domingo, 11 de maio de 2014

Os sons dos 80: Cromos em falta (II)


Fora do circuito comercial da "pop-rock", do "heavy-metal" e do "hard-rock", da "euro" e da "italian disco" e do fado, os anos 80 tinham um lado marginal, os chamados grupos "independentes", ou "vanguardistas". Os indivíduos que ouviam este tipo de música eram muito fáceis de identificar: vestiam-se de preto, usavam sapatos de plataforma com sola de borracha e imitação de pêlo de vaca na frente, brincos (normalmente), e uma atitude estranha, de quem se estava prestes a suicidar, e não chegaria ao fim daquela semana - ou daquele dia. Orgulhavam-se de ouvir The Cure ou The Smiths "antes de tornarem famosos", e abominavam tudo o que fosse "comercial". No fundo eram mais ou menos como os emos de hoje, mas mais convictos e menos mimados. Eis algumas bandas de que pouca gente ouvia falar, ou pouco divulgadas nos média. E existiam fortes razões para isso, enfim...


Os Siouxsie and the Banshees foram uma banda londrina criada em 1976 por uma tipa extremamente bizarra e inconvencional, ex-"roadie" dos Sex Pistols, Siouxsie Sioux. Claro que este não é o seu nome verdadeiro, e na realidade a senhora chama-se Susan Janet Ballion, e depois de abandonar em 1995 a banda que ela própria criou, partiu para uma discreta carreira a solo que tem andado estagnada desde 2009. O álbum "Kaleidoscope", de 1980, foi o mais vendido dos S&B (outra abreviatura inventada por moi), e o single mais conhecido este "Christine", que fala de uma chavala que sofre de doença mental. Estes eram os temas recorrentes desta banda, que se afirmou comno pioneira do "new wave" e co-criadora do "goth rock": a insanidade, a claustrofobia, o desespero, o isolamento, o suicídio, etc. Não surpreende que Siouxsie Sioux fosse amiga íntima de Robert Smith, dos The Cure, e até lhe deu uma mãozinha no início. O grande público, ou seja, as pessoas que não se lembram do início dos anos 80 e começaram a comprar discos dez anos depois, ficaram a conhecer estes Siouxsie and the Banshees graças ao single "Face to Face", da banda sonora do filme "Batman Returns", de 1992.


Os Bauhaus foram uma banda britânica de "gothic rock", e que apesar da sua curta existência entre 1978 e 1983, deixou uma profunda marca na música alternativa que se fez no Reino Unido e no mundo. O seu cartão de visita é o single "Bela Lugosis' Dead", um marco da cultura rock da era "pós-punk", mas o seu maior sucesso foi o álbum "The Sky's Gone Out", de 1982, nº 4 no top do Reino Unido. No ano seguinte chegaria o último longa-duração de originais, "Burning from the Inside", que continha este single "She's in Parties", um dos temas de referência deste grupo, que foi buscar o seu nome a um movimento arquitectónico da Alemanha pré-nazi. O seu vocalista e líder carismático, Peter Murphy, seguiu a partir de 1986 uma carreira a solo, que mantém hoje, aos 57 anos, com relativa visibilidade.


Os Killing Joke são uma banda londrina de Notting Hill formada em 1978, e desde o lançamento do seu primeiro álbum em 1980, são praticamente os reis do circuito alternativo, ou seja, toda a gente os conhece, são elogiados pela crítica, têm um batalhão de fãs, mas não vendem discos, e por isso nunca passam da cepa torta. A única vez que andaram lá perto terá sido em 1985, com o álbum "Night Time", que chegou a nº 11 no top de álbums do Reino Unido. O tema mais conhecido desse disco - e dos Killing Joke em geral - será este que foi o segundo single desse registo, "Love Like Blood". Que romântico.


Os Propaganda são uma banda de synthpop alemã formada em 1982, dissolvida em 1990 e reunida em 2005 - está na moda. O seu álbum de estreia, "A Secret Wish", foi nº 16 no top de álbums do Reino Unido, e também não vendeu mal no resto da Europa. O single "Duel", onde a vocalista Claudia Brücken se apresenta em grande forma, chegou ao nº 5 na sua Alemanha natal, e fez melhor ainda em Itália, onde conseguiu o nº 3.


Iggy Pop é um fenómeno, ponto. Nascido James Newell Osterberg, Jr. em Muskegon, no Michigan, corria o ano de 1947. Em adolescente começou a tocar bateria em bandas do liceu, e em 1968 formou os The Stooges (os palermas), uma banda muito à frente do seu tempo, que era "punk" e acabou em 1975 - antes do "punk" propriamente dito ter começado. No ano seguinte foi para Berlim, onde passou dois anos e ali conheceu David Bowie (o que é bastante suspeito, diga-se de passagem), que o encorajou a arrancar para uma carreira a solo. E assim foi, só que depois de problemas sérios com drogas pesadas que o deixaram entre a vida e a morte, chegando a estar internado depois de uma "overdose" enquanto Bowie lhe continuava a fornecer estupefacientes, fez uma pausa sabática em 1983, e regressou três anos depois "recauchutado". Por essa altura lançou o álbum "Blah Blah Blah", que continha esta versão de "Real Wild Child (Wild One)", uma versão de "Wild One", uma canção de Johnny O'Keefe, do ano de 1958, e que chegou a nº 10 no top do Reino Unido. Apesar dos sobressaltos, Iggy Pop, conhecido também por "grande iguana", continua por aí a pular, a ser rebelde, e a agitar as massas.


Os Sisters of Mercy são uma banda de Leeds, formada em 1977, no auge do "punk-rock", e que foi buscar o seu nome a uma canção de Leonard Cohen - nada que tivesse a ver com o que tinham planeado, pois a banda do controverso Andrew Eldritch abrange géneros tão diversos como o pós-punk, gothic rock, dark wave, hard rock e power pop. São um grupo bastante eclético. Depois de várias paragens, pausas, reformas e entradas e saídas, têm-se mantido no activo em definitivo desde 1995, apesar de só terem gravado três álbums de originais. O mais bem sucedido foi "Floodland",de 1987, que chegou ao top-10 do Reino Unido, e inclui o single "My Corrosion", um épico de mais de 10 minutos de duração. Para não nos aborrecermos com o Eldricht e os seus rapazes, fiquemos com o segundo single desse álbum, "Lucretia, my reflection".


Os Jesus and the Mary Chain foram uma banda escocesa formada em 1983 e liderada pelos irmãos William e Jim Reid, que gravou seis álbums entre 1985 e 1994, até à sua dissolução. E se os Sisters of Mercy tinham "Floodland", os J&MC (aí estou eu outra vez...) tiveram "Darklands", o seu segundo registo de originais que foi nº 5 no top do Reino Unido, enquanto o single "April Skies", aqui submetido à vossa apreciação, foi o que mais longe chegou no top de singles britânico, ficando-se pelo nº 8.


Os Echo & The Bunnymen - e permitam que me antecipe abreviando desde já para E&TB - são uma banda de Liverpool formada em 1978, na "ressaca" do "punk rock", e que durou quinze anos, até 1993. Aborrecidos e sem ter nada que fazer, os seus elementos reuniram-se em 1996, e andam por aí a cantar onde calha até aos dias de hoje. O álbum "Porcupine" (porco-espinho), de 1983, foi o seu maior êxito, chegando a nº 2 do top de álbums britânico. No entanto uma das (muito poucas) músicas que conheço deste agrupamento cujo nome me faz torcer o nariz (o eco e os homens-coelho??? wtf???) é "Killing Moon", do álbum de 1987 que a banda decidiu dar o seu próprio nome.


Os Sugarcubes foram uma banda islandesa que surgiu em 1987, e que apesar de não ser uma habitual frequentadora do topo dos "charts", conseguiu colocar os seus dois primeiros álbums no nº 1 do top "indie" do Reino Unido. Ora, como a população da Islândia se consegue juntar toda na principal praça de Reiquejavique, era inevitável que a voz desta banda fosse da nossa conhecida Björk, que na década seguinte partiria para uma respeitável carreira a solo. Esta tema "Birthday", do primeiro álbum "Life's too Good", tornou os Sugarcubes conhecidos além-fronteiras da ilha do mar do Norte. Agora não me perguntem é porquê.


E para terminar, aqui está uma banda de que gosto bastante, e que esteve bastante activa durante os anos 80 - só não lhes dediquei um "post" por mero esquecimento. Os The Cult de Ian Astbury, formados em 1983 em Bradford, no Reino Unido, conseguiram agradar a gregos e troianos no circuito do "rock" alternativo: foram abençoados pelos góticos, metaleiros, "punks", "freaks", tudo o que quiserem, eles foram. Dos seus quatro registos de longa duração dos anos 80 sairam temas como "Lil'Devil", "She Sells Sanctuary", "Rain", "Revolution", "Sweet Soul Sister", entre outros. Mas o meu favorito é de longe este "Edie (Ciao Baby)", dedicado a Edie Sedgwick, actriz e uma das musas de Andy Warhol, falecida em 1971 aos 28 anos, inserido no álbum "Sonic Temple", de 1989. Os Cult ainda andam por aí, e apesar de não estar a par do que têm feito ultimamente, é sempre bom sabê-lo.

Menções honrosas: China Crisis, The Church, The Style Council, Captain Beefheart, Alien Sex Fiend - é só clicar nos "links" para saber do que se trata.


Sem comentários: