sábado, 27 de julho de 2013

Liberdade para que te quero


A crise em Portugal parece afectar todos os quadrantes da sociedade, e a falta de perspectivas de um futuro melhor começam a pôr em causa alguns dos valores mais prezados pelos portugueses, como o da liberdade. Nos anos 90 viram o fim do Serviço Militar Obrigatório, uma vitória para quem considerava anti-democrático obrigar os jovens a fazer a tropa, mesmo contra a sua vontade. Anos depois, e perante os números galopantes do desemprego, foram cada vez mais os que se voluntariavam para os ramos da armada, em busca de tecto, comida e roupa lavada, além de uma perspectiva de carreira, mesmo que modestamente remunerada. A subversão de valores que antes levava a juventude a encarar a vida militar como um obstáculo aos valores da paz e da liberdade e agora a considerava "um mal menor" levou mesmo a que o Ministério da Defesa começasse a impôr certos limites. É verdade que a carreira militar não exige um elevado grau de inteligência ou aptidão, mas da fome rapidamente se passou à fartura, e não há vagas de sargento que cheguem para todos.

Mais grave é o que passa agora nas prisões propriamente ditas; Portugal tem actualmente 14 mil reclusos, e desde 1998 que a população prisional não crescia tanto. A razão é a mesma de sempre: o mundo lá fora não está para que se abra mão de um lugar onde dormir, mesmo que se trate de uma cela, e três refeições diárias garantidas, sem que seja preciso preocupar-se com a barriga a dar horas e a carteira vazia. São cada vez mais os reclusos que optam pelo Regime Aberto, modalidade que lhes permite visitar periodicamente os familiares, do que a liberdade condicional, que implica procurar um emprego que pague as contas que na prisão não existem - pelo menos para eles. O número de detidos que cometeram pequenos delitos por "não terem um sítio onde dormer" é cada vez maior, e torna-se preocupante que o cárcere se começe a tornar uma opção à luta cada vez mais desgastante que se tem tornado o cotidiano. E assim vamos tendo um país com cada vez mais tropas e presidiários, que preferem a dureza da vida do que uma vida na dureza. Como ninguém vive do ar que respira, mesmo que seja puro, nem do canto dos passarinhos, é caso para perguntar: do que vale esta liberdade?

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