sábado, 13 de julho de 2013

Bruma-Gate: a sua novela do defeso


Armindo Tué Na Bangna, mais conhecido por Bruma, é um jovem guineense de 18 anos que está a protagonizar a maior novela do mercado de transferências do futebol português. Bruma tinha 12 anos quando o Sporting o foi buscar ao União de Bissau, e fez o resto da formação desportiva nas escolas do clube de Lisboa. Cedo o extremo deu nas vistas nos escalões mais jovens, e rapidamente se procedeu à sua naturalização, que lhe permitiu ser convocado para as selecções jovens. Foi chamado a época passada à equipa principal dos leões, onde deu boas indicações, mas a confirmação chegou recentemente na Turquia, onde termina amanhã o mundial de sub-20, onde Bruma esteve em grande destaque, desperando o interesse de outros clubes por essa Europa fora. Estava encontrada a nova grande promessa do futebol português.

De regresso a Lisboa e em vésperas de se apresentar em Alvalade com vista a nova temporada, estalou a polémica. O representante e advogado do jogador, um tal Cátio Baldé que saíu do anonimato à custa do caso, alega que Bruma terminou o seu vínculo contratual com o Sporting, mas o clube alega ter um contrato válido até ao final da temporada que se aproxima. Aparentemente o atleta assinou em Outubro de 2011 um contrato válido por três épocas, já com a temporada de 2011/2012 em curso. Agora é tudo uma questão de interpretação: três épocas incluíndo a correspondente na altura da assinatura do contrato, ou mais três além desta. A título de curiosidade, refira-se que o jogador aufere um salário de três mil euros mensais – o que passou a ser muito pouco depois do seu recente desempenho, claro.

A verdade é que Bruma não se apresentou, e o seu representante alega mesmo que alguns elementos da Juve Leo tentaram sequestrá-lo na noite de quinta-feira. O atleta chegou mesmo a refugiar-se na esquadra de Queluz, e encontra-se actualmente “no estrangeiro” enquanto não se encontra uma saída para o impasse. O caso tem feito correr rios de tinta na imprensa desportiva e não só (uma benção para os jornais da especialidade, que vendem sempre menos durante o defeso), e é praticamente o tema de todas as conversas na SAD do Sporting. A equipa principal vai preparando a época que arranca daqui a um mês, tentando passar ao lado do “Brumagate”, mas o plantel não consegue disfarçar um certo desconforto pelo impacto mediático da ausência da nova “estrela” que deixa para segundo plano o trabalho dos que se apresentaram ao serviço.

Fala-se de um alegado interesse do FC Porto, nunca confirmado pela SAD portista, mas parece ser ponto assente que Bruma não está interessado em voltar a vestir de verde-e-branco. Não é por uma andorinha que morre a Primavera, e o Sporting nunca conferiu ao jogador o estatuto de “imprescindível”, mas a perspectiva de ver um activo deste valor formado no clube sair a custo zero deixa o elenco leonino arrepiado. O recém-eleito presidente leonino, Bruno Carvalho, tem assim um difícil teste à sua capacidade de liderança, e o exigente tribunal sportinguista está atento, com os adeptos cansados dos sucessivos “tiros no pé“ que as consecutivas gestões do clube teimaram em dar, e deixaram o clube na pior crise de sempre em termos desportivos.

E falando do aspecto desportivo, é fácil perceber porque Bruma insiste tanto em mudar de ares. O Sporting obteve a época passada a sua pior classificação de sempre, ficando afastado das provas europeias, sem uma montra para que o jovem talento se dê a conhecer aos grandes clubes das maiores ligas do velho continente. Apesar da sua juventude, o jogador deu provas de que poderá ser um dos maiores talentos do futebol mundial num futuro próximo, bastando que trabalhe mais e retire dividendos da grande margem de progressão que ainda tem. Como adepto de futebol, e independentemente do clube que Bruma venha representar, gosto de o ver jogar, e a sua afirmação, bem como a de outras jovens esperanças, traria benefícios para a selecção portuguesa em termos de futuro.

Resta saber se este jovem cujo protagonismo leva inevitavelmente a uma dose de deslumbramento, o que é normal, está a ser bem aconselhado, ou se está a ser usado por gente menos escrupulosa, que vê nele uma oportunidade para facturar dinheiro fácil e rápido. É do conhecimento geral que enquanto os pés chutam a bola, os livros ficam na prateleira e os bancos escola são deixados para trás, e o que sobra em elasticidade muscular falta muitas vezes em elasticidade cerebral. Alguns destes “craques” pouco mais sabem além do futebol do que assinar o próprio nome, muitos são os que caem no conto do vigário, e mais tarde acabam reduzidos à dimensão das letras pequeninas no fim do contrato que não leram mas lhes foi dito por quem “de confiança” que assinassem. Para bem do Bruma, que já encanta os amantes do desporto-rei, espero que não seja ele mais um desses casos.

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