Terminou hoje a apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2014, com a ida do secretário para as Obras Públicas e Transportes à Assembleia Legislativa, Lao Si Io, onde serviu mais uma vez de tábua de tiro ao alvo. É como se as LAG terminassem com um prémio para os deputados pelo frete que andaram a fazer durante duas semanas. Mas qual é a razão desta animosidade contra o secretário Lao Si Io? Que mal fez o homem para carregar esta cruz? Porque é que lhe apontam sempre o dedo na hora de encontrar um responsável pelos fracassos do Executivo?
Para perceber tudo isto é preciso recuar ao ano da graça de 2007. Estamos no início do ano civil, dois meses após a detenção do secretário para as Obras Públicas e Transportes do I e II executivos, o engº Ao Man Long. A pasta está temporariamente a cargo do próprio Chefe do Executivo, Edmund Ho, que procura incessantemente outro pato, perdão, secretário. A escolha recaíu sobre o presidente do IACM, Lao Si Io, que vem preencher o "lugar do morto". Nos departamentos sobre a alçada da secretaria reina uma ambiente gelado, onde ninguém sabe de nada, ninguém viu nada, ninguém diz nada. Lao foi empurrado para o cargo, ostentando um sorriso amarelo.
É fácil perceber porque é a pasta das Obras Públicas e Transportes tão complicada. Além da própria Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), dirigida de forma imaculada pelo "resistente" Jaime Carion e o infame Gabinete para o Desenvolvimento de Infrastruturas (GDI), que já davam água pela barba, juntou-se a Direcção dos Serviços de Regulamentação das Telecomunicações (DSRT), e a pior de todas, a Direcção dos Serviços de Assuntos de Tráfego (DSAT), dirigida pelo incompetentíssimo Wong Wan, um peso que Lao Si Io carrega nas costas, e isto nem é sequer um comentário matreiro à envergadura do director da DSAT. E já que mencionei aqui a água, estão ainda debaixo desta tutela a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), antigamente conhecido apenas por Capitania dos Portos, a Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (DSMG), a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), e a cereja no topo do bolo, o Instituto de Habitação (IH).
Portanto se há suspeitas de maroscas na atribuição de concessões dos terrenos, a culpa é de Lao Si Io. Se há engarrafamento, foi o Lao Si Io. O ar que se respira é uma porcaria e os níveis de salinidade da água estão altos? Lao Si Io não faz o seu trabalho como deve ser. Habitação económica ou a falta dela? Perguntem ao Lao Si Io. Tufão a caminho, em Hong Kong está sinal 8 mas aqui ninguém se atreve a paralisar a vida da RAEM? Acorda, Lao Si Io. Dos poucos departamentos da sua secretaria que ainda se safam, estarão os Correios e a Autoridade para a Aviação Civil, e isto é enquanto ainda não cai um avião por aí um dia destes. A malapata é tal que para o lugar de Lao Si Io na presidência do IACM foi Raymond Tam, actualmente suspenso e a braços com o caso das campas, onde é o principal arguido, e para o substituir foi indigitado Alex Fong, antigo director do Instituto de Desporto, que deve andar a rezar a todos os santinhos para não levar por tabela após o efeito dominó causado pelo caso Ao Man Long.
E o que sairam destas LAG para as Obras Públicas? Bem, não saíu tanto em soluções quanto entrou em críticas. Lao Si Io é acusado de passividade, mas queriam o quê? Que fosse como Ao Man Long? Vamos por aí fora atribuir concessões, demolir, construir, aplanar, aterrar e todo o resto? Este Lao Si Io é apenas o treinador, enquanto os dirigentes desportivos e directores técnicos estão acima dele, e têm a última palavra quanto a contratações, dispensas, orçamento e até as tácticas a adoptar no terreno de jogo. O que tenho realmente pena e que me preocupa de sobremaneira é a conversa das 1900 habitações económicas. Isto vai resolver alguma coisa? Vai travar a subida dos preços da habitação? Antes pelo contrário. Ao lançar mais ou menos duas mil habitações "económicas" no mercado, estimula-se a aquisição de imóveis, e a habitação não-económica dispara. Das duas uma: ou ficavam quietinhos e a compra de imóveis estagnava, levando igualmente a uma estagnação dos preços, ou construíam 5000 habitações económicas por ano, respondiam à procura elevando a oferta, e amenizavam a especulação. Com decisões deste tipo, os especuladores abriram o champanhe. São eles os únicos que acham que Lao Si Io é porreiro, pá.
Dos deputados que "bateram" no sr. secretário, destacou-se Pereira Coutinho, que no primeiro dia encenou uma espécie de drama, insultando Lao Si Io a torto e a direito. Segurou um cartaz com o caracter chinês "醜", que quer dizer "escandaloso", ou "vergonhoso", e na outra face do cartaz a versão simplificada do mesmo caracter (丑), "no caso do sr. secretário não entender". Isto enquanto lhe dizia que "não tinha vergonha" e apelava a que se demitisse, e fez comparações com Ao Man Long: o outro era corrupto mas fazia alguma coisa, enquanto este não é corrupto mas não faz nada. A atitude do deputado é lamentável, e não sei como é que o presidente da AL, Ho Iat Seng, não o mandou sentar, enquanto bailava por entre os assentos do hemiciclo exibindo a sua peça cómico-trágica. Não só foi uma falta de respeito, como não tem nada de original; o ano passado em Hong Kong, numa sessão do LEGCO, o deputado Raymond Wong Yuk-man, do sector pró-democrata, fez exactamente o mesmo com o Chefe do Executivo da RAEHK, C.Y. Leung. Até o caracter chinês que usou era o mesmo. Só faltava Pereira Coutinho ter atirado bananas ao Lao Si Io para a fantasia ficar completa.
PS: Estes "Ovos podres" do título são um trocadilho com a abreviatura de "Obras Públicas", ou O.P.. E assenta que nem uma luva.
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