Em Portugal tivemos no último fim-desemana eleições para o Parlamento Europeu, aquela coisa que os portugueses não sabem bem como funciona, para que serve, e não lhe reconhecem qualquer utilidade, pelo menos para resolver os problemas que lhes dizem directamente respeito. Talvez por isso a abstenção tenha sido mais uma vez a grande vencedora, com 66%, ou seja, dois terços do eleitorado. Juntando a isto os quase 7,5% de votos brancos e nulos, pode-se dizer que um quarto dos portugueses foram no Domingo decidir pelos outros três quartos que não têm nada para dizer, ou preferem gastar o tempo no seu único dia de folga com parvoíces, indo desenhar bigodes e sabe-se lá mais o quê, ou votando em branco - meus amigos, volto a repetir: votar em branco ou não votar é
a mesma coisa. Não me venham com essa treta do "exercício do dever cívico", pois a única diferença entre não votar e votar em branco é ter que sair de casa e deslocar-se ao local de voto, e se for para deixar tudo na mesma, mais vale não pôr lá os pés.
Adiante. Os resultados demonstram ainda a insatisfação do eleitorado português com os partidos do chamado "arco da governação", com o PS a vencer por uma margem tão irrelevante - pouco mais de cem mil votos - que só a fraca adesão explica a margem de quase quatro pontos percentuais. Os "chuchalistas" obtiveram pouco mais de um milhão de votos, contra 909 mil da coligação "Aliança Portugal", composta por PSP e PP. Nem se pode aqui falar de derrota de um ou de vitória do outro, ou de qualquer "recado" dos portugueses para o actual executivo, pois mais uma vez fazer leituras desta natureza em eleições europeias é um perfeito disparate. Porque raio iriam os portugueses "castigar" a coligação que os governa mandando menos deles para Bruxelas? Fazia sentido se os mandassem e todos, isso sim!
A grande surpresa foi o Movimento Partido da Terra (MPT), que obteve cerca de 250 mil votos, e dois mandatos, com 7,15% dos votos expressos. Mas esperem aí...sete pontos percentuais? De um partido que normalmente não passa de um ponto ou menos em outras eleições? O que se passou? Ah, pois, o cabeça de lista era o Dr. Marinho Pinto, o carismático ex-bastonário da Ordem dos Advogados, um homem "sem papas na língua" - sem papas e sem mais nada, pois cada vez que exprime o seu "verbotim" da forma semi-alucinada que o faz, chega a espumar dos cantos da boca. Os portugueses adoram alguém assim, um gajo "com tomates", frontal, que chama os bois pelos nomes, ou...será mesmo assim? Se gostam assim tanto dele, duas perguntas: 1) sendo o Dr. Marinho Pinto um indivíduo de convicções fortes e não se deixa intimidar, nem por políticos, porque fizeram dele também um político? e 2) e porque é que o estão a mandar para Bruxelas? Aposto que a Manuel Moura Guedes votou nele.
A atracção dos portugueses por isto da justiça poética, que já antes tinha garantido bons resultados às candidaturas independentes de Manuel Alegre e Fernando Nobre à Presidência da República, levou que desta vez o MPT elegesse o segundo candidato, ao contrário do Bloco de Esquerda, que apenas conseguiu eleger Marisa Matias. Anda pelas ruas da amargura, o BE, o partido que mais cresceu na primeira década do século; é caso para dizer: "Volta Louçã, estás perdoado". Quem se manteve na linha da frente, conseguindo até eleger mais um deputado do que há quatro anos foi a CDU, a coligação entre os comunistas e os verdes, que vão dependendo do seu fidelíssimo (teimoso?) eleitorado. Aliás em termos gerais, as eleições ficam marcadas pela perda de mandatos dos principais grupos políticos, tanto o Partido Popular Europeu, vencedor com 27% dos votos, como os "chuchalistas" e os liberais perderam votos, sendo as únicas subidas as dos "comunas" e dos partidos nacionalistas, eurocépticos e de posições extremistas. Vai assim, o velho continente. Agora vão ter o Marinho Pinto para os meter todos na linha.
2 comentários:
Viva a democracia...
Eu diria que apenas os familiares directos dos elementos das listas é que foram votar.
A campanha eleitoral para as eleições europeias giraram em torno do governo actual ou do fantasma do Sócrates. Nenhum partido conseguiu ou tão pouco pretendeu discutir política europeia.
Para o PSD, CDS e PCP tratou-se de cumprir mero calendário eleitoral por razões diversas, para o PS tratou-se de encontrar um bode expiatório além do Sócrates, com quem muitos se comprometeram, e preparar o lançamento da nova vedeta.
Para o BE foi mais um momento de busca interior com um rasultado... vazio.
Para o Marinho Pinto foi apenas mais uma oportunidade...
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