O maior especialista de saúde pública do Reino Unido culpa a "falência moral" da indústria farmacêutica por não se ter planeado uma vacina contra o vírus do Ébola. John Ashton, presidente da Faculdade de Saúde Pública do Reino Unido, diz que os maiores laboratórios acharam "desnecessário" combater o vírus porque este "estava confinado a África", e por isso não seria lucrativo. O especialista comparou a situação com a epidemia da SIDA nos anos 80, que só se tornou um problema de saúde pública quando se provou que não afectava só grupos de risco como os homossexuais ou os toxicodependentes, e transmitido apenas pelo sexo anal ou pela partilha de seringas. Só que no caso do Ébola, não é necessário papar ninguém ou andar a enfiar na veia agulhas a pingar da gosma extraída dos braços de outros gajos; basta estar no mesmo sítio, tocar o mesmo objecto, passar ao lado na rua ou fechar uma torneira que alguém infectado com o Ébola tocou e depois passar as mãos pela testa para ficar infectado. Shim, shim, é assim mesmo, muito grave.
A comparação com a SIDA é um tanto ou quanto "grossa", senão mesmo "parva". O HIV foi possível de controlar, e o tempo de vida dospacientes, mesmo os com SIDA declarada, permitia uma réstia de esperança nos combate à doença. Já com o Ébola é outra história: quem estiver infectado e comprou bilhetes para o Festival de Música de Macau, o melhor é oferecê-los, ou vendê-los. A estigmatização a que foi vetada a infecção pelo HIV deve ser exercida à milionásia potência com o Ébola. Os grupos de (pouca) gente boa que se desdobravam em esforços para explicar que a SIDA não era como a pneumonia, que se apanhava no ar através dos miasmas, remetem-se ao silêncio perante a marcha do vírus "made in Africa". Não sei que gente é esta que pensa que um vírus escolhe homens, mulheres, crianças, adultos, homossexuais, negros ou chineses - não escolhe nada, e onde há vida ele vai lá para ver se a ceifa, e depois volta a assobiar para casa.
É um bocado foleiro que a indústria farmacêutica, que pôs os insomníacos a ressonar, os maniaco-depressivos a dançar o vira, e os avôs a montarem-se nas avós (ou nas noras...ou nas netas...bem, deixem para lá) fique exposto a uma má imprensa desta natureza, dando a entender que "não faz mal que o vírus se divirta a devorar a pretalhada, coitadinho". Mas não faço uma leitura racista desta enorme prova de materialismo e negligência. Fosse o Ébola andar aí a matar esquimós, que são poucos e só têm para oferecer óleo de foca, que vale pouco no mercado, e a Bayer, Pfizer e companhia limitada não mexia um dedo. Pode ser que os comprimidos no fim tenham um custo de produção de menos de uma pataca por caixa que chega à farmácia ao preço das 300 e 400. Pois é, e então os anos de pesquisa, investigação e todo esse trabalho, não contam? Não foi você que pediu o respeito pela propriedade intelectual?
E ainda a propósito deste tema, o que dizer desta informação dos Centro de Controlo de Doenças em Macau, que dá contra da entrada no último fim-de-semana de "dez cidadãos com passaporte da Guiné-Conakri, Libéria e Serra Leoa", que são só "por acaso" os países onde se deu esta nova epidemia? Isto é normal, e a malta dessas remotas paragens chega aqui ao Sábado sem falta na ordem da dezena inteira de cada vez, ou vêm na promoção "low-cost" da Ebola Airlines? E o que vêm aqui fazer? Jogar? É que não me lembro do nosso CE ter feito uma deslocação oficial a esses destinos (ou a qualquer outro, para esse efeito). Vejam lá se não estão a brincar com coisas sérias, e espero que tenham mesmo a certeza que o risco é "mínimo". É que se me vou deitar com febre um dia destes, e acordo a pensar que sou o D. Quixote enquanto o meu fígado tenta escapar através de um a pústula hemorrágica, monto-me nele e vou a galope deixar um EBOV "super-size" bem no meio das vossas testas de mandril. Ouviram?
Sem comentários:
Enviar um comentário