram-se no marcador aos 4 minutos por Steven Gerrard, e enquanto procuravam ampliar a vantagem, Green deu um tremendo "frango" aos 40 minutos, aós um remate aparentemente inofensivo de Clint Dempsey. A imprensa britânica massacrou o guarda-redes, e Capello foi obrigado a recorrer ao veterano David James, que apesar de manter a baliza inglesa inviolável frente à Argélia, a partida terminou em 0-0. Na partida final a vitória por 1-0 contra a Eslovénia, com golo de Defoe, valeu o apuramento, mas os Estados Unidos venciam o grupo na diferença de golos marcados. Nos oitavos um velho conhecido, a Alemanha, e finalmente os ingleses podiam ter uma razão de queixa; os alemães eram favoritos, e demonstraram isso mesmo com golos aos 20 e 32 minutos, e parecia que a Inglaterra ia ser uma presa fácil. Só que Steve Upson fazia o 1-2 aos 37, e quase na jogada seguinte Lampard remata de meia-distância, a bola bate na trave, passa a linha de golo, mas o árbitro uruguaio Jorge Larrionda não validou. Os ingleses ficaram abatidos, e o adversário aproveitou para marcar mais duas vezes no segundo tempo, e para a história fica o 4-1 como resultado, a "vingança" pelo golo de Hurst em 66, e uma desculpa para os adeptos ingleses culparem o árbitro, o fiscal-de-linha e as mães de ambos "por não terem vencido o mundial". Capello bateu com a porta, este ano é a vez de Roy Hodgson, um homem da casa, ir "ao castigo".

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