segunda-feira, 15 de julho de 2013

Viscosa e formosa


Rastejar, rastejar, e a pele revigorar

Há uma expressão popular deliciosa que nos diz “o que arde cura, o que aperta segura”. Apesar de não ser uma verdade absoluta, é aceite pela generalidade que grande parte do que nos ajuda a sarar as maleitas nem sempre é agradável ou confortável. A indústria da cosmética e o seu ramo dos tratamentos de beleza leva esta evidência a um novo patamar, e a regra de ouro parece ser “o que mete nojo embeleza”. Desde caca de galinha a saliva de andorinha ou esperma de bovino, a gama de produtos e tratamentos de embelezamento que contêm ingredientes que os menos informados pensam que é brincadeira é vasta. Na Àsia isto é mais evidente, e o sucesso de produtos cuja leitura da composição seria suficiente para regorgitar o almoço faz-me pensar que deve haver algum engano. Cá para mim há muitos séculos viveu um brincalhão que incutiu nas pessoas a ideia que todas as porcarias, mesmo as mais nojentas, têm uma utilidade qualquer, e que se não são comestíveis, podem ser besuntadas na cara e fazer bem à pele. A malta foi na conversa e agora ainda lhe chama de “sabedoria milenar”.

Os japoneses dão agora mais uma contribuição para a lista de tratamentos de beleza pouco convencionais, e em qualquer salão mais “inn” de Tóquio e arredores há uma corrida a esta revolucionária novidade: caracóis. Sim, os tempos em que encontrar um caracol num consultório médico era sinal de desmazelo, suficiente para puxar as orelhas à mulher da limpeza. Agora os bichinhos que os portugueses tanto apreciam temperado com oregãos são usados no país do sol nascente em tratamentos de rejuvenescimento. E em que princípio assenta a utilidade dos caracóis na sempre difícil tarefa de enganar o tempo e retarder o envelhecimento? Acontece que a ranhoca do molusco renova as células, hidrata a pele e combate os efeitos dos raios solares na pele. O tratamento de uma hora começa com uma lavagem ao rosto, que depois serve de pasto aos caracóis, que “renovam, hidratam, etc.” à medida que vão deixando um rasto de ranho. Segue-se uma massagem e aplica-se uma máscara impregnada com ranho de caracol, para assegurar que as excreções penetram devidamente nos poros da pele – só para ter a certeza que a tromba fica cheia de ranhoca, entenderam? E o preço deste luxuoso tratamento de uma hora? Qualquer coisa como 1800 patacas. Quem tem menos posses pode optar por um piquenique no campo, apanhar uns caracolitos e deixá-los andar na cara enquanto dorme a sesta. Se vive na cidade pode optar por apanhar umas lesmas perto da sarjeta nos dias de chuva. Se os caracóis já largam quantidades respeitáveis de ranho, esperem até os japoneses descobrirem a lesma. Vai ser a loucura. Mas estas qualidades cosméticas do caracol não eram de todos desconhecidas, pois já existe um creme de anti-envelhecimento que contém “essência de escargô”. Agora o que se entende por “essência” deixo ao vosso critério. Beleza, a quanto obrigas.

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