Sulu Sou Ka Hou, o novo "bad boy" do activismo pró-democracia desta banda escreveu um livro! Isso mesmo, aos 24 anos, este James Dean da política de Macau vai à velocidade da Luz, e de virtual desconhecido há 11 meses, quando concorreu às eleições legislativas de Setembro de 2013 como nº 2 de Au Kam San, é hoje a figura de proa de uma "geração dourada" de jovens democratas, e em 30 de Junho último chegou a presidente da Associação Novo Macau, o mais jovem de sempre. A este ritmo prevê-se que daqui a dois ou três anos escreva um livro de memórias. Para já, Sulu Sou tem no seu currículo um livro, e caso já tenha plantado uma árvore, fica-lhe só a faltar fazer um filho. E pela pinta do moço, com todo aquele charme revolucionário para dar e vender, candidatas não devem faltar.
O livro chama-se, no título em chinês, "六三O的日與夜 一場澳門社運實錄", que se traduz para português como "30 de Junho, dia e noite - um registo dos movimentos sociais em Macau". E foi exactamente a 30 de Junho que Sulu Sou sucedeu a Jason Chao na presidência dos democratas, e pode-se dizer que teve uma ascenção astronómica. Foi um dos organizadores da manifestação contra o regime de garantias para os titulares dos principais cargos públicos da RAEM, que levou à rua dez mil pessoas, e dois dias depois foi a grande estrela de uma outra manifestação junto à AL, nos Lagos Nam Van, que obrigou o Executivo a retirar a proposta de lei e abriu uma crise política sem precendentes nos quase 15 anos desde a criação do região especial administrativa - e isto quando antes muitos duvidavam que existisse por aqui algo parecido com "política". A 4 de Junho, no 25º aniversário do esmagamento do movimento estudantil na Praça Tiananmen, Sulu Sou e o Novo Macau somaram mais uma vitória, ao conseguirem pela primeira vez em 19 anos realizar a vigília no centro do Largo do Senado, com a participação de mais de duas mil pessoas. Começou-se então a falar da eventual saída de Jason Chao da presidência do NMD, para se dedicar a outro(s) projecto(s), e o nome de Sulu Sou foi adiantado como mais que provável sucessor, o que se confirmaria mais tarde.
Temos aqui um jovem para quem o ano de 2014 foi o de toda a graça, graças e gracinhas. Já se tinha destacado nos programas de debate do canal Ou Mun da TDM durante a campanha eleitoral há quase um ano, e aquando do início desta sua projecção como personalidade do anti-sistema poucos foram os que se atreveram a apontar a sua juventude e inexperiência como defeitos. Sulu, ás da retórica a autêntico "animal de palco", tem encabeçado um grupo de jovens "desalinhados" que nos últimos dois anos protagonizaram alguns episódios embaraçosos para a imagem do Executivo, levantando sérias questões sobre a governação e agitando as águas no estagnado pântano da apregoada "progressiva democratização do sistema", questão que parece eternamente adiada, mais por conveniência do que por falta de oportunidades ou vontade da população. E foi com o safanão da juventude irrequieta que esta população, tantos anos "adormecida", conseguiu finalmente despertar, e começa agora a germinar finalmente a semente da consciência cívica - pena ter sido tão tarde, e que para o efeito tenha sido necessário apontar o evidente laxismo daqueles que tanto prometeram, e agora jazem em descrédito. Se me perguntam o que penso desta surpreendente publicação, digo que talvez tenha sido um pouco cedo demais, se bem que já me foi dito que este é um "diário" que o autor escreveu durante o período que separou as três datas de que o livro trata. Pode ser que daqui a pouco mais de uma semana, altura em que organiza em conjunto com os seus camaradas o referendo civil cujas consequências políticas são imprevisíveis, tenha material para um segundo livro.
Este "30 de Junho, dia e noite - um registo dos movimentos sociais em Macau" será apresentado pelo próprio autor no dia 23, Sábado, em local ainda a designar, mas já se encontra à venda! Não me perguntem onde, mas é possível encomendá-lo através
desta página pela módica quantia de 63 patacas. Quem não perdeu tempo foram algumas das figuras públicas locais, com destaque para a classe (semi) política. Mal se ficou a saber da edição do livro, o "panic room" deste Verão em Macau, a Assembleia Legislativa, encomendou uma caixa cheia de cópias, que distribuíu pelos deputados. Dos que foram possíveis contactar, apenas Gabriel Tong diz ter lido o livro, que achou "bastante interessante", mas duas horas mais tarde o deputado e professor de Direito da UMAC retratou-se, dizendo que "foi a maior porcaria que alguma vez leu". Já o deputado Tsui Wai Kwan foi mais evasivo, limitando-se a dizer que "está a par do assunto", e que tem "alguém a ler o livro neste momento", e que mais tarde lhe fará um resumo "sem tantas palavras caras". Dominic Sio diz que está à espera da edição japonesa, enquanto Vong Hin Fai não estava presente no hemiciclo, pois foi em conjunto com Song Man Lei, da Comissão Eleitoral, procurar no livro algo que violasse a lei eleitoral e constituísse matéria para processo judicial. Ficámos a saber que o Tribunal Judicial de Base optou por não se pronunciar, e no despacho a que tivemos acesso lê-se: "não somos críticos de literatura".
Reacções também junto da comunidade portuguesa a residir no território, nomeadamente da imprensa lusófona. Chegámos à fala com um conhecido trio do painel de comentadores do programa de análise do Canal Macau da TDM "Contraponto", e Carlos Morais José, director do Hoje Macau, acha que "o livro generaliza, e não se pode generalizar desta forma num país com mais de mil milhões de habitantes". Paulo Rêgo, por seu lado, encontrou na obra de Sulu Sou "semelhanças com o movimento 'Occupy Central', de Hong Kong", e acha que o autor peca por "algum excesso de pronunciamento". Num tom mais lacónico, Isabel Castro limitou-se a dizer que "ainda não acredita", e "que lhe parece mentira", concluíndo com um "é incrível". Doutro quadrante mas também com ligação à imprensa escrita, o economista Albano Martins diz ter feito apenas uma "leitura vertical" da obra de Sulu Sou, procurando "possíveis episódios de maus tratos a animais". O também presidente da ANIMA afirma que durante a manifestação de 27 de Maio junto à AL, circularam notícias de que o barulho feito pelos manifestantes liderados por Sulu Sou "interferiram com os rituais de acasalamento da patola do Rio das Pérolas, uma espécie nativa da região, actualmente em vias de extinção". Finalmente José Rocha Dinis, director do Jornal Tribuna de Macau, diz que "não leu, nem vai ler o livro". Questionado porquê, respondeu apenas que "estes livros valem o que valem, e hoje em dia com as redes sociais, o Facebook, e tantos anónimos que há pelo mundo virtual, este livro pode ter sido escrito várias vezes, e algumas delas pela mesma pessoa".
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