segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sombra de pecado


A revista TIME, uma das mais antigas e respeitosas publicações da actualidade noticiosa e da reportagem, está no centro de uma polémica que se pode considerar, no mínimo, engraçada.E nem é preciso abrir a revista para perceber a razão, pois o “escândalo” tem a sua origem logo na capa. Acontece que esta semana é o Papa Francisco que faz a capa da TIME, com excepção dos Estados Unidos, onde a honra vai para o malogrado Trayvon Martin, o tal adolescente assassinado por um vigilante, tornando-se no sabor do mês. Na capa vemos a imagem do sumo-sacerdote tapando o logotipo da TIME, e logo por azar a sua iminente cabeça cobre a letra “M”, deixando de fora as duas extremidades superiores, dando a ideia que o Papa tem um par de corninhos. Ainda por cima nesse dia a malta do grafismo resolveu colorir de vermelho as letras. Chifres pequenos, aguçados e vermelhos, uma imagem que os mais crentes associam normalmente ao Diabo. Uma heresia das grandes. Oh, a humanidade.

Atendendo aos pergaminhos de publicação séria de que TIME usufrui, quero acreditar que se trata apenas de uma coincidência, e no texto que acompanha a imagem do líder da Igreja Católica lê-se “The People’s Pope” – o Papa do Povo, e não “eis o Anti-Cristo em pessoa” ou algo que dê a entender que se está a querer denegrir a imagem do bom Chico, que para Papa até é fixe e mais facilmente identificável com as pessoas normais. Mas sem dúvida que o “boneco” do Papa-chifrudo que algum desocupado se lembrou de identificar (eu próprio precisei de ler a notícia para perceber a origem da controvérsia) é mais que suficiente para alimentar os adeptos de uma boa teoria da conspiração, daquelas “à antiga”. Pois de facto qualquer bom cristão, temente a Deus e convencido de que existem mesmo um Céu e o Inferno, ficará escandalizado com a associação do seu Santo Padre ao pútrido mafarrico, mesmo que acidental. Afinal o Papa foi escolhido por Deus para o representar entre os mortais, e…mas esperem, foi escolhido por Deus? Literalmente, de papel assinado, reconhecido e depositado no cartório? Não? Bem, assim já não digo nada. Tanto pode ser apenas uma questão de enquadramento da imagem na capa, ou o próprio Satanás a piscar-nos o olho. Lagarto, lagarto, lagarto.

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