Gostei do
artigo de opinião assinado por Kam Suet Leng na edição de hoje do Ponto Final. Kam Suet Leng, se bem se recordam, é professora que se celebrizou nas manifestações do ultimo 1º de Maio devido à sua indumentária, considerada demiasiado ousada por um agente da educação mais conservadora. Sendo que é acima de tudo professora, Kam fala de educação, e neste artigo aborda o tema da Educação Sexual, ou da falta dela. Assumindo que não domina a língua portuguesa, o que vem no Ponto Final é uma tradução do texto original, e tirando um ou outro erro ou parágrafo mais confuso, percebe-se o essencial, e em muitos pontos a sua opinião sobre o tema coincide com a minha, que deixei patente
neste artigo, do mês passado.
Uma passagem parece resumir o essencial, e tem a ver com a receptividade de pais e agentes educativos sobre a inclusão da disciplina de Educação Sexual nos currículos:
Do exemplo acima, vemos que entre a população há incompreensão sobre o significado da educação sexual, mesmo entre a administração das escolas. A própria expressão é um tabu para as escolas. Os directores e responsáveis das escolas estão preocupados, utilizando termos vagos, que a educação sexual sirva de encorajamento aos alunos para que tenham mais conhecimentos sobre sexo, e que a discussão sobre a interacção entre os diferentes géneros encoraje que tenham relacionamentos.
De facto é assim mesmo. Existeainda o preconceito de que a Educação Sexual é uma forma de "ensinar os jovens a ter relações sexuais", o que inibe as escolas de integrar o programa de um modo sério, temendo a não aceitação por parte dos pais. Ainda menos se atendermos ao facto de que a grande maioria das escolas mais conceituadas são privadas, e caras, qualquer decisão menos consensual pode resultar em prejuízos avultados.
Com o que não posso concordar é com uma certa abordagem aos conteúdos de uma eventual disciplina de Educação Sexual:
Durante os primeiros anos do ensino secundário, a educação sexual encoraja os alunos a conviverem entre si e a relacionarem-se em grupo, ficando a conhecer-se melhor a si mesmos e aos outros, estabelecendo relações saudáveis, incluindo com o sexo oposto, e aprendendo comportamentos adequados e técnicas para lidar com os outros.
Aqui não sei se ficou algo perdido na tradução, ou se fui eu que entendi mal. Senão vejamos, os jovens devem interagir entre eles, "incluindo com o sexo oposto"? Será isto sugerir experiências de laboratório? Estamos a falar de Educação Sexual ou de Química? Mais uma vez, peço desculpa se entendi mal, mas isto mais parece um daqueles casos onde eu tenho um cão de raça macho e o meu vizinho outro da mesma raça, mas fêmea, e combinsmos emparelhá-los para que produzam cachorrinhos.
A Educação Sexual deve ser mais do que um "descubra as diferenças" ou de "como funciona". Sim, essa é uma vertente teórica que importa abordar, mas a partir daí usar esse conhecimento teórico na análise de casos práticos, exemplificando com situações da vida real, não deixando de fora qualquer "se" ou "mas", e todas as possibilidades que os jovens na sua iniciação à vida sexual podem encontrar, confome os comportamentos que adoptarem.
Esta parece uma discussão que está longe de chegar a um termo, pelo menos atendendo aos números que a prof. Kam apresenta - menos de 20% das escolas aderiram ao programa da DSEJ. Parece que há ainda um longo caminho a percorrer na alteração das mentalidades, para que o sexo deixe de ser considerado tabú, ou "aquela coisa suja".
Sem comentários:
Enviar um comentário