Pode ser que muita gente não tenha reparado, mas passou por Macau um dos mais talentosos e inovadores músicos portugueses: Sebastião Antunes, líder do agrupamento Quadrilha, banda com um reportório que se pode considerar dos mais ricos do modern "folk" português. Atrevo-me a dizer que são a única banda que toca assumidamente música popular portuguesa de raíz tradicional com uma vertente comercial e generalista, mais acessível a uma mais vasta gama de público, nomeadamente o mais jovem.
Sebastião passou pela RAEM a caminho da Tailândia, onde vai participar de um festival de músicos invisuais. Acho isto um perfeito disparate, pois o facto de ser invisual não acrescenta nem retira absolutamente nada ao talento do Sebastião, que não é nenhum coitadinho, e a não ser pelos cuidados especiais de que qualquer outra pessoa que não possui o sentido da visão necessita, é um músico perfeitamente normal - e para mim é um dos melhores. Nunca me lembro de o ver a pedir para terem pena dele. Mas se este tal encontro de músicos invisuais é uma oportunidade para ele mostrar o seu trabalho a um público mais vasto e muito além das fronteiras do seu país, que seja. Até acaba por ser positivo, enfim.
Conheci o Sebastião, musicalmente falando, em finais da década de 80, na altura que era ainda o vocalista da banda Peacemakers, um projecto mais "pop-rock" que o actual. O primeiro tema que escutei foi "Caixa de Música", um manifesto anti-nuclear que passava amiúde na saudosa Rádio Cidade, da Amadora. Corria o Verão de 1987, e apaixonei-me por esse tema, e a partir daí nunca mais deixei de seguir o Sebastião, apesar da pouca projecção que os Quadrilha, fundados em 1991, têm no panorama musical português. Aliás esta é a primeira vez que o artista vem à Ásia, e é pena que nunca tenham convidado os Quadrilha para vir dar um concerto ao território. Mesmo durante os últimos anos da Administração Portuguesa, quando a banda já tinha créditos firmados.
O Sebastião deu uma pequena apresentação do seu trabalho esta noite na Casa Garden, pelas 21:30. Quer dizer, como é hábito destes eventos "à portuguesa", foram 21:30 mais IVA, e apenas pelas 21:50 o Sebastião subiu ao palco, e durante uma hora encantou o pouco público que ali estava. E quando digo pouco, digo mesmo muito pouco. Quando cheguei em cima da hora anunciada para o espectáculo, dava para contar quantas pessoas lá estavam, 12, e mesmo depois não seriam mais de vinte. Não sei se foi por falta de informação, mas isso não serve de desculpa, pois fiquei a saber apenas pelos jornais, que eram os mesmos para toda a gente. Se foi pela localização, bem, para mim é a cinco minutos a pé de casa, mas para o resto da comunidade portuguesa aqui em Macau não fica propriamente no fim do mundo. Se foi por uma questão de gosto, então esqueçam, que estaria aqui a falar para uma parede e isso agora não me apetece.
Foram poucos mas foram bons, e aplaudiram, e cantaram, e vibraram, e os que não foram não sabem o que perderam. Gostei da apresentação do Miguel Quental, e a música foi o que seria de esperar para quem conhece o trabalho do Sebastião Antunes. Fui acompanhado do meu filho Sebastião, que assim chamei (também) por causa deste Sebastião, e insisti que o viesse conhecer. E não desgostou, o que não é mau para um miúdo de 13 anos que gosta de Rihannas, Justin Biebers e outros que tais. O Sebastião (o cantor) esteve no seu melhor, e nós agradecemos que nos tenha presenteado com aquele (breve) momento de música da boa. Volta sempre, amigão. Um grande abraço deste teu fã de sempre, e também do outro Sebastião.
1 comentário:
Gostei deste teu comentário e assino por baixo. Conheço o Sebastião Antunes há muitos anos! Em termos musicais entenda-se.Num restaurante em S. Pedro de Sintra era onde costumava ouvir e ver A Quadrilha.Um abraço!
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