terça-feira, 5 de agosto de 2014

You're f***ed


Se há notícias que me deixam em completo estado de schadenfreude, e enquanto outros murmuram "coitadinho" com cara de lebré Basset eu esfrego as mãos de contentamento ao mesmo tempo que solto uma gargalhada satânica, esta é uma delas. Aquele palonço que vemos em cima é Gordon Ramsay, um "auto-intitulado" chefe de cozinha (eh, eh) que agora é notícia pelo facto de estar falido. Nas lonas. Teso que nem um carapau azul. "Mas como pode ele estar falido, se o tipo é bilionário, ó Leocas?" - pergunta o sarapintado leitor. Ora, estes gajos quando tiram o cu da cama e vão estrelar bacon com ovos para o pequeno-almoço da mulher e dos pirralhos enquanto coçam a horta contentam-se com pouca coisa, mas depois da terceira ou quarta estrela Michelin, já têm o rei na barriga. Enquanto eu e o timorato leitor estamos vacinados contra o vírus da tesura aguda crónica, e saltamos aos pulinhos feitos "frijoles" quando ganhamos mil paus nas apostas da SLOT, estes tipos olham para a conta bancária, vêem "só" algumas dezenas de milhões de dólares e entram em desespero: vendem o castelo na Escócia, a colecção de Lamborghinis, e mesmo assim as mulheres deixam-nos, incapazes de pensar como seria serem obrigadas a contentar-se com o segundo Cabernet Franc mais caro das vinhas de Château Lafite Rothschild - isso lá é vida para alguém? E depois daí ao suicídio é um pequeno passo.

Este Gordon Ramsey tornou-se uma celebridade graças a um programa que dava pelo nome de "Hell's Kitchen", mais um daqueles "reality shows" que já deitamos pelos olhos e amaldiçoamos a hora em que as produtoras de televisão descobriram que é mais lucrativo fazer entretenimento indo buscar uns palhaços com a mania das grandezas do que pagar a actores - e as audiências disparam, pois se há algo que as baratas que se sentam em frente à TV gostam é lixo. E neste tal programa o Ramsey comportava-se como um autêntico animal, insultando os concorrentes com impropérios tais que só pode ser tudo mais coreografado que um "ballet" do Bolshoi. Quer dizer, mal este gajo se virasse para mim com aquele focinho de manatim casposo e balbuciasse um daqueles seus "you fookin twat" e o tanas, espetava-lhe dois garfos a fazer de antenas que ficava a apanhar mais canais que um Telsat, e a Fox Network processava-o por concorrência desleal. Penso que nem é preciso dizer que a confecção dos pratos ou a componente concurso do programa não eram o que lhe dava mais audiências.

Mas os dias de Ramsey a comportar-se como uma cavalgadura estão a chegar ao fim; no final do ano passado foi revelado que tinha uma relação extra-conjugal que já durava há sete anos, e ainda á alguns meses foi anunciado que estava a "sofrer prejuízos elevados com a recessão", o escândalo mais recente teve a ver com um esquema de fraude muito curioso: os seus restaurantes compravam comida já pré-confecionada ou mesmo completamente preparada, aqueciam-na na cozinha e vendiam-na com a "marca Ramsey", inflacionando os preços em dez vezes, ou até mais. Com tudo isto os restaurantes do senhor ficaram às moscas, desceu em todos os "rankings", desde os culinários até ao da Forbes, e o Restaurante Gordon Ramsey, que no ano passado figurava no 13º lugar da lista dos melhores restaurantes londrinos, e agora não consta sequer dos 50 primeiros. Resta agora saber se este ordinário, este badameco, este biltre, se levanta da lama onde caíu e volta a enganar os tolos com as suas papas e bolos - não que eles os prepare, no máximo encomenda-os da candonga, que isto é um gajo que se esqueceu como é andar à volta dos tachos e das panelas.

Sinceramente não entendo como é que um chefe de cozinha se torna num milionário. Há quem considere o que eles fazem uma foram de "arte", mas para outros - felizmente a maioria e onde eu me incluo - deviam estar era a fazer comida boa e de chorar por mais. Estes tipos que apaneleiram pratos de carne juntando-lhes como baunilha (?), ou convencem os mais ingénuos que os cubos de caldo instantâneo de legumes "é mais saudável do que os de carne, marisco ou peixe", quando em todos eles a composição é a mesma, 90% de monoglutimato de sódio, um aromatizante artificial, não chegam aos calcanhares do nosso Chefe Silva, por exemplo. Mestres-cuca da fibra do Chefe Silva mostravam como se fazia, davam umas dicas, ensinavam um truque ou dois, apresentavam alternativas económicas, nunca escondiam se era difícil, ou moroso, e o mais importante para eles era que ficássemos de barriga cheia. Arte "per si" é pintura, música, escultura, literatura, poesia, ou seja, comida para o espírito. Essa é a que fica connosco, e a outra é transformada em matéria fecal. Para se comer como gente grande prefiro mil vezes o restaurante das Lamejinhas, na Lançada, ente o Montijo e a Moita, do que o palerma do Ramsey. E para a despedida, uma mensagem para o gajo: "hey, fuck you too buddy!".

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