Já que falamos do Dia Mundial da Criança, gostava de recordar que no próximo dia 4 assinala-se o 25º aniversário do massacre da Praça Tiananmen, em Pequim. Não é por nada, não, pois apesar de não existir qualquer relação entre estas duas datas, há quem insista em festejar o Dia Mundial da Criança no dia 4 de Junho, e para o efeito reserva o Largo do Senado, a praça principal de Macau, onde até há alguns se assinalava o aniversário do massacre. A razão? Política dizem uns, mas na verdade nunca existiu qualquer directiva de Pequim - a única entidade a quem eventualmente incomodaria uma concentração organizada de gente a assinalar a data - no sentido de desaconselhar qualquer manifestação. Duvido que o regime, que tantas vezes apregoa as qualidades do segundo sistema, acenando a Taiwan com as vantagens de uma eventual unificação sem a perda de liberdades inerentes a um regime democrático e aberto, tolerasse que 100 mil pessoas saissem à rua em Hong Kong para recordar as vítimas do 4 de Junho de 1989, e em Macau não permitisse que algumas centenas de pessoas se juntassem pacificamente numa praça, sentadas no chão realizando uma simples vigília. É graxa, servilismo, sabujice da mais reles, um sermão que ninguém encomendou. Simplesmente vergonhoso.
A recém-criada Associação Consciência Macau, liderada por Jason Chao e Sulu Sou (na imagem), entregou há algumas semanas um requerimento no sentido de levar a vigília ao centro do Largo do Senado, em vez (ou ao mesmo tempo) do local para onde é habitualmente relegada, junto da Igreja de S. Domingos. Mais uma vez sem dar uma justificação clara, o pedido foi recusado, mas Jason Chao insiste que "não existe nenhuma lei ou regulamento que impeça a realização de dois eventos no mesmo local ao mesmo tempo", e prometeu insistir na iniciativa, com ou sem autorização. Isto foi antes das manifestações do último Domingo e de terça-feira, cujo impacto levou o Governo da RAEM a ceder pela primeira vez na sua história de quase 15 anos às reivindicações dos seus participantes, e onde as forças da autoridade revelaram uma tolerância pouco habitual. Para o dia 8, daqui a uma semana, está programada mais uma manifestação com o objectivo de pedir o sufrágio directo e univeral para a eleição de todos os lugares na Assembleia Legislativa, bem como do Chefe do Executivo, mas e se a meio da semana a Consciência Macau mobilizar, digamos, um milhar de pessoas para ocupar o Largo do Senado? É certo que esta é uma "vaca sagrada" do regime, e certamente que aqui os manifestantes não teriam a condescendência do Governo Central, mas como vai o Executivo responder? A não perder, as cenas dos próximos capítulos.
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