terça-feira, 16 de julho de 2013

O que faz falta é um pontapé no rabo da malta


Quer mesmo as "suas responsabilidades"? Olhe que não, sr. ex-PM, olhe que não...

Deixando a TV ligada na TDM ou na RTPi sempre que estou em casa, nem que seja para “dar ambiente”, dou por mim a assistir a um ou outro programa mais ou menos interessante (e não são tantos como desejaria), ou a “ouvir” as notícias. Rui Zink tinha razão quando falava do carácter fónico da televisão; às vezes consegue-se assistir a um programa inteiro e perceber tudo sem olhar para a imagem. O que me deixa estupefacto é assistir à rubrica do comentário político do Telejornal, que convidou para comentadores residentes Nuno Morais Sarmento e José Sócrates. O primeiro queria obliterar a RTP quando esteve no Governo em 2002, tornando-a em “serviço público” na acepção do termo, revolucionando conteúdos e acabando com a publicidade, uma fonte de receitas essencial para qualquer média. Sócrates deixou o país à beira da bancarrota (ou pelo menos deu um notável contributo para tal) durante os seis anos que foi primeiro-ministro, e agora critica o actual Executivo, agindo como virgem ofendida perante o actual estado das finanças públicas, como se não tivesse nada a ver com isso. Dois exemplos de como a memória pode ser curta, convocar estes dois cromos para fazer comentário político. Bem diz o povo: “quem não os conhece que os compre”. E por falar em comprar, parece que estes comentários são pagos. Um cachet para debitar banalidades e evidências que qualquer adulto semi-alfabetizado e não esclerosado diria (isto exclui o Mário Soares à partida, portanto). Olho para isto e causa-me estranheza.

Realmente é na política que reside o calcanhar de Aquiles do nosso país. Portugal não foi feito para ter politicos. Em vez de politicos deviamos ter um rapa – aquele objecto giríssimo que se rodava para escolher os palpites do Totobola – que decidisse entre um conjunto de opções para o país, copiadas dos programas do Governo da Alemanha, França ou qualquer país escandinavo. Termos politicos é inútil, dispendioso e faz mal ao fígado. Desconfio que os gajos às vezes fazem mal só para nos irritar, para que os odiemos e não nos apeteça entrar para política para ser como eles, e andarmos à compita pelo poleiro. É preciso mais do que coragem para entrar para à política: é essencial ter “lata”, uma grande cara-de-pau. E a malta insiste em contribuir com mais achas para a fogueira, injectando noticiários, jornais e tudo mais que nos mantenha a par das actividades dos larápios encartados. O que interessa saber os rendimentos dos politicos, ou se fulano ou beltrano aufere quatro reformas? Vamos lá com paus e garfos de palha tirar-lhes a massa e deixá-los apenas com o que é justo (ou seja, nada)? Enquanto isso os velhos que trabalharam a valer a vida toda nem uma pensãozita de fome podem ter sem levar com os “cortes” que supostamente vão “salvar o país” e por isso são “um sacrifício inevitável”, dizem eles. A propósito, já vos falei da minha proposta de substituir os politicos por um rapa? Já? Ok, então pensem nisso.

Mas o que mais me impressiona é como este estado de coisas leva a um desperdício de inteligência que só de pensar dá vontade de bater com a cabeça na parede e perguntar “como é isto possível?”. Os portugueses em geral são um povo trabalhador, inteligente, talentoso e criativo. Juro que não estou a ser sarcástico, e já não estou a falar dos politicos. Basta ver aquele programa da RTPi, “Portugueses no estrangeiro”, para atestar uma realidade que em Portugal está estrngulada pela grande inércia nacional que nos vai empurrando para o fundo. Os portugueses adaptam-se bem a qualquer cultura, clima e língua, são considerados competentes e dedicados, travam facilmente amizade com qualquer um, e os seus patrões no país de acolhimento adoram-nos. E ainda por cima os gajos que aparecem naquele programa têm empregos jeitosos, vivem bem e muitos arranjam namoradas giras. Mesmo que sejam escolhidos a dedo para dar um elã televisivo e passar uma mensagem de optimismo, são demasiados os casos para desconfiar que são apenas “excepções”.

Apesar dos problemas estruturais conhecidos e dos caminhos sinuosos do sistema educativo, temos universidades de qualidade, professores catedráticos de renome, estudantes que querem adquirir conhecimentos ou dotarem-se de capacidades técnicas que os leve a ser alguém na vida. O problema é que têm que fazê-lo fora de Portugal, infelizmente. Quando o nosso PM, esse pândego, aconselhou os jovens licenciados a “emigrar”, foi mal interpretado, coitado. Ele queria apenas o seu bem. Os que podem e os que têm realmente vontade de trabalhar e ver o seu trabalho ser reconhecido e recompensados nem pensaram duas vezes: bateram a pala e disseram logo “sim, meu comandante!”, e deram o fora. Não podemos censurar Passos Coelho por dizer o que toda a gente já sabe, e no fundo ele até nem disse mentira nenhuma. O seu problema foi ter sido demasiado honesto e politicamente incorrecto (aí está, outra vez a política a atrapalhar). Se calhar aquilo saiu-lhe sem querer, e pensou alto, teve azar.

Quem é dotado de conhecimentos, capacidade técnica amplamente requisitada em qualquer parte do mundo ou talento só faz bem se emigrar. Para quê andar a desperdiçar um dom para depois ser “comido”, e no fim ainda lhe dizem que é arrogante, e que “deve ter a mania que é o maior”? O melhor é virar-lhes as costas e deixá-los a falar para o boneco. E bonecos é coisa que não falta. Às vezes ponho-me a pensar como seria se toda esta malta voltasse de repente para Portugal, e por seu turno os mandriões e os parasitas fossem para o estrangeiro. Podíamos começar pelos jogadores de futebol, por exemplo, cuja profissão é discutível em termos de “contributo”, e alguns auferem salários de deixar a queixo a arrastar pelo chão. Ia ser mau para a nossa imagem, e pior ainda para o “Portugueses no estrangeiro”, mas podia ser que finalmente entrássemos nos eixos. Ou então pode ser ingenuidade da minha parte, e na realidade Portugal tem alguma força magnética que prende os movimentos e entorpece as ideias. Talvez esteja amaldiçoado, sei lá, não excluo nenhuma hipótese.

Olhemos para o exemplo de Macau, que podemos observar a olho nu. Os profissionais da área do Direito encontram em Macau como que um El Dorado, e são sempre bem recebidos. Há escritórios de advocacia em Macau que ainda há pouco tempo só contratavam juristas formados em Portugal. Apesar de um modo geral sermos conhecidos por um país pequeno, irrelevante e falido, a nossa tradição no Direito um dos melhores e mais elaborados do mundo. é respeitável. E o que não faltam são licenciados desta area no desemprego em Portugal, e outros que aceitam trabalhos menores que nada têm a ver com a sua formação para não morrer de fome. Temos engenheiros que sabem fazer estradas e pontes, professores que os alunos adoram (menos em Portugal, lá está), cozinheiros que conquistam o mais exigente dos paladares, gente que pensa e escreve bem, e que diabo,a gora temos o melhor banqueiro do mundo! Outros há que quando não dotados de alguma destas qualidades compensam com uma vivacidade e usam a nossa famosa capacidade de “desenrascanço” ao serviço do bem. Tenho orgulho de ser português. E tenho tanta pena de Portugal.

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