Duas notícias na imprensa em português do território merecem destaque, e dão que pensar. A primeira diz respeito ao ex-governador de Macau, Vasco Rocha Vieira, que alugou um dos seus apartamentos em Lisboa a indivíduos pouco recomendáveis, que além de usarem o espaço para a prática e exploração da prostituição, não pagam renda há 10 meses. Rocha Vieira e um grupo de residentes do condomínio já apresentaram queixa, e um dos locatários chegou mesmo a ligar para o general ameaçando-o, e com uma enorme cara-de-pau, ainda deixou claro que não pagaria as mensalidades em falta. Noutra notícia a polícia de Macau desmantelou uma rede de prostituição que rendeu aos “empresários” qualquer coisa como 1,3 milhões de patacas num ano. Isto leva-me a pensar que fomos enganados, meus amigos. Tudo o que nos disseram sobre a honestidade, os estudos e o trabalho duro são estórias da carochinha. Afinal parece que o crime compensa. A maior fatia do bolo está no tráfico de droga e de armas, no contrabando e na contrafacção, na lavagem de dinheiro, e claro, na prostituição. Com os conhecimentos certos e um pouco de jeito, ainda se atinge o nirvana da impunidade.
Levemos em conta a prostituição, por exemplo, um negócio milionário. Se muitas vezes as coisas correm mal aos agentes desta profissão liberal sempre tão requisitada, não é apenas pela sua natureza ilegal. É também por falta de formação adequada, que leva a que se pratique com amadorismo. É necessário que de uma vez por todas se dotem os trabalhadores desta indústria dos conhecimentos e das técnicas que façam com que os negócios corram bem para todos, e que muitos não acabem na prisão, cortados às postas no lixo ou dentro de um saco cheio de pedras no fundo de um rio, É preciso elevar a mais velha profissão do mundo a um estatuto académico. A profissionalização tão urgente não pode ser feita nas ruas. Assim vamos levar isto a sério e deixá-la a cargo das universidades. Sim, é preciso um curso superior de Prostituição.
O curso de Prostituição, que poderá ser completado em quatro anos (ou três com o acordo de Bolonha) estaria ao acesso de maiores de 18 anos, sem limite máximo de idade – nunca é tarde para aprender. Os formandos seriam preparados para enfrentar o difícil mundo do sexo remunerado, apetrechados de conhecimentos teóricos e técnicos que transformariam uma actividade tantas vezes humilhante e decadente num emprego como outro qualquer, e bastante mais atractivo aos jovens que transitam do ensino secundário. Teria o currículo mais completo e eclético da História do Ensino Superior, com cadeiras que bebem da inspiração de outras actualmente administradas, como a medicina (Contracepção e Prevenção de Doenças Infecto-Contagiosas), cirurgia estética (Cirurgia de Reconstrução do Hímen), da farmacêutica (Afrodisíacos e Intoxicantes) da pintura (Maquilhagem de Bordel), do teatro (Simulação de Orgasmos), e até do direito (Ocultação de Provas, Produção de Alibis e Fraude Fiscal). Além de outras relacionadas com a área da Economia, do Cálculo Financeiro e da Gestão, e nem preciso especificar quais, além da garantida prática de bastante exercício físico.
O curso não requer quaisquer atributos físicos especiais, e pode ser frequentado por todos, desde a loira bombástica ao anão corcunda, graças à vasta oferta de saídas profissionais: prostituição feminina e masculina, proxenetismo, lenocínio, tráfico humano, chantagem e extorsão, serviço de acompanhantes de luxo e pornografia, para os que preferem seguir uma carreira no mundo do espectáculo. Além do horário flexível e outros benefícios, existe o aliciante de se poder trabalhar para o Crime Organizado. Quantos de nós se podem orgulhar de trabalhar para uma entidade patronal “organizada”? Permite ainda viajar pelo mundo e conhecer gente interessante, desde outros profissionais do mesmo ramo, como traficantes de armas, barões da droga e músicos “rock”, e até personalidades do “jet-set”, recebendo convites para as festas privadas de politicos, empresários, atletas de alta competição e dirigentes desportivos.
Outro aspecto aliciante tem a ver com o local onde a profissão pode ser exercida. Avenidas, auto-estradas, casas de passe, bares de alterne, saunas, clubes nocturnos, hotéis, chamadas ao domicílio, banco de trás de um automóvel ou camião, enfim, as possibilidades são infinitas. Como a prática da prostituição não requer qualquer equipamento além daquele com que todos viemos ao mundo, pode-se executar um serviço mais improvisado, ou “rapidinha”, numa casa-de-banho de avião, atrás das dunas da praia ou numa mobília de escritório. Os mais afoitos podem mesmo ganhar uns extras sem recurso à penetração vaginal ou anal. Um “bico” numa retrete pública ou num vão de escada, ou uma simples gratificação manual por baixo da toalha de mesa num restaurante.
A profissionalização da prostituição através da formação académica atrairá certamente um número crescente de jovens, ansiosos por aventura, emoções fortes e oportunidades lucrativas que nunca conseguiriam obter optando por outros cursos mais generalistas. Lembram-se quando os nossos pais nos diziam “já tens um corpinho muito bom para trabalhar”? Aqui a palavra-chave é “corpinho”, portanto toca a fazer uso dele. Uma vez com o canudo na mão, passa-se da marginalidade à prosperidade, e qualquer professional que se preze que seja chamada de “puta” pode a partir daí responder altiva: “Puta não…Dra. Puta, faz favor!”.
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