A TDM tem exibido nos Sábados à noite a série "Cidade Despida", e "apenas" com um atraso de quatro anos em relação à sua exibição na RTP. Confesso que aguardei com alguma antecipação esta série, e esperava muito melhor. Muito melhor não, esperava qualquer coisa, e isto não é falar mal por falar, mas as minhas expectativas ficaram mais uma vez defraudadas. Uma série que em 2010 foi nomeada para quatro categorias no Festival Cinematográfico de Moscovo, o segundo maior do mundo, de produção ambiciosa, escrita directamente para TV e desprendida do rigor de algum clássico literário (que afinal parece que é o que sabemos fazer melhor), essas expectativas eram elevadas, lá está. É o velho síndroma do hamburguer no restaurante de "fast food", que parece ser sempre mais apetitoso na fotografia do que na realidade. Por alguma razão o projecto ficou-se por uma mera temporada de 13 episódios.
O problema aqui é talvez esse mesmo: demasiada ambição. Falta a "Cidade Despida" a humildade que tiveram séries como "Polícias", ou a descontração de "Liberdade 21". Esta série comete o mesmo erro de "Maternidade" - é demasiado pretenciosa. Nem as maternidades portuguesas são o "ER" dos norte-americanos, nem a nossa PJ é nenhum "CSI". Acontecesse mesmo uma onda de assassinatos de mulheres em Lisboa, e ninguém falava doutra coisa, nem a tal brigada especial da judiciária à volta da qual se desenrola o enredo conseguia trabalhar em paz. Esta falta de realismo podia ser compensada por alguma ironia ou humor, mas os personagens estão sempre ligados à corrente, em constante "stress", berram, atiram com coisas, gritam na cara dos outros, e nem parece estarem convencidos do que fazem; mais uma vez hesita-se na hora de atirar com uma cadeira por receio de partir uma janela, e quase que se pede licença para dizer um palavrão.
O elenco é do melhor que há na praça, com Albano Jerónimo, António Cordeiro, Pedro Laginha (esse mesmo), Dinarte Branco e...Catarina Furtado. Aqui dá-se a meu ver o maior erro de "casting"; estamos habituados a ver Catarina Furtado a apresentar "shows" onde se dança, canta, ri-se, e a rapariga apresenta sempre um sorriso imaculado, guarda-roupa impecável, e é sempre encantadora, quer com os velhinhos, quer com as criancinhas. Aqui tem que ser má, dura, uma polícia que tem que ser superior à sua condição feminina, e não se deixar levar pelas emoções pelo facto do assassino matar mulheres, blá, blá, blá, sinceramente não dá.
Somos um país pequeno, de brandos costumes, e a nossa maior cidade tem pouco mais de um milhão de habitantes, e sem trânsito faz-se a área metropolitana de uma ponta à outra em meia-hora ou menos. Não somos uma Los Angeles nem uma Nova Iorque, que só cada um têm mais população que Portugal inteiro, não temos tradição de perseguições de automóveis, "serial-killers", Hannibal Lecters nem outras americanices. Ficávamos mais bem servidos sem que fosse preciso encher o garrafão até o deitar por fora. É pena, e pode ser que um dia peguem na mesma ideia, ou em outra parecida, e não abusem do fermento. E por favor, chega de Lúcia Moniz! Não aparece nesta série, mas não seria por aparecer que melhorava, antes pelo contrário.
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