segunda-feira, 2 de junho de 2014

E o meu dinheiro, pá?


Tudo bem, não me vou fazer de anjinho e dizer que "não sabia" que era assim, ou que ignorava este problema. Um novo "problema", daqueles que por vezes aparecem em Macau, e que tornam o território numa espécie de balão de ensaio para os "fenómenos" antes que estes cheguem ao Entrocamento e sejam ali exibidos em estreia mundial. Já tinha ouvido falar, sim, que é difícil levantar dinheiro das caixas multibanco, ou ATM se preferirem, nos Domingos à noite ou nos dias feriados, especialmente se cairem numa segunda-feira, como foi hoje o caso. Mas de ouvir falar a sentir na pele o incómodo de precisar de percorrer quase meia cidade para levantar dinheiro vai uma grande distância. Uma distância que nem teria importância, que andar até um exercício que se recomenda, mas o pior é quando não nos apetece, e mesmo assim somos obrigados a suar as estopinhas - literalmente - para obter um serviço pelo qual pagamos, e não é apenas em juros, serviços e o diabo a sete: os bancos cobram uma taxa anual pelos cartões de crédito, de ATM e de débito, e no fim o serviço é-nos negado por mera incompetência. E tanta incompetência já começa a cheirar mal.

Ontem foi véspera de feriado do Tung Ng, ou "Barco Dragão" e deixado sozinho em casa, após dispensar o jantar que assinala o festival (quem viu um já viu todos), sou avisado pela minha mulher que "não há bebidas", ou mais precisamente, estas encontram-se em vias de acabar, com o estoque reduzido ao essencial para não morrer de sede. Digo-lhe que vá jantar descansada, que eu logo que acabasse o "post" que estava a dedicar ao futebol mundial ia sair para reabastecer o frigorífico. E assim fiz, quase meia-hora depois, passavam alguns minutos das 8, decidi ir então comprar bebidas, com esperança de poder voltar a tempo de assistir ao Telejornal, e jantar o Bacalhau à Gomes de Sá que estava a meia-hora de forno de ficar confecionado. Pegando na carteira, reparo que tenho menos que dez patacas - é já hábito, uma vez que não gosto de andar com muito dinheiro, e raramente tenho na carteira mais que cem ou duzentos paus. "Não faz mal", pensei eu, "vou até à Rua da Praia do Manduco e levanto uma centena, que chega e sobra". Ingenuidade a minha.

Saio de casa, bem disposto como é hábito, e a primeira que caixa que encontro ao chegar à tal rua é a do Banco da China, que me diz estar "fora de serviço". Tudo bem, pois são apenas dois passos até à nova dependência do BNU, inaugurada naquela zona o mês passado, e fica o problema resolvido. Entro na sempre agradável sala onde se encontram as máquinas (todas deviam ser assim), meto o cartão na caixa, e dizem-me que esta está "temporiaramente sem dinheiro", e perguntam-me "se desejo continuar". Então não filha, quero que me leias a sina, pode ser? Retirei o cartão e mantive a calma: existiam pelo menos mais duas caixas na mesma rua. Fui à primeira, à porta do então mais que encerrado Mercado de S. Lourenço, e levo com a mesma mensagem da anterior: "temporariamente sem dinheiro". Bufo pela primeira vez, e já com o passo apressado vou até ao Banco Tai Fung, quase no fim da rua, perto da Almirante Sérgio. Meto o cartão, digito o código, opto pelo levantamento, escolho o numerário, patacas, tudo bem, parece que finalmente ia ter liquidez. Qual quê, que só têm notas de mil. É aqui que me sai o primeiro "f...-se". Viro a esquina, já com o vapor a quere sair pelo nariz, e entro na dependência do Banco Weng Hang da Av. Almirante Sérgio, onde sou recebido com um simpático "temporariamente fora de serviço, desculpe o incómodo". É aqui que me salta a tampa, cerro os punhos, e antes de deixar a caixa permanentemente KO, lembro-me que existem ali uma câmara apontada para mim. Conto até dez e saio calmamente.

E agora? Completamente teso e já depois de ter tentado quatro caixas na minha área de residência, o que fazer? Começo a andar na direcção do Patane, e em menos de cinco minutos estou na caixa do BCM da Praça Ponte e Horta, já consideravelmente longe de casa. Resultado? "Temporariamente sem dinheiro". Foi aqui que comecei a praguejar, e penso ter inventado pragas novas, combinando os elementos químicos da má lígua e dos males de fígado, desde as partes privadas das mães e das irmãs, até à fidelidade e preferências sexuais de outros familiares dos responsáveis por esta palhaçada. A sério, inventei um novo léxico do insulto e do palavrão. Andei, andei, andei, porra, afinal precisava do dinheiro. E onde fui encontrá-lo? Na caixa do BNU da Rua Cinco de Outubro, aquela que vêem em cima na imagem. E consegui, bolas, sucesso! E pelo sim pelo não levantei quatrocentos paus que me chegassem para hoje, e nem foi necessário, uma vez que nem saí de casa. Decorria ali na 5 de Outubro aquela feira que se tem realizado todos os domingos, e no regresso após levantar dinheiro, tive sorte de não ser interpelado por um dos polícias que ali estava de plantão - é que estava mesmo com cara de quem ia cometer homicídio.

Volto para casa já perto das nove horas, perdi o Telejornal e estava suado que nem um porco, bradando raios e coriscos que o próprio Satanás cobriria os ouvidos de vergonha se escutasse. É assim que a qualidade de vida em Macau vai caindo pelo ralo abaixo; custava muito aos bancos rechearem as caixas multibanco com dinheiro que desse para três dias? O que foi, agora estes chicos-espertos têm algum estudo que determina quanto é que cabe em média a cada um gastar? Se chegamos ao Domingo à noite, precisamos de dinheiro e as caixas estão sem nenhum, o que recomendam que façamos? Liga-mos para V. Exas. e vocês vêm com a chave abrir a loja para nos darem o dinheiro, que é nosso? Já se sabe que nestes fins-de-semana prolongados e o tanas vêm mais turistas, de Hong Kong e da China, e surpresa!, têm cartões com os quais conseguem levantar dinheiro em Macau. Nesta economia tão próspera onde quem mais benificia é quem pratica o capitalismo selvagem, as entidades bancárias têm sido quem tem menos razões de queixa. Deixem lá de ser somíticos, pá. Querem que a gente vos mande também com uma manifestação em cima, ou quê? Só à porrada, sinceramente...






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