segunda-feira, 8 de julho de 2013

O calor (ainda) não paga imposto

O deus Sol chateia o deus Mercúrio

O Verão chegou em força a alguns pontos do globo, e Portugal não foi excepção. E porque havia de ser? Temos um país convidativo para veraneantes de todas as origens, uma costa magnífica que ganha uma pujança única com o calor e convida ao mergulho, e para o efeito temos um oceano geladinho para quem se queixa das temperaturas elevadas (há quem se queixe do calor e também da água fria, enfim, gentinha esquisita). O sol ainda é uma das poucas coisas boas que ainda não paga imposto, era o que faltava que nos tirassem isso também. Que ilumine o céu nacional em todo o seu esplendor. E nem é preciso insistir, que ele nos dá a honra da sua presença durante todo o Verão. Se não fosse uma simples estrela e fosse dotado de vontade própria, diria que Portugal é o seu país favorito. Chego mesmo a pensar que Portugal devia chamar-se “Portugol”, para rimar com “sol”. Aposto que os músicos “pimba” faziam disso uma mina.

O problema é que por vezes o sol e o calor não dão tréguas, e nos últimos dias os termómetros subiram até temperaturas próximas do limite imposto pela fábrica de termómetros (existem mesmo?). No último Sábado foram registados 43º Celsius em Setúbal, e o resto do país andava literalmente a suar as estopinhas, debaixo de temperaturas acima ou próximas dos 40º. Enquanto os mais bem humorados cantarolavam o tema dos Radar Khadafi “40º à sombra” enquanto estrelavam um ovo no radiador do carro, outros ficavam de cabeça quente e queixavam-se do excessivo calor – já se sabe como é: no Inverno suspiram pelo Verão e dizem que “preferem quarenta graus do que o frio e a chuva”, e depois é o que se vê. No Alentejo chegam-se a atingir valores absurdos, como 45º em locais obscuros como o Alvito e a Amareleja, enquanto o resto da planície alentejana assa numa grelha nunca abaixo dos 40. Ainda bem que não vive ninguém no Alentejo, senão podiam passar mal.

Já passei por temperaturas destas durante a minha juventude lá no rectângulo, e até se aguenta bem. Em casa basta ligar uma ventoinha, na rua é só procurar uma sombra e evitar a exposição prolongada ao astro-rei. Costumo dizer que prefiro os 40º sequinhos de Portugal dos que os 30 de Macau acompanhados dos 99% de humidade (e quase nem há sol). Quando conto isto aos gajos de lá eles não acreditam, mas venham cá ver o que isto é, e da próxima vez que estiverem debaixo dos 43º de Setúbal sorriem e exclamam: “Olá, solinho amigo!”. Mas tenho que admitir que é aborrecido para quem precisa de trabalhar e andar na rua, vestido dos calcanhares até ao pescoço, a destilar suor das axilas e da testa enquanto murmuram palavrões dos mais feios. Sem dúvida que com um calor destes, o melhor mesmo é estar de ferias, de preferência “de molho”. Mesmo ficar apenas por casa é preferível do que “ir à luta” quando a rua parece um inferno. Recomendo aos mais sensíveis que leiam o almanaque Borda D’Agua, e marquem as ferias para os dias mais quentes. Simples. Não precisam de agradecer.

Sempre que há uma vaga de calor, bombeiros e hospitais ficam alerta. Os primeiros por causa dos incêndios, essa maldição que todos os anos deixa o nosso país menos verde e menos bonito, os segundos por causa das vítimas do calor. Assim como há quem não aguente as altas temperaturas e recorra a todos os meios possíveis para se refrescar, há ainda os “heróis” do costume, que mesmo já exibindo quatro ou cinco lesões cutâneas evidentes, teimam que “isto não é nada, é só um calorzinho”. Minutos depois acabam nas emergências inconscientes ou delirantes. Com este clima que requer atenções redobradas, qualquer médico que não esteja a passear de Lamborghini no Guincho ou no iate com a enfermeira boazona emite recomendações que convém levar a sério: beba mais água, evite exposições demoradas ao sol, não permaneça na praia entre o meio-dia e as quatro da tarde, use creme protector, evite bebidas alcoólicas, etc. (Por acaso não entendo porque é que o Dr. Francisco George insiste naquela barba espessa, mesmo com este calor. Brrr…).

Como são apenas “recomendações” e estamos aqui a falar dos portugueses, há quem se esteja nas tintas, confiante na sua imortalidade ou derme impermeável, e que os males “só acontecem aos outros”. Não sei porque raio alguém se decide embebedar com um calor infernal, habilitando-se a suar e cheirar mais a bode do que o habitual. Interessante seria estudar a psicose daqueles indivíduos que “trabalham para o bronze”, expondo-se semi-nus ao sol durante as horas mais críticas, besuntandos com cremes que não só não os protegem dos raios ultravioleta como ainda os ajuda a assar melhor, como se fossem um frango no espeto. Será que aqueles cromos que acabam as sessões de tosta com os óculos escuros marcados no rosto ou o bikini nos ombros e todo o resto escurecido não se cansam da figura triste que fazem? Parece que foram pintados à pistola. Bem, se pelo menos se deve escutar a opinião dos técnicos de saúde, que só querem o nosso bem, esta é uma delas. Goze bem o calor, divirta-se, mas não se esqueça que o sol se pode tornar num inimigo invisível. Mesmo assim dava tudo para ter um Verão desses por aqui. Não querem trocar nem nada?

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