Pepê Rapazote, nome artístico do actor Pedro de Matos Fernandes, meteu-se num "caldinho" esta semana em que se estreou como apresentador do "Verão Total", um enlatado da RTPi dirigido a emigrantes (?) e uma boa desculpa para encher chouriços durante a época estival, onde as audiências televisivas são sempre baixas. Mas se a ideia era atraír as audiências, Pepê Rapazote fez a melhor propaganda ao programa com a sua, ahem, "honestidade" (penso que será isso, não sei). Acontece que o "Verão Total" oferece 1000 euros num sorteio em que para os espectadores se candidatarem, basta ligarem para um número e fazerem uma chamada de valor acrescentado, e quanto mais chamadas fizerem, mais "cupões" têm para esse sorteio. O vencedor terá o dinheiro transferido para o seu cartão multibanco, e ao explicar o procedimento o actor usa um exemplo nada ortodoxo: "Pode comprar o que quiser, se por exemplo quiser comprar, uh...ba...droga! Desde que o seu "dealer" tenha um terminal multibanco, pode comprar droga, já viu? Isso não é uma coisa maravilhosa? Estes mil euros podem-lhe dar muito jeito". Sem dúvida, a não ser que encha os cornos de coca acima da medida ou ouse fazer um "speedball", e assim ganha ainda uma noite ou mesmo alguns dias no hospital.
É curioso o sorriso sarcástico de Pepê Rapazote quando diz pela primeira vez a palavra "droga", que indica que 1) estava a ensaiar uma tentativa de "humor negro" mas acabou por passar por engraçadinho, ou 2) estava chateada com a produção do "Verão Total" e resolveu f... o programa. Ainda tentou emendar a mão, sugerindo aos espectadores que "não gastassem tudo nessas coisas, ou em vinho" (só faltava desafiá-los a apanhar uma bezana e fazerem corridas na contramão na auto-estrada), mas o "tribunal popular" apressou-se a condená-lo. As opiniões dividiram-se entre o ultraje dos mais conservadores e dos mais velhos, a maioria que estava a ver o programa, e a indiferença dos restantes, que não só tinham mais que fazer do que assistir ao "Verão Total", como ao saber da notícia pelas redes sociais ou pela imprensa desvalorizaram a "piada" do actor - "droga" não é nenhuma novidade, nem um crime hediondo como a pedofilia, que não vicia, pelo menos no que diz respeito às vítimas.
Quem que se quiser drogar, seja porque motivo, não está a fazer mal senão a si próprio. Mas alguns podem agora alegar: "Ah e tal depois fica viciado e rouba para manter o vício e não sei quê", seguindo a tabela do politicamente correcto e daquilo que aprenderam na catequese quando eram pequeninos. Então e os que roubam para comer, ou para pagar a renda, a escola dos filhos, ou as despesas médicas de familiares próximos, como a esposa, os filhos ou os pais? Devemos também "combater" a alimentação, a habitação e os cuidados de saúde? Mas esperem lá, há quem em vez de roubar para suportar estas despesas prefira traficar droga, mas isso faz dele ou dela um "mau elemento", um "criminoso" e um "marginal", apesar da procura ser sempre maior que a oferta - e isto é um facto facilmente verificável, pois os traficantes podem angariar compradores, mas nem precisam de uma ou duas investidas para que sejam estes a procurá-los voluntariamente. Procurem as razões sociais do problema em vez de demonizarem às três pancadas as pessoas, que se calhar até preferiam ter um emprego decente. Já sei, e se em vez de venderem droga optarem por se prostituirem, que assim não prejudicam ninguém? Quem não tiver estômago pode sempre deitar-se à beira da serjeta e ficar à espera da morte.
Eu também acho que é má onda que o Pepê Rapazote tenha trazido esta temática para um programa destinado a velhinhos, que ficam logo indignados, e acham que com estas coisas não se brinca, e ai meu Deus onde é que isto tudo vai parar. De certeza que muitos têm um exemplo próximo para ilustrar como a droga é uma coisa muito má, e a Dona Odete, a sua vizinha do 2º esquerdo, coitadinha, sofreu porque o filho se meteu na merda, roubou-lhe as pratas, empenhou-lhe as jóias e vendeu-lhe o enxoval, e quando ela tentou impedi-lo ainda levou com um soco nos queixos e ficou a líquidos um mês. Pena que o Pepê Rapazote não se tenha explicado melhor, e especificado de que "droga" se tratava. Podia dizer que era "cannabis", que sempre é algo cujo consumo foi já despenalizado, e para os velhinhos e velhinhas para quem "droga" é tudo a mesma coisa dormirem descansados, podia acrescentar que logo que fossem gastos os mil euros em ganza, a bófia caía em cima do "dealer" e este ficava à sombra por uns tempos no Linhó. E até é boa ideia isso do multibanco, pois às vezes surge um "dread" com um "sabonete" a um preço tentador, e em vez de andar com muito dinheiro no bolso fazia-se uma transferência e já está. Mas não me entendam mal - não estou a branquear a boca de cagalhão do Rapazote, que para mim é um palerma (não fosse ele primo da Catarina Furtado). Há coisas que não se dizem: fazem-se, e nem vale a pena explicar que pouca gente vai entender. É como a maçonaria, olha, um excelente exemplo.
Sem comentários:
Enviar um comentário