Hoje tocam música celestial, amanhã combatem demónios alados
O comandante da PSP de Macau, Lei Sio Peng, proferiu declarações que me deixam muito preocupado. Preocupado sobretudo com as garantias que são dadas à população por quem está encarregado de assegurar a manutenção da ordem pública. É possível que o trabalho de manter Macau uma cidade pacata e ordeira seja uma tarefa árdua e desgastante, e que pelo meio se rebente um ou outro fusível devido ao excessivo “aquecimento”. Mas estas são situações a que os responsáveis máximos da área da segurança deviam estar atentos, e não hesitar em substituir as lâmpadas fundidas, de forma a que o caminho da harmonia continue iluminado.
O referido comandante referiu-se aos recentes confrontos entre as autoridades e um grupo de manifestantes que exigem a demissão de um membro do Executivo. O conflicto assumiu contornos de “full-contact” quando os tais manifestantes se dirigiam à Colina da Penha, alegadamente em direcção da residência do referido dirigente, tendo sido impedidos pelos bravos agentes da ordem, que aparentemente resistiram a um ataque elaborado e meticuloso dos anarcas do anti-poder, que se alimentam do caos e derramam o sangue de virgens, freiras e velhinhas. Onze polícias ficaram feridos, baixas significativas do lado do exército celestial, de nada valendo a inspiração divina e as espadas de marfim e fogo que empunhavam na defesa do castelo da princesa contra as forças do mal.
E o que usaram estes soldados do demo que reduziu os guardiões do bem à dependência da morfina nos corredores ululantes dos gangrenados de guerra? Gritos. Urros das gargantas carregadas de enxofre directamente nos ouvidos dos galantes homens de farda. Os gritos estão para os robustos cruzados de azul como a kryptonite para o Super-Homem. Nem o homem de aço resistiria à sinfonia do medo, interpretada por Jason Chao, Bill Chou ou Scott Chiang, esses perversos e musculados diabretes. Mas seriam estes peões do xadrez do Império da Justiça assim tão frágeis? Nada disso, assegurou o comandante. Os enviados do chifrudo tinham do seu lado o poder do “kung-fu”. Belzebú corrompeu os jovens heróis de Shaolin para que combatessem do lado do mal. O mundo está perdido. É o fim do mundo em cuecas.
Agora falando um pouco mais a sério (não muito). É incrível como o responsável máximo de um departamento de segurança tão essencial justifica o facto de um batalhão dos seus homens ter ficado combalido no confronto com os “suspeitos do costume”. Os jovens do NMD ou o pontual maluco do Activismo para a Democracia têm o mesmo poder intimidatório que um Woody Allen numa briga de bar na Escócia. O que lhes sobra em sede de protagonismo é exctamente o que lhes falta em jeito para a porrada, ainda mais com polícias armados de escudos e bastões. É condenável que os manifestantes tenham pretendido levar o protesto até à residência da secretária, mas para dar justificações tontas para o comportamento das autoridades, mais vale ficar calado. Gostava de ter assistido ao comandante a proferir estas declarações, pois estaria certamente a cruzar os dedos e a piscar o olho, disfarçando mal a evidência de que estava só a reinar com a malta. Para nosso bem, gosto de acreditar que foi apenas isso. Era só um sonho esquisito, meninos. Vamos voltar ao soninho.
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