segunda-feira, 29 de julho de 2013

La donna é nera


Cécile Kyenge é uma política italiana que fez história ao tornar-se na primeira chefe de gabinete negra de um Governo em Roma. Kyenge nasceu em Leopoldville, actualmente na República Democrática do Congo, em 1964, emigrou para a Itália em 1983 e casou com um cidadão italiano em 1994, de quem tem dois filhos. Oftalmologista de profissão, concorreu em 2004 para o conselho municipal da cidade de Modena, onde reside, e nos anos seguintes ficou conhecida pelo seu trabalho no Fórum Internacional de Cooperação e Imigração. Em Abril deste ano foi convidada pelo executivo liderado por Enrico Letta para ministra da Integração. A sua ascensão política não foi bem vista por alguma da oposição, nomeadamente a dos partidos da extrema-direita, a quem incomoda a sua aparência pouco italiana. Ainda há quinze dias o presidente do partido Liga do Norte, uma plataforma nacionalista e conservadora conhecida pelas suas posições anti-imigração comparou-a com um “orangotango”, e sugeriu que realizasse as suas ambições políticas “no seu país de origem”. Uma nova polémica deu-se ontem, quando durante a realização de um comício, Kyenge foi atingida por bananas atiradas por um desconhecido. A ministra reagiu com desportivismo, e até algum humor, declarando que o ataque “foi um desperdício de comida”. Apesar da pouca importância que Kyenge deu a mais esta demonstração de antipatia, a polícia está à procura do agressor, e está aberto o debate sobre o racismo na sociedade italiana. Na realidade deve ser complicado para os orgulhosos italianos aceitar esta “diversidade” inédita, que chegou até à esfera da política. O que diria Júlio César desta figura tão incaracterística que integra o Governo daquilo que resta do império romano?

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