quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sons da "silly season": Abraço a Moçambique


Estávamos nos meados dos anos 80, mais precisamente no Verão de 1985, e os Dire Straits estavam no topo de vendas em Portugal com o seu álbum “Brothers in Arms”, o magnum opus da banda de Mark Knopfler. Entretanto a ex-colónia portuguesa de Moçambique encontrava-se devastada pela guerra civil, e o número de refugiados crescia a um ritmo diário, bem como a escassez de alimentos e por inerência a fome. E esta era fome a sério, da Africana. As imagens das criancinhas famélicas e rodeadas de moscas que nos entravam pelos lares através da televisão derretia o coração dos portugueses, ainda para mais tratando-se de um país irmão. E foi assim que nasceu o projecto “Abraço a Moçambique”, uma campanha humanitária com o objectivo de amenizar o sofrimento dos moçambicanos. O tema da campanha contou com a colaboração voluntária de várias figuras da música portuguesa, e a selecção dos artistas foi, no mínimo, conservadora. A primazia foi dada aos nomes fortes da música de intervenção e do nacional-cançonetismo, não deixando de fora os clientes habituais dos Festivais da Canção. A música moderna portuguesa ficou timidamente representada por um discreto Jorge Palma, que quase nem se nota não fosse pelo chapéu que coloca na cabeça perto do fim da música, e Rui Veloso, que contribui com um solo de guitarra. A parte de leão em termos de interpretação vai para artistas como Manuel Freire, Lena D’Agua, Samuel, Tonicha, Paulo de Carvalho, Sérgio Godinho, o saudoso RaúI Indipwo, José Mário Branco ou Maria Guinot, que tinha vencido o Festival um ano antes, entre outros. Os mais novos podem encontrar um paradoxo entre esta selecção do passado e os artistas de hoje, podendo mesmo assumir que isto se trata de uma espécie de proto-pimba. Os mais velhos, especialmente dos sessenta anos para cima, vão recordar com saudade este que foi o “We are the World” tuga.

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