sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Get a pair, man!


Chui Sai On está em campanha eleitoral para a eleição do Chefe do Executivo, que tem lugar no dia 31, e apesar da falta de animação, debate político, acusações entre candidatos (há apenas um) e tudo o que uma campanha eleitoral sugere, andam aí 5 milhões de patacas "in motion", que é a verba limite à disposição de cada candidato (outra vez, só há um). Mas pronto, o candidato concorre para a reeleição, e nem o facto de concorrer sozinho justifique que fique a casa a contar os dias até às formalidades que o reconduzirão por mais 5 anos como dirigente máximo da RAEM - é preciso fazer campanha. Como a população não tem voto na matéria, nem na eleição, pode haver quem pense que Chui Sai On anda por aí a distribuir miminhos pela maioria dos 400 membros do Colégio Eleitoral que o elegem, mas a verdade é menos romântica, e o nosso Chefe atende a actividades chatas como "auscultar a população" ou "sentir o pulso à cidade", que lhe ficam bem, atendendo a que tem formação superior em Gestão Hospitalar (não é médico mas conhece muitos médicos, ou devia conhecer).

Mas ontem foi um dia diferente, com um encontro entre Chui e alguns elementos locais da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, onde ouviu algumas críticas. Entre algumas mais "denunciadas", destacou-se a do empresário David Chow Kam Fai, sempre um fartote, e já diz o povo e com razão: "homem pequenino, sacaninha ou bailarino". David Chow colocou o dedo em algumas das "feridas" do actual (e também próximo) Executivo, como a "distribuição injusta dos recursos sociais", chamando a atenção para o enriquecemento cada mais evidente e acentuado de uma pequena classe e a o aumento das dificuldades das restantes, com maior incidência nos idosos. Se esta observação foi considerada moderada, David Chow ficou-se por aqui em matéria de diplomacia, e sacou da artilharia mais pesada; chamou os secretários de "incompetentes", o Executivo de "incoerente", e criticou o facto de muitas vezes "o Chefe do Executivo dizer uma coisa, e o Governo fazer outra". Dirigindo-se directamente ao candidato, disse-lhe que "tinha que ser mais forte", e impôr a sua autoridade como figura máxima do Governo. A "performance" de David Chow não devia fazer parte do programa, pois Chui Sai On, tal como Vong Hin Fai e restantes elementos da sua equipa mostraram-se visivelmente melindrados, ao ponto de lhe terem pedido para "não se enervar". Parece que afinal tivemos campannha, mesmo que só por alguns minutos.

David Chow é um personagem caricato desta banda desenhada que é RAEM. Deputado na AL eleito pela via directa em 1996, a sua passagem pelo hemiciclo ficou marcada por intervenções de pendor marcadamente populista, e recordo a cruzada contra os elevados preços da electricidade. Eram célebres as suas arruaças com alguns deputados, que o levavam a abandonar a sala a meio dos debates, e não raras vezes faltava às votações, dando sempre a ideia de que "tinha mais que fazer". Em 2001 a sua plataforma eleitoral, a CODEM, apoiada por um segmento da indústria do jogo, pela Associação dos Aposentados e Pensionistas (APOMAC) e a Associação de Enfermagem, viria a eleger um segundo deputado, o ex-sindicalista Jorge Fão. Em 2005 perdeu um mandato com a aparição em cena de Angela Leong On Kei, que açambarcou os votos do sector dos casinos, e em 2009 passou o testemunho à sua esposa, a adorável Melinda Chan, que mesmo assim seria eleita nesse ano e novamente em 2013. Como empresário é o rosto do Grupo Landmark e do projecto da Doca dos Pescadores, um investimento ambicioso em termos de oferta turística, mas que actualmente é mais conhecido por "aquele elefante branco ali no Porto Exterior" - e é pena, mas é o que acontece quando se dá pérolas a porcos. No âmbito social, é Cônsul Honorário da República de Cabo Verde em Macau, e mantém-se na política actualmente como membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.

David Chow é aquilo que se pode chamar de "um gajo porreiro", um tipo sem papas na língua, amigo do seu amigo, sempre sorridente, e perdoem-me a vulgaridade, mas deve ser óptima companhia para "putas e vinho". Agora se me perguntarem se o levo a sério como político, respondo que não - nada de pessoal, apenas uma questão de princípios. Politicamente falando, não me consigo rever em alguém com ligaç­ões tão próximas aos casinos, e cuja nota curricular inclui na parte das Habilatações Literárias uma enigmática "licenciatura em Bacará" (?). Contudo reconheço ser alguém com o seu espaço, mesmo que este seja um espaço que não me apeteça muito frequentar, e ontem esteve muitíssimo bem ,e resumiu tudo o que os analistas queriam dizer com as análises mais técnicas ao desempenho de Chui Sai On como Chefe do Executivo. Há quem tenha considerado o seu pequeno "ataque" a Chui Sai On uma retaliação pelas dificuldades que tem encontrado na realização do projecto de reconstrução da Doca dos Pescadores, mas seja qual for a razão, disse umas verdades, e umas bem boas, também. Traduzindo a tirada de David Chow para uma linguagem que todos entendem, o que ele quis dizer ao candidato foi: "Mexa-se, homem de Deus! Acorde para a vida, mostre quem é que manda, e que tem um par 'deles' no sítio!". E só por isto tiro-lhe o chapéu. Uma vénia para si, Sr. Dr. Bacará.

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