Uma das curiosidades desta penúltima semana de Agosto foram as declarações do secretário para a Segurança, Cheong Kuok Va, que se disse "disponível" para continuar no cargo durante o segundo mandato de Chui Sai On. Cheong Kuok Va é um dos secretários que se mantém no Executivo desde a transferência de soberania, em 1999, a par de Florinda Chan, da Administração e Justiça, e Francis Tam, da Economia. Depois de 15 anos à frente de uma secretaria que tem sob a sua alçada os vários ramos das Forças de Segurança de Macau, desde a PSP, a Polícia Judiciária, os Serviços de Alfândega, os Serviços de Polícia Unitários, além do Corpo de Bombeiros, o Estabelecimento Prisional de Macau e a Escola Superior das Forças de Segurança de Macau, entre outros.
É uma pasta sensível que Cheong Kuok Va tem dirigido com discrição, se bem que fica difícil quantificar em termos de eficácia. Como
disse aqui durante as LAG do ano passado, esta não é um tipo de secretaria em que o seu responsável possa ir valsando pela Assembleia Legislativa dando conta dos seus projectos, ou que desembuche aos microfones da imprensa qual é o plano ou a medida em tomar em relação a isto, aquilo e acoloutro. Mesmo que alguns dados demonstrem uma decréscimo do desempenho, com o aumento da criminalidade, especialmente de novos tipos como a criminalidade informática, como a extorsão pela internet, e uma nítida desvantagem no combate à droga, as culpas são repartidas por outros mecanismos com responsabilidades nestas matérias, casos da prevenção e reabilitação, a cargo dos orgãos sociais, ou a dissuasão, a cargo da justiça e dos tribunais, e tem sido destes últimos que têm partido as maiores críticas, nomeadamente às penas, que consideram "demasiado leves e pouco dissuasoras". Resumindo, ele só tem que mandar lá a polícia, e não tem poderes mágicos para "criar" um agente por cada vinte ou trinta malandrins a mais que atravessam a fronteira, e nem é culpa sua que a população tenha aumentado a um ritmo que os meios materiais e humanos ao seu dispôr não acompanharam.
Um cargo como o de Cheong Kuok Va, onde é necessário equilibrar egos dispersos e muitas vezes inflamados, e que está sempre sujeito à fiscalização da opinião pública, é um fardo demasiado pesado para carregar durante 10 anos, quanto mais 15, ou como parece agora indicar o próprio secretário, vinte - penso mesmo que isto seria uma espécie de recorde digno do livro "Guiness" de recordes. Imagino como deve ser o dia-a-dia de Cheong Kuok Va, sempre a olhar por cima do ombro, rodeado de guarda-costas, que também acompanham a sua mulher nas compras, os seus filhos na escola, enfim, uma profissão que em certas situações deve causar insónias. Ser o responsável máximo por três corporações tão distintas como a PSP, a PJ e os SPU e ter a tarefa de articulá-las e levá-las de mão dada na mesma direcção não deve ser fácil, e a meio da caminhada ainda lhe puseram em cima o fardo da Comissão de Acompanhamento das Medidas de Dissuasão do Tráfico de Pessoas, onde responde a críticas que chegam de organizações do exterior, que pouco ou nada conhecem da realidade de Macau.
Mas quem não parece alinhar por esse diapasão é o director do Jornal Tribuna de Macau, José Rocha Dinis, que esta quinta-feira assina
um editorial (mais um) onde enaltece as qualidades de Cheong Kuok Va, "o homem certo no lugar certo, o super-polícia, ai que boa notícia meu Deus, que se ele fosse embora eu morria, oh que este Executivo que Chui Sai On começa a formar vai ficar conhecido na História como "os galácticos", de tanta qualidade que até ofusca as vistas". Só posso entender toda esta bajulação com uma eventual imunidade a uma multinha de estacionamento, e acho que já mandei esta "boca" aqui há uns anos, dá-me um sensação de "dejá vu" , mas isto é normal, vindo de onde vem. Cheong Kuok Va pode até ser o melhor secretário ou o melhor agente policial do mundo (e dizem que durante a sua passagem pela PSP era um agente profissional, correcto e honesto), que tanto tempo desgasta a imagem de qualquer um. É a mesma pessoa, com as mesmas ideias, as mesmas medidas, e na hora de criticar já nem é uma tábua de tiro ao alvo: é um passador. Isto não demonstra confiança, nem é uma aposta na continuidade num sector "onde qualquer experiência falhada poderia abalar toda a vida local" - o sr. secretário, na eventualidade de sair, não leca consigo os polícias todos, meu caro amigo. O que isto demonstra é falta de pessoas qualificadas para o cargo, falta de alternativas, tudo por culpa do "buraco" causado pelo distanciamento entre o Executivo as restantes camadas da Administração, acentuada a cada ano desta última década e meia. Por mim eu agradecia a Cheong Kuok Va, que merecia ir descansar.
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