quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O príncipe e o palhaço


Gostaria de destacar a entrevista do deputado Si Ka Lon a Cecília Lin, com edição de Andreia Sofia da Silva, publicada na edição de hoje do jornal Hoje Macau. O deputado eleito pela plataforma dos Cidadãos Unidos de Macau, de Chan Meng Kam, na qualidade de segundo elemento da lista, prova que nem todos os naturais de Fujian ou seus descendentes pensam da mesma forma que a menina Song Pek Kei, que na semana passada proferiu afirmações de teor xenófobo inéditos nos 38 anos de História do orgão legislativo de Macau. Sendo Si Ka Lon ele próprio um trabalhador migrante, um ex-não residente, devia puxar as orelhas à amiguinha até os pézinhos da moça se levantarem do chão, e ela implorar por perdão, com os olhos cerrados e uma boquinha de agonia, enquanto dizia "toi m'chu! toi m'chu!", que é como quem diz, "desculpa! desculpa! não volto a dizer asneira!" Registemos a passagem da entrevista onde Si Ka Lon fala dos TNR:

"Acho que os trabalhadores locais e os TNR contribuem para a sociedade de Macau e todos têm de ser respeitados. Alguns residentes têm preconceitos face aos TNR mas, pessoalmente, não tenho. Ouço dizer que alguns TNR moram numa casa com mais de 20 pessoas. Não consigo acreditar nisso porque quando cheguei a Macau há 30 anos também tinha esta condição de vida. É inacreditável que passado este tempo ainda haja pessoas a viver assim. Sinto-me triste. Não sei a razão que faz com que existam situações destas, mas sei que na lei há regras para os patrões."

Ora nem mais. Sobre outros temas fracturantes, como a lei sobre a violência doméstica ou a união civil entre pessoas do mesmo sexo, o deputado natural de Fujian diz o seguinte:

"Pessoalmente, concordo com a criminalização pública da violência, mas não concordo que quando uma mulher é vítima e processou o seu marido, ainda tenha de morar com ele. Vimos um desses casos. Uma dona de casa não tinha capacidades de financeiras e teve de morar com o marido mesmo depois de chamar a polícia. O processo já foi entregue ao tribunal há muito tempo, como ainda não há calendário para o julgamento, não tem outra alternativa senão viver com o marido numa casa social. Não gostava de ver esta situação acontecer no futuro. Temos de criar um centro de coordenação da comunidade para tratar de casos semelhantes bem como oferecer centros de abrigo. A questão é que há falta de assistentes sociais profissionais. Além disso, nos artigos da proposta da lei que foi colocada a votação, menciona-se a protecção à coabitação de casais do mesmo sexo. Não tenho preconceitos no que toca aos homossexuais, mas acho que se a proposta de lei for aprovada, estamos a assinar por baixo a legalidade do casamento dos homossexuais."

Touché! Dois e em um. Já tinha dito em surdina que de entre os novos deputados desta legislatura, Si Ka Lon era a jovem promessa, uma pérola entre porcos. Espero que não me tenha enganado, e que esta seja a verdadeira face do deputado-adjunto do popular (e populista) Chan Meng Kam.


Do grupo de deputados que fazem fretes ao Executivo, Fong Chi Keong, Chan Chak Mou, Cheung Lap Kwan, Vong Hin Fai ou Leonel Alves, entre outros mais ou menos dissimulados, mais ou menos eleitos de forma mais ou menos directa, destaca-se Tsui Wai Kwan, o bobo da corte do séquito de adoradores do sistema vigente. Depois de ter dito que a população de Macau não devia reclamar, pois "agora a média de salários triplicou desde 1999", eis que regressa com a língua rubra e limpinha, pronta a cuidar da higiene anal do Governo.

Desta vez o sr. deputado disse a propósito da apresentação das LAG para os Assuntos Sociais e Cultura que o Governo é uma espécie de obra social muito pia e santa, de onde se emanam subsídios capazes de transformar qualquer Gata Borralheira em princesa, e, mais uma vez, a população de Macau queixosa e sem razão nenhuma devia era ficar caladinha, e "dar graças a Deus". Para ilustrar o que diz, TsuI Wai Kwan ofereceu ao sr. Secretário Cheong Ü recortes do jornal Va Kio onde dois idosos elogiam o trabalho do Executivo no combate à pobreza e às desigualdades sociais. Cheong Ü terá ficado triste, ao saber que existem mais três idosos a necessitar de internamento urgente numa instituição vocacionada para os cuidados psiquiátricos: os dois signatários do Va Kio, e o próprio deputado Tsui Wai Kwan.

Sem comentários: